Por Camila Piva
A influência dos modelos estéticos na era das redes sociais e de como driblá-los
Atrelados à maneira como o ser humano evoluiu, padrões estéticos não são exclusividade de hoje. Mas no século 21 tomaram uma nova proporção com o boom do universo fitness e o uso em massa das redes sociais, em que imagens de corpos perfeitos pressionam cada vez mais, principalmente as novas gerações, a atender modelos de beleza.
Foto: Divulgação |
Foi isso que a publicitária Ciça Campos, de 30 anos, sentiu em 2012 ao retornar de um intercâmbio em que ganhou alguns quilos. “Quando voltei, foi a primeira vez na vida que uma amiga chegou para mim e falou: ‘Nossa, você deu uma engordada, né?’. Bem nessa época começou o boom de influenciadoras fitness nas redes sociais.”
Com o objetivo de emagrecer, Ciça passou a acompanhar essas influenciadoras que davam dicas de exercícios e alimentação. “Foi assim que comecei a estabelecer uma relação de paranoia com o meu corpo, tanto pelas próprias influenciadoras já trazerem algumas ideias como por eu ser uma pessoa muito perfeccionista”, comentou.
Ciça é apenas uma das milhões de pessoas que tiveram sua auto imagem afetada pelas redes sociais. Segundo a psicóloga Ana Izabelli Araki, especialista em Transtornos Alimentares pelo Ambulim (IPq- HCFMUSP) e com atendimento focado em imagem corporal e autoestima da mulher, as redes sociais permitem um acesso fácil a outros mundos e também proporcionam um ambiente perfeito para uma vida de “faz de conta”.
“A autoimagem é impactada diretamente pelo fator comparação. Corpos ‘melhores’, casas, dinheiro, trabalho e até família: tudo passou a ser motivo de observação. Para quem não tem uma imagem de si construída, acaba na sugestionabilidade de ser ‘inadequada’. Resumindo, as redes sociais expõem o ‘ter’ e o ‘ser’ que nos falta”, explicou Ana Izabelli.
A necessidade de adequação vem do desejo de pertencimento e acolhimento do ser humano, já que nossa espécie evoluiu em tribos, seja por características físicas ou outros fatores. Por isso, “estar no padrão pode significar ser aceita, ser vista, reconhecida e até acolhida, o que é justamente o que buscamos desde criança”, disse a psicóloga.
Para Ciça, que lidou com um transtorno alimentar ao mesmo tempo em que enfrentou uma depressão, o corpo passou a ser a parte que mais valorizava. “Passei a depositar no meu corpo todas as expectativas em relação ao que eu considerava ser o meu valor, já que estava desempregada e ficava em casa sem fazer nada o dia inteiro.”
É justamente quando começa a haver sofrimento que a pressão estética passa a ser prejudicial para o indivíduo, gerando sintomas de doenças, como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. Cada vez mais, tais comorbidades vêm surgindo associadas, como o caso de Ciça que teve um transtorno alimentar associado a depressão, sendo considerados casos graves ou complexos.
Entre os principais transtornos estão anorexia, bulimia e compulsão alimentar, que afetam milhões de pessoas por todo o mundo, com predomínio de mulheres jovens. Outros grupos também estão mais vulneráveis: homens gays têm sete vezes mais chance de desenvolver compulsão alimentar e estão 12 vezes mais suscetíveis à bulimia, por exemplo, enquanto negros, indígenas e pardos têm 50% menos chance de ter transtorno alimentar diagnosticado, segundo dados da Associação Nacional de Anorexia Nervosa e Transtornos Associados (ANAD).
Além de perfis “tóxicos” nas redes sociais, dietas restritivas podem ser o ponto de início de um transtorno alimentar. De acordo com Ana Izabelli, “a restrição é capaz de afetar nosso comportamento e até as nossas funções cognitivas, como a memória e a atenção, pois nosso cérebro também depende da alimentação para fazer conexões sinápticas”.
Para agir de maneira preventiva e evitar que a pressão estética se torne um problema, um dos pontos importantes é parar de seguir perfis em redes sociais que trazem maior possibilidade de comparação. “Outra coisa que me ajudou foi começar a seguir outros perfis que mostram vidas reais, corpos diferentes”, ensinou Ciça.
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