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Superproteção: Dra. Joana d´Arc Sakai explica as causas e consequências desse comportamento

27 de Outubro de 2022

O excesso de proteção, que muitos pais consideram "excesso de amor", pode fazer muito mal às crianças.

Foto: Divulgação/Freepik

Amor demais ajuda a crescer? Fortalece a criança ou a sufoca? A psicóloga e psicanalista Dra. Joana d´Arc Sakai explica que, ao contrário do que muitos pensam, o excesso de cuidado com os filhos pode ser prejudicial. De acordo com ela, a superproteção promove a sensação de aprisionamento e de falta de liberdade para pensar ou agir a partir de si mesmo. “Aprisiona ambos os envolvidos, o superprotetor e o superprotegido. Por quê? Porque nenhum deles age a partir das próprias necessidades ou desejos”, afirma a especialista. Nessa dinâmica, o superprotegido age de acordo com as necessidades do superprotetor, que o detém, impedindo que cresça e se desenvolva. “Você conhece adultos que necessitam de validação em suas ações, que precisam que seu par lhe declare amor diuturnamente? Pois é, esses adultos foram crianças superprotegidas, provavelmente”, explica Joana d’Arc. Nessa linha, ela ressalta que o cuidado excessivo é reflexo de um "amor sem noção". "Ou seja, de um amor aprisionante, algo que pode beirar o patológico" afirma.

E por que isso acontece? Por que superproteger? De quem é a necessidade? Dos pais ou da criança? O que provoca no superprotegido? O que há “por trás” da necessidade de superproteger? Drª. Joana d´Arc Sakai explica que frequentemente a causa do comportamento é o medo que os pais têm de ficarem sozinhos, de não serem importantes. "Eles não permitem, através de atos superprotetores, que a criança cresça, pense criticamente e tenha opinião, o que tornaria o superprotetor desnecessário", detalha a especialista. 

A análise desses fatores, de acordo com a psicóloga, revela no superprotetor alguém inseguro, arrogante, autoritário e possessivo. Nessa dinâmica, o superprotegido é subestimado, desconsiderado em suas capacidades, tornando-se alguém medroso, inseguro, manhoso, dependente, impaciente, e também egocêntrico. "Ambos vivem numa bolha e nela ficam aprisionados", alerta Drª. Joana D'arc: "quem você quer ter como filhos? Seres autônomos ou dependentes?"

A especialista acrescenta que o superprotetor superprotege porque não está bem internamente e só percebe o mundo como perigoso, ameaçador. "Sim, o mundo é perigoso, mas não se pode ficar refém disso", diz ela. "Essa mensagem informa à criança que não é seguro se afastar do superprotetor, notadamente os pais. O mundo, a vida, são perigosos, desafiadores e estão longe de ser um conto de fadas que essa bolha sugere".

Dra Joana d’Arc ainda lembra que a culpa pela ausência na vida da criança também pode levar à superproteção e ao consumismo. Segundo ela, alguns pais não estão certos de seus papéis e, pela culpa, tentam se fazer presentes através de compensações e cuidados excessivos. "Você pode ser alguém muito ausente, se culpar por isso e, ao voltar para casa, supercompensar os filhos com presentes, por exemplo. Não faça isso! Deixe-os viver a saudade, a expectativa de seu retorno e, sobretudo, a frustração por não ter o que querem naquele exato momento", orienta a psicóloga. "O que vai importar é a relação de amor, a qualidade da conexão existente e, nela, a sua segurança de ser pai ou mãe desse filho".

Males da superproteção

A criança superprotegida tem suas capacidades e habilidades desprivilegiadas, desvalorizadas. Por ser vista como uma “coitadinha”, não constrói independência, não desenvolve autonomia e vai manifestando medos (de escuro; de ficar sozinha no quarto; de ir para a casa de um amigo; até medo de aprender a ler e a escrever). Seus relacionamentos são confusos, com dificuldades cotidianas (falta de iniciativa, reclusão e distanciamento da realidade). No futuro, pode se tornar um adulto frágil, egocêntrico e individualista, já que foi criada refém do pensamento de outras pessoas.

A psicóloga Joana d’Arc Sakai destaca que nesse contexto, muitos pais apostam na parafernália tecnológica como “solução”. No entanto, ela afirma que essa não é uma boa estratégia. "A criança superprotegida, por ser insegura, opta por ações reclusas, solitárias, deixando de ter comunicação abundante. Assim, ela segue não acreditando em si. Quando adulta, leva mais tempo para sair de casa, para começar a trabalhar, para dar origem a uma família, por exemplo". Drª Joana acrescenta que, no mercado profissional, esses indivíduos podem ter dificuldades para lidar com as exigências da realidade, pois frustram-se com facilidade. "A superproteção os fez entende que, na vida, não há contrariedes e frustrações, mas só prazer. Perigo!"

O que fazer? 

A psicóloga e psicanalista Joana D'arc Sakai enfatiza que os pais podem e devem mudar alguns comportamentos, abrindo espaço para que a criança se desenvolva. Confira algumas sugestões:

  • Desprivilegiar o consumismo
  • Promover atitudes autônomas (atravessar a rua, pequenas compras, tarefas domésticas, andar de ônibus)  
  • Deixar a criança viver frustrações
  • Incentivar as tentativas, dando espaço para testes, erros e aperfeiçoamento

"Preste atenção no seu ritmo acelerado, que pode lavá-lo a retirar oportunidades de aprendizados dos filhos", alerta a psicóloga. Ela afirma que, ao adotar as posturas mais recomendadas, os pais demonstram que acreditam nos filhos, fortalecendo a autoestima deles e dando-lhes o direito de errar e tentar novamente. "Ensinar um filho a se tornar independente vai depender muito mais dos pais. Superproteger aprisiona, proteger dá espaço para o crescimento", conclui a especialista.

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