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Esteroides anabolizantes: os perigos do uso não clínico

2 de Setembro de 2022

Médico do esporte Lucas Caseri destaca e importância da orientação profissional

Foto: Divulgação

Muito atribuídos aos perigos e ao mercado clandestino, os esteroides anabolizantes podem ser aliados de profissionais de saúde no tratamento de doenças crônicas ou graves. O problema, porém, está no uso indiscriminado, sem prescrição e orientação médicas, que pode levar a graves consequências no organismo... algumas irreversíveis, segundo o médico do esporte e fisiatra, Lucas Caseri.

Os chamados Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA) são substâncias descobertas na década de 1930 e aplicadas na medicina a partir dos anos 60. “São fármacos que apresentam propriedades anabólicas, de crescimento, por exemplo, aumentando a síntese de proteínas musculares, e propriedades androgênicas, que promovem estímulo ao desenvolvimento de características sexuais secundárias masculinas, como por exemplo de pelos, tom da voz, músculos e padrão de queda de cabelos”, explica o especialista.  

Muitos desses anabolizantes ainda são disponíveis no mercado lícito, como farmácias convencionais, de manipulação, e distribuidoras de medicamentos, mediante prescrição médica em receituário controlado. O médico Lucas Caseri esclarece que “as principais indicações clínicas do uso dos EAA são para perdas de peso e massa magra, catabolismo, que não conseguem ser supridas adequadamente pela alimentação, suplementação e exercícios”.

Essas perdas acontecem quando há um desequilíbrio entre o anabolismo (síntese de massa muscular) e o catabolismo (aumento do consumo corporal, de massa muscular), em geral consequência de doenças crônicas ou graves, quase sempre aliadas à perda dos movimentos ou internação prolongada e a reduzida capacidade de nutrição adequada, com prejuízos na absorção de nutrientes e calorias necessárias para o funcionamento do organismo.

Desta forma, por reduzir o “consumo” (Anti-catabolismo) e aumentar a “síntese” (anabolismo) de proteínas musculares, por exemplo, os EAA ganharam notoriedade e liberação de uso para fins clínicos, uma vez que baixo peso e baixo volume muscular pode aumentar os riscos de doenças e morte”, argumenta o médico do esporte, mas reforça que há efeitos colaterais que podem ser atenuados a devida assistência. 

Apesar de não garantir a ausência de efeitos adversos, o acompanhamento médico com absoluta certeza identifica melhor as pessoas que estão em maior risco, podendo agir precocemente através de uma boa entrevista médica, examinar o paciente, e monitorar por exames complementares laboratoriais e de imagem como ultrassom e ecocardiograma”, orienta Lucas.

Sem prescrição e acompanhamento médico, o uso de anabolizantes pode causar diversos problemas à saúde, alguns irreversíveis. “São fármacos que podem promover aumento do volume de células vermelhas do sangue, chegando a causar trombose, piora do perfil de colesterol, com redução do colesterol “bom” (HDL) e aumento do colesterol “ruim”. Ainda podem promover sobrecarga no fígado, aumento da oleosidade da pele e acne grave, queda de cabelos, aumento da pressão arterial e sobrecarga cardíaca, além de alterações de comportamento como a irritabilidade e a agressividade em quem já é propenso”, alerta o médico do esporte.

Além dos riscos para o organismo, os anabolizantes comprados do mercado paralelo, de procedência desconhecida, podem estar adulterados. Estudos da Polícia Federal e de universidades mostraram que entre 30% e 40% dos esteroides clandestinos apreendidos e analisados quimicamente continham adulterações. As fraudes podem ser relativas à concentração do produto, troca de substância, a ausência dela ou mesmo contaminação por elementos tóxicos, como metais pesados ou microorganismos.

Como a produção de EAA no mercado paralelo não é legalizada e nem regularmente fiscalizada, desde a matéria prima utilizada até o produto final, não há como garantir a qualidade devida do que se está utilizando. Outro problema de destaque é a falta de acompanhamento médico de usuários, que de certa forma, poderia potencialmente evitar efeitos adversos graves. Muitos sinais ou sintomas em medicina demoram a aparecer, e assim, por vezes, quando aparecem, como um infarto ou uma hepatite medicamentosa, pode ser tarde demais”, adverte.

O médico Lucas Caseri acredita que profissionais de Educação Física e nutricionistas são fundamentais para a boa orientação de pessoas em risco de uso indevido de EAA. “Muitas vezes esses profissionais são os primeiros a serem perguntados sobre o assunto, e, assim, uma orientação precoce e adequada pode fazer a diferença, direcionando para redução de riscos. Além disso, médicos, assim como atendem pessoas em uso ou dependência de diferentes drogas como álcool, cigarro, maconha, cocaína, entorpecentes, devem também ter conhecimento para orientação e manejo clinico frente ao uso e abuso de EAA”, destaca o médico.

A melhor conduta profissional é sempre se capacitar e acolher a quem usa, ao invés de somente se declarar ‘contra’ por ‘não concordar’ com o uso estético, demonizar o uso e se recusar a fazer acompanhamento. Uma boa orientação e conduta profissional, no cenário de alta prevalência de uso atual, é uma boa proposta de política de contenção de danos, pois pode fazer a diferença em salvar uma vida”, finaliza.

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