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Treinar habilidades auditivas melhora bem-estar e pode reduzir chances de demência

10 de Dezembro de 2022

Fonoaudióloga dá dicas de exercícios e explica a função de cada habilidade auditiva

As habilidades auditivas são responsáveis por um conjunto de processos que vão desde a detecção até à interpretação das informações recebidas pelo ouvido. Por exemplo, identificar de onde vem o som ou compreender outra pessoa, mesmo em locais com muito barulho. No entanto, algumas pessoas mesmo ouvindo bem, nem sempre conseguem dar significado àquilo que ouviram.

De acordo com a fonoaudióloga e CEO da ProBrain Ingrid Gielow, 20% da população têm alguma falha nas habilidades auditivas, caracterizando uma alteração no Processamento Auditivo Central.

“O Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) afeta as vias centrais da audição, ou seja, as áreas do cérebro relacionadas às habilidades auditivas. Além de potenciais dificuldades de atenção e de aprendizagem, quem não ouve ou não escuta bem tem mais chances de desenvolver demências, inclusive o Alzheimer”, explica.

De forma simplificada, podemos dizer que ouvir está diretamente ligado ao sentido da audição, ou seja, a todas as informações sonoras captadas pelo ouvido. Escutar, no entanto, tem a ver com o que compreendemos daquilo que ouvimos e como as informações sonoras são processadas pelo nosso cérebro.

“Nossos órgãos sensoriais captam os estímulos do ambiente que serão processados e interpretados no nosso cérebro. Esse processamento depende das experiências sonoras vividas por cada pessoa, e de uma série de habilidades auditivas que são desenvolvidas desde a infância e formam o processamento auditivo central.

Algumas pessoas, por terem dificuldade nesse processamento das informações, não conseguem interpretar de maneira adequada a mensagem recebida. Isso pode atrapalhar não só o dia a dia em uma conversa informal, como também no trabalho. Além de trazer danos para a saúde a longo prazo.

A boa notícia é que é possível treinar essas habilidades com atividades simples, mesmo quem já é adulto.

Na ProBrain criamos o Afinando o Cérebro, uma plataforma que conta com mais de 160 jogos feitos especialmente para treinar a escuta ativa, a memória e a atenção. Com eles, é possível treinar um pouquinho todo dia, de forma prática e divertida, e já perceber os benefícios”, exemplifica Ingrid.

Além disso, ela também explicou a importância de cada habilidade, dando exemplos de treinos para cada uma delas.

Habilidades auditivas: para que servem e como treiná-las

1. Localização Sonora

É a habilidade de identificar a localização de um som no ambiente. Você precisa dessa habilidade para localizar um chamado, manter o foco em uma pessoa falando e localizar de onde vem um som. Isso pode evitar perigos, como um intruso em casa ou um carro na rua.

Como treinar?

Treino de localização direta do som

Material: caixa de fósforos e chocalho

Instrução: com olhos vendados ou fechados, a pessoa precisará localizar e identificar as fontes sonoras (ex: caixa de fósforos acima, chocalho à direita).

Nível fácil: um som após o outro.

Nível difícil: os dois sons ao mesmo tempo.

2. Separação binaural

É a habilidade do cérebro em direcionar a atenção apenas para o que ouvir de um dos lados. Ou seja, serve para direcionar sua atenção apenas para o que interessa. É necessária para você ter foco nos estudos ou nas suas tarefas profissionais.

Como estimular?

Leitura com trilha sonora

Material: texto ou livro para leitura; celular ou rádio com fones de ouvido.

Instrução: faça uma leitura oral enquanto deixa uma música tocando em uma orelha, direcionada por um fone de ouvido comum. Quando ficar fácil, coloque um audiolivro ou podcast, aumentando a dificuldade da competição sonora.

3. Figura Fundo Auditiva
É a habilidade de escolher em qual som você vai prestar atenção, em situações com outros sons presentes ao mesmo tempo. Ela contribui para focar e entender uma pessoa falando em ambientes ruidosos com música, ruído e/ou outras pessoas falando, como ocorre em reuniões, festas, congressos, feiras, shows ou ambientes públicos.

Como treinar?

Material: pessoas conversando em um ambiente com fala competitiva (tipo cafeteria, padaria e restaurante).

Instrução: Preste atenção em uma pessoa falando nesse ambiente (pode ser uma pessoa atrás da outra lendo frases ou palavras para a outra repetir, enquanto vai aumentando o volume da fala competitiva.

4. Fechamento Auditivo
É a habilidade do cérebro compreender o que foi dito, mesmo quando a fala não está clara ou falta alguma informação. Ela é muito útil para entender uma fala distorcida, como em um telefonema com sinal ruim, ou abafada por uma máscara ou capacete.

Além disso, é essencial para deduzir, a partir do contexto, o significado de uma palavra desconhecida, ampliando seu vocabulário, assim como para aprender e compreender palavras em outros idiomas.

Como treinar?

Material: copo de isopor ou caneca de cerâmica, máscara e/ou face shield (a máscara atenua 6 a 8 dB, e junto com o face shield, chega a atenuar em 30 dB o som da fala); trava línguas.

Instrução: Ouça a pessoa falando com copo de isopor ou caneco sobre os lábios (ou máscara) e repita o que entender.

5. Resolução Temporal

É a habilidade de perceber minúsculos intervalos de tempo entre dois sons. Você precisa dessa habilidade para perceber semelhanças e diferenças entre letras com sons muito parecidos, como P e B, T e D, Q e G, e para entender e falar línguas estrangeiras com o mínimo de sotaque.

Como treinar?

Siga as batidas

Material: caneta tipo bic

Instrução: ouvir sequência de batidas na mesa e reproduzir no mesmo ritmo (inspirado na prova de Stambak, que vai aumentando a quantidade de estímulos e a complexidade do ritmo apresentado a cada sequência).

6. Ordenação Temporal Frequência
É a habilidade de perceber e lembrar de uma sequência de sons, identificando se eles são graves ou agudos. Ela é necessária para cantar afinado, identificar sílabas tônicas, para perceber e ter expressividade na fala e identificar o significado do tom de voz que a pessoa usou ao falar.

Como treinar?

Material: jarra com água, colher ou faca de metal e 3 copos de vidro transparentes (para colocar a água com diferentes volumes, produzindo som grave, médio e agudo)

Instrução: Ouvir a sequência de sons e cantarolar ou nomear (ex: nível fácil: grosso -- fino -- fino; fino -- grosso -- fino; nível difícil: grosso -- médio -- fino; etc).

Para aumentar a dificuldade, considere diminuir a diferença de volume de água entre os copos.

7. Memória auditiva
Habilidade do cérebro em lembrar de uma sequência de sons ou palavras, na ordem que foram apresentadas. Ela contribui para conseguir lembrar uma sequência de informações na ordem em que ouviu, prestando atenção em mais de uma informação ao mesmo tempo.

Como treinar?

Material: 4 objetos que fazem som (chaves, sino, côco, chocalho, bichinho de borracha entre vários outros possíveis);

Instrução: De olhos fechados ou de costas, a pessoa deve ouvir sequências de 3 sons, e em seguida, apontar quais foram os objetos, na sequência correta.

Para dificultar, é possível aumentar gradativamente o número de sons.

Com treinamento, é possível melhorar as habilidades auditivas em qualquer idade. E escutar bem melhora a atenção, a qualidade de vida e das relações.

Sobre a ProBrain

A ProBrain é uma healthtech que cria soluções tecnológicas para estimular as habilidades cognitivas e cerebrais da pessoa usuária. Uma delas serve para mapear as habilidades de escuta ativa, o AudBility (www.audbility.com.br), direcionada para profissionais, outra consiste em uma plataforma de jogos online utilizados para estimular essas diferentes habilidades, o Afinando o Cérebro (www.afinandoocerebro.com.br), que é acessível a qualquer pessoa, com parte dos jogos disponibilizados gratuitamente.

Ingrid Gielow é fonoaudióloga, Doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP, Especialista em Voz, Professora de MBA da Fundação Getúlio Vargas e do Centro de Estudos da Voz, Consultora em Comunicação e Desenvolvimento Humano, Cofundadora e CEO da startup ProBrain Soluções Neurotecnológicas para Saúde e Educação, incubada pela Eretz bio / Hospital Israelita Albert Einstein. Vice-Presidente eleita da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia - SBFa (2020-22).

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