Com um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e extremamente exigente, muitos profissionais apresentam problemas de saúde mental no ambiente de trabalho.
Esse sentimento é reforçado por outras situações comuns à sociedade atual, como violência urbana, problemas de trânsito e crises econômicas que dificultam que as interações positivas aconteçam.
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Dessa forma, é cada vez mais comum vermos casos de síndrome de burnout caracterizados por estresse emocional e estresse crônico causado por esgotamento físico, emocional e psicológico nas pessoas.
Para evitar grandes problemas, o psicanalista Guilherme Bernardino explica que é necessário compreender os sintomas e compreender alguns dos comportamentos que podem indicar a presença da doença, bem como compreender os tratamentos a ela associados.
Quem é o especialista Guilherme Bernardino?
Guilherme Aparecido Bernardino da Silva cresceu no interior do Paraná e aos 16 anos retornou para São Paulo. Atualmente, reside na cidade de Americana e tornou- se um dos conselheiros mais jovens a se eleger no Conselho Municipal de Saúde.
O Psicanalista tem se dedicado a pesquisar temas pertinentes à saúde pública e saúde mental.
Ao se aprofundar em temas de saúde psicológica, Guilherme busca difundir ainda o conhecimento e informação sobre a importância de realizar tratamentos, terapias e praticar ativamente métodos que ajudam amenizar ou prevenir os sintomas de depressão e estresse que podem ocasionar o burnout.
Para uma maior compressão sobre o assunto relacionado a Burnout, é preciso primeiro compreender um pouco sobre do que se trata essa síndrome que foi categorizada recentemente e vem chamando atenção de muitos profissionais da saúde.
O especialista explica abaixo, as principais questões relacionadas ao assunto a fim de contribuir para a disseminação de informações corretas e que possam ajudar mais pessoas.
Especialista Guilherme Bernardino. | Foto: Arquivo pessoal/@chellefotografa |
O que é síndrome de burnout?
Burnout é um transtorno que se desenvolve devido ao estresse prolongado no trabalho. As pessoas que exigem muito de seu trabalho, são altamente comprometidas e têm um forte senso de dever são vulneráveis ao esgotamento.
Se, além disso, as condições de trabalho forem estressantes, os objetivos inatingíveis e o colaborador ou a comunidade de trabalho não tiverem habilidades e formas suficientes para resolver problemas e conflitos, existe o risco de burnout.
Burnout leve é comum. Cerca de um quarto dos brasileiros com idade para trabalhar são afetados por ela. Aproximadamente 2-3 por cento sofrem de síndrome de fadiga grave.
Existem maneiras eficazes de tratar o burnout. Vale a pena procurar atendimento em um estágio inicial para que o burnout não se torne grave.
O que leva alguém a desenvolver síndrome de burnout?
A Síndrome de Burnout pode ser desencadeada por diversos motivos. Entre os principais estão:
- Submissão por longo período ao estresse no trabalho;
- Exaustão emocional;
- Excesso de cobranças;
- Lideranças abusivas;
- Falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal;
- Excesso de trabalho e falta de descanso ou lazer;
- Conflitos interpessoais com lideranças, chefia ou colegas de profissão;
- Grande volume de responsabilidades;
- Longas ou duplas jornadas de trabalho.
Dentre esses fatores citados, geralmente ocorre a associação de vários juntos, o que condiz com o desencadeamento da Síndrome. Também pode ser comum que a pessoa que sofre com síndrome de burnout também desenvolva outros problemas de saúde, portanto é preciso ficar atento.
Qual a diferença entre depressão, estresse e Síndrome de Burnout?
A depressão é uma doença psiquiátrica, multifatorial, incluindo aspectos biológicos, psicológicos e ambientais. Ela é comumente identificada pelos seus principais sintomas:
- Tristeza profunda;
- Falta de apetite;
- Falta de motivação;
- Ideações suicidas;
- Falta de esperança no futuro;
- Desânimo constante.
Esses sintomas costumam perdurar por longos períodos e podem se manifestar de forma simultânea no indivíduo.
Já o estresse é uma reação do próprio organismo, através da produção de hormônios, principalmente a adrenalina, que possibilita ao indivíduo reagir em determinado evento em suas vidas.
O surgimento do estresse está relacionado a diversos fatores e varia de intensidade de pessoa para pessoa. O Estresse apesar de ser uma condição de fuga ou luta, quando for constante ou em excesso, contribui para o desencadeamento de outras doenças, síndromes ou transtornos.
No caso da Síndrome de Burnout, se trata de um distúrbio emocional, cuja os fatores principais foram descritos anteriormente, e que podem comprometer o indivíduo principalmente nos aspectos profissionais e interpessoais.
Sendo assim, em resumo, a diferença consiste principalmente em a depressão se tratar de uma doença psiquiátrica, carecendo na maioria das vezes de intervenções terapêuticas e farmacológicas.
O estresse é uma reação natural do organismo frente a um evento inusitado, carecendo de atenção psicoterapêutica, principalmente quando for de intensidade e/ou frequência excessiva.
Já a Síndrome de Burnout, uma desregulação emocional, cuja intervenções podem ser psicoterapêuticas, com ressignificações mentais, mudanças de comportamento, manejos adequados das situações interpessoais e/ou profissionais, entre outros, podendo também ser incluído a terapia farmacológica, quando necessário e constatado por um profissional.
A Síndrome de Burnout está relacionada ao cenário de Covid19?
A pandemia do Covid-19 foi sem dúvida, foi uma realidade inusitada na vida de todas as pessoas. O seu surgimento repentino e com grande poder de transmissão acarretou em tomadas de medidas extremas de segurança, como isolamentos, suspensões de atividades profissionais, educacionais, entre outras.
Com isso, uma série de emoções, além do grande número de óbitos e pessoas infectadas, desencadeou grande medo, incertezas, angústias frente à situação atual e futura em diversos níveis, desde a saúde até os aspectos econômicos.
Isso somados à demora para o desenvolvimento de vacinas e descréditos gerados em torno delas, contribuíram de forma significativa no aumento dos casos de depressão, transtornos de ansiedade, suicídios entre outros.
Mas, apesar do Covid não ser um fator exclusivo do surgimento da síndrome de Burnout, esse cenário pode sim ter contribuído para o seu desencadeamento.
É preciso lembrar, conforme citado anteriormente, que vários fatores podem atuar simultaneamente e possibilitar o surgimento da Síndrome.
Levando em consideração que, antes do Covid o trabalhador já tenha vivenciando alto nível de estresse no trabalho, exaustão emocional e desequilíbrio entre a vida profissional e pessoal, o cenário da pandemia, que despertou incerteza, medo e insegurança, podem sim ter contribuído para o aumento desse estresse, das preocupações e abalo emocional desse trabalhador, culminando para o surgimento da Síndrome de Burnout.
Como o departamento de RH das empresas podem identificar e evitar a Síndrome de Burnout em seus colaboradores?
São diversas as ações que um RH pode promover para identificar ou mesmo evitar a Síndrome de Burnout em seus colaboradores.
Dentre essas ações, pode-se citar, acompanhar a gestão e a liderança de cada setor, evitando excesso de cobranças, comportamentos autoritários e abusivos dos superiores.
Promover treinamentos frequentemente para que o colaborador se sinta mais preparado e confiante, além de estimular ações que promovem a integração, lazer, harmonia e bem estar entre todos os integrantes da equipe.
Também é interessante promover campanhas ou programas de acompanhamentos psicológicos para os trabalhadores e estabelecer canais diretos de comunicação, seja anônimo ou não, onde os trabalhadores podem relatar ou mesmo denunciar eventuais problemas que podem se tornarem contínuos ou mesmo se intensificarem.
A Síndrome de Burnout pode estar relacionada principalmente com as gerações de 1981 a 1995?
Primeiramente é preciso ter em mente que, a geração de 1981 a 1995 ou então conhecida como Millennials, são indivíduos que nasceram na era de grande expansão tecnológica, o que levou à criação de grandes esperanças e mudanças nas relações sociais e profissionais.
São indivíduos que, constantemente em contato com as informações, buscam por melhores condições, seja de vida, de saúde ou de trabalho.
Em relação à Síndrome de Burnout, essa geração pode sim ser mais suscetível, uma vez que atuam mais com propósitos e valores pessoais e quando encontra em um ambiente no qual não condiz com essas percepções e pressionados por dificuldades políticas e econômicas, podem sim desenvolver maior possibilidades de desencadear a Síndrome.
Por outro lado, vale lembrar que, os fatores desencadeantes, atuam igualmente para outras gerações, e sendo a Millennials em constante contato tecnológico e de informação, também podem desenvolver estratégias mais eficazes na prevenção da síndrome. Portanto, o termo “relacionado” precisa ser analisado com cautela para não ocasionar generalizações que dificultem os diagnósticos da síndrome.
O que as pessoas podem fazer para tratá-la?
Primeiramente, buscar informações sobre causas, sintomas e prevenção. Tendo informações as pessoas conseguem discriminar os fatores e consequentemente estabelecer estratégias próprias ou buscar soluções terapêuticas que possam lhe auxiliar nessas questões.
Além disso, é crucial que pessoas que identificaram sintomas da síndrome busquem ajuda profissional de psicólogos ou psicanalistas para poder realizar um tratamento adequado para não desencadear problemas maiores no futuro.
A questão da Síndrome de Burnout em relação à nova geração será mais preocupante?
É difícil estabelecer uma análise completa sobre essa questão. Pessoalmente acredito que as novas gerações encontraram um mundo com maiores oportunidades, tendo em vista o complexo aprimoramento tecnológico e científico.
A questão é, como essa geração saberá atuar no meio de tantas opções, será encarada como uma possibilidade ou mais um aspecto que compromete suas responsabilidades, aumentando suas frustrações e consequentemente prejudicando seu estado emocional ao ponto de desencadear cada vez mais a Síndrome de Burnout?
Essas questões precisam ser resolvidas antes que os indivíduos se comprometam de forma negativa com suas ações e escolhas, onde levaria a um cenário pior do que o atual quando se trata de saúde mental dos jovens e pessoas de meia idade.
Portanto, a única forma de determinar isso é sobre como as informações sobre os transtornos e problemas estão sendo passadas para as pessoas. Com mais informação de qualidade, mais pessoas estarão preparadas para lidar com as causas e tratamentos de depressão, estresse e burnout.
Qual é a hora certa de parar e repousar?
Deve haver um equilíbrio entre vida profissional e pessoal. A “hora certa” pode torna-se relativa para cada pessoa, mas o momento em que os aspectos profissionais ou interpessoais relacionados ao trabalho, atingem a saúde mental, a sua vida pessoal e familiar.
Principalmente quando tudo parece “girar” em torno do trabalho, deve ser o momento de parar e analisar as expectativas, os pontos positivos e negativos e a partir dessa análise, adotar estratégias que possam remediar a situação, sejam elas mudanças de percepções, de comportamento ou mesmo a procura profissional.
O mais importante é saber que a saúde vem em primeiro lugar, dessa forma, estabelecer limites próprios pode ser um bom começo para quem está começando a perceber que tem algo relacionado com a síndrome.
Qual a diferença entre ansiedade e transtornos de ansiedade?
A ansiedade é uma reação natural de medo do ser humano que o prepara para situações de perigo real. Em algumas situações, esse estado pode até mesmo ser vital para evitar problemas ou algo mais grave.
Já o transtorno de ansiedade caracteriza-se principalmente pelo excesso de medo, sendo principalmente de forma generalizada para as situações que apresentam perigo irreal para o indivíduo e o paralisam de forma a não conseguir tomar decisões.
Geralmente o transtorno de ansiedade está ligado a pensamentos constantes sobre o futuro e que geram medo devido a incerteza e falta de controle perante o que está por vir. Esse “medo” acaba por impedir que as pessoas que sofrem dele possam buscar ajuda por conta própria.
Considerações finais
É possível concluir que, devido aos diversos fatores do mundo moderno, não houve somente pontos positivos para a sociedade.
Com a facilidade de acesso a informações e notícias através dos canais de mídia tradicional, redes sociais e outros, as pessoas estão cada vez mais expostas a estímulos positivos e negativos.
Dessa forma, longos períodos de trabalho, estresse constante, comparação com estilos de vidas extravagantes mostrados nas redes sociais e muita informação falsa sendo circulada, criam um cenário perfeito para problemas psicológicos como a depressão e síndrome de burnout se desenvolverem.
Mas graças ao trabalho de profissionais como do Guilherme Bernardino, a identificação de sintomas e fatores que podem desencadear esses problemas estão sendo cada vez mais tratadas e disseminadas para o público.
Vale ressaltar a importância de realizar acompanhamento psicológico mesmo quando não há problemas graves. A prevenção e tratamento é a melhor forma de combater os problemas que estas síndromes e transtornos causam e ajudar pessoas de todas as idades a terem uma vida mais equilibrada.