Colaboradores -

Pioneiros ajudaram a construir a história da FAAP

30 de Novembro de 2022

Por Camila Piva

Conheça alguns professores que marcaram a trajetória de sete décadas e meia da instituição.

Entre as milhares de pessoas que ajudaram a escrever os 75 anos de história da Fundação Armando Alvares Penteado, destaca-se um grupo de professores. São profissionais de diferentes áreas que passaram boa parte da vida nos corredores e salas do câmpus, ocuparam funções importantes, criaram cursos e deixaram sua marca entre alunos, funcionários e colegas.

O diretor de Comunicação e Marketing da FAAP, Rubens Fernandes Junior, é um deles. Há 49 anos na instituição, ele já passou por vários cargos. “Talvez eu seja um dos poucos dentro da FAAP que tenha uma trajetória contínua, porque estive nela como aluno, monitor, professor iniciante, momento em que comecei a fazer mestrado, depois fui professor assistente, professor titular, chefe de Departamento de Humanidades, vice diretor e depois diretor da Faculdade de Comunicação”, lembra. “Esta instituição me abraçou porque fui construindo uma trajetória aqui dentro e, nos anos 1990, acabei indicado para ser o diretor da escola, que hoje é Centro Universitário.”

Nascido em São Carlos, no interior de São Paulo, Rubens se formou em Engenharia Elétrica na FEI — o que os pais queriam — , mas acabou optando pela comunicação e fez Jornalismo na FAAP. Até hoje, continua dando aulas nos cursos de graduação. “Entrei nesta universidade como aluno em 1973 e logo me encantei por uma disciplina chamada Fundamentos Científicos da Fundamentação e por um professor, que se chamava Isaack Epstain. Já no segundo semestre, eu me tornei monitor dele. Tudo isso foi me seduzindo, do ponto de vista acadêmico. Fiquei encantado com as possibilidades de aula. Quando terminei o curso, em 1976, continuei na FAAP e, em agosto, o Epstain me colocou em sala de aula. Eu lecionava para as turmas de dependência aos sábados. Ou seja, como professor estou aqui desde agosto de 1977, o que é uma vida.”

Rubens conta que, por meio da FAAP, teve oportunidades de ampliar seu repertório acadêmico e passar um tempo na New York University, onde conheceu formatos e equipamentos do curso de Cinema e Rádio e TV e trouxe para o Brasil.

“A FAAP faz parte da minha vida. Não que eu não me imagine flanando pelo mundo sem ela, mas são 49 anos que estou aqui como aluno, professor, coordenador, diretor e, portanto, em uma trajetória que poucos professores e gestores têm”, resume. “Sempre acreditei muito nesse processo de um professor da casa convidando um ex-aluno para ser professor. Acho essa ideia vitoriosa. E são alunos que, como eu, descobriram a pesquisa, a academia dentro do curso. Hoje temos uma porção de ex-alunos aqui, principalmente na área de Comunicação, que foram convidados por mim para dar aula. Fico muito feliz, porque todos estão com seus mestrados, doutorados, suas pesquisas avançadas e, de alguma forma, eu colaborei. Assim como alguém acreditou em mim — aos 25, 26 anos — para entrar numa sala de aula e encarar alunos, acredito que jovens podem ter a mesma possibilidade que tive lá atrás.”

“Entrei na FAAP para ser jornalista de texto e acabei me transformando num crítico de fotografia, porque os caminhos me levaram a isso. Em paralelo, desenvolvi minha trajetória acadêmica. Não tive essa oportunidade nas outras universidades e investi aqui porque era meu lugar, o lugar onde eu queria melhorar, colaborar. Hoje os cursos são muitos reconhecidos, importantes e eu me considero um pedacinho dessa instituição. Do alto dos meus 71 anos, acho que a FAAP contribuiu muito para minha formação, e eu também colaborei no processo de dar uma plenitude acadêmica séria à instituição.”

Outros professores já não estão na FAAP, mas também deixaram sua marca nela. É o caso da artista plástica Regina Scalzilli Silveira, que permaneceu na Fundação por 12 anos. Nascida em Porto Alegre em 1939, ela tem trabalhos espalhados por diferentes lugares do mundo, como El Museo del Barrio, em Nova York, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo e o Museu de Belas Artes de Taipei, entre outros. Participante de várias Bienais, ganhou prêmios importantes, como o MASP em 2013, APCA em 201) e o Fundação Bunge (2009).

“Fui contratada pela FAAP em 73, quando regressei ao Brasil, depois  de um período de 4 anos vivendo e ensinando no campus de Mayaguez da Universidade de Porto Rico. Neste tempo a FAAP era certamente o local mais afinado com minha experiência de artista interessada em novos meios e na inserção da arte numa cena intercultural, pois lá pude me integrar a um ensino que já era bastante experimental e avesso às tradições da academia, exercido por um bom time de artistas e  intelectuais atuando como professores. Isto sem dúvida favoreceu minha abordagem pouco usual das técnicas que ensinava em aulas de gravura, propositalmente hibridizadas com técnicas industriais de impressão. Até o período em que me transferi com contrato de dedicação exclusiva para a ECA-USP, em meados de 1985, na FAAP trabalhei também como Coordenadora do Setor de Gravura, nos ateliers disponibilizados aos alunos em horários livres- onde eu mesma passava numerosas horas semanais, para realizar ali muitas das séries gráficas que compõem meu trabalho de artista, neste período. Nos anos da FAAP tive milhares de alunos, pois sempre mantinha uma carga horária elevada, entre eles um punhado de muito bons artistas -que fizeram carreiras consistentes através dos anos- e que tive o gosto de acompanhar de muito perto, até agora.”

Há também professores pioneiros que já morreram, mas são inesquecíveis. Conheça abaixo alguns deles.

Máximo Barro foi professor, pesquisador autônomo, montador e militante histórico do cinema. Aluno da primeira turma do Seminário de Cinema do MASP, participou em 1952 do 1º Congresso de Cinema Nacional, precedido pelo 1º Congresso Paulista do Cinema Brasileiro. Também colaborou para Coleção Aplauso, onde fez as biografias dos cineastas José Carlos Burle e Agostinho Martins Pereira, do compositor Rogério Duprat e do ator Sérgio Hingst, além da edição do roteiro de O caçador de Diamantes, de Vittoirio Capellaro. Na FAAP, deu aulas por várias décadas e formou uma das melhores bibliotecas de Cinema do Brasil, uma filmoteca e uma mapoteca.

Cineasta apaixonada, Suzana Amaral assinou grandes trabalhos, como o premiado filme A Hora da Estrela (1985), do qual foi diretora e roteirista. Também fez vários trabalhos para canais de televisão, como a TV Cultura, e escreveu dois longas-metragens. Sua formação começou no curso de Cinema da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP). Depois, passou quatro anos fazendo mestrado nos Estados Unidos, na Tisch School of the Arts da New York University. Terminou o curso com o documentário Minha Vida, Minha Luta, que ganhou um prêmio de melhor média-metragem do Festival de Brasília. 

Professora de Cinema da FAAP, Suzana participou como jurada de vários festivais nacionais, como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e internacionais, como os de Havana e Berlim. Em 2009, produziu seu terceiro longa-metragem: Hotel Atlântico, adaptação do livro homônimo de João Gilberto Noll. No mesmo ano, foi homenageada no festival de Cinema de Toronto.

Walter Zanini foi historiador, crítico de arte e curador de duas Bienais Internacionais de São Paulo. Com formação internacional em Artes Visuais, dava aulas na FAAP e na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Viajou para a Europa em 1954 e estudou em Roma. Em 1962, voltou para o Brasil e foi para a USP. Ingressou na área de História da Arte em 1962 e, oito anos depois, começou a dar aulas na FAAP.

Considerado um dos maiores pensadores da tecnologia e da comunicação no século 20, Vilém Flusser cursou Filosofia na Faculdade de Carolina, na República Checa, e depois na London School of Economics and Political Science, na Inglaterra. Por causa da 2ª Guerra Mundial, não pôde concluir a universidade. Judeu foragido do nazismo, perdeu a família em um campo de concentração nazista e veio viver no Brasil, onde passou 30 anos. Nas décadas de 1960 e 1970, trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo. 

Escreveu ainda na Revista Brasileira de Filosofia e ministrou cursos e palestras no Instituto Brasileiro de Filosofia. A convite do professor e engenheiro Milton Vargas, tornou-se professor de Filosofia da Ciência na Escola Politécnica da USP e, por intermédio do jurista Miguel Reale, foi convidado a colaborar no planejamento da Faculdade de Comunicações e Humanidades da FAAP. 

Ali permaneceu de 1967 a 1972, colaborando na elaboração de um curso que formasse profissionais capazes de colocar conhecimentos técnicos, artísticos e filosóficos em prática, algo raro na época. Além de ajudar a formar uma estrutura curricular mais ampla, Flusser estruturou e assumiu as disciplinas de Teorias da Comunicação. 

Ele faleceu em um acidente automobilístico em Praga. Quem cuida de seu acervo hoje é o professor da FAAP Diogo Andrade Bornhausen. “O arquivo Vilém Flusser São Paulo nasceu da vontade de tornar acessíveis as ricas e inovadoras ideias dele para o público brasileiro e latino-americano, constituindo-se como espaço de reflexão e interlocução sobre sua obra”, explicou.

Comentários
Assista ao vídeo