Cultura - Teatro

Balé da Cidade de São Paulo dança obras de John Cage e Schubert em coreografias inéditas

25 de Agosto de 2022

Com criações dos renomados coreógrafos Alejandro Ahmed e Ihsan Rustem, “Sixty-Eight” e “Inacabada” unem experimentalismo e mistério em oito apresentações no palco do Theatro Municipal, com execução ao vivo da Orquestra Sinfônica Municipal

Foto: Stig de Lavor

A dança é o principal foco das apresentações do Complexo Theatro Municipal no mês de setembro. E as razões não poderiam ser melhores: o brasileiro Alejandro Ahmed, conhecido por seu trabalho à frente da Cena 11 Cia. de Dança, apresenta uma coreografia que desafia espectadores - e bailarinos – ao interpretarem a música Sixty-Eight, de John Cage, enquanto o inglês Ihsan Rustem traz um trabalho cheio de mistério e poesia para a bela sinfonia Inacabada, de Schubert. Duas obras separadas em pelo menos um século desde que foram executadas pela primeira vez e que serão regidas pelo maestro Alessandro Sangiorgi. 

“É uma alegria trazer a expertise e competência de coreógrafos como Alejandro Ahmed e Ihsan Rustem, com seus trabalhos consolidados tanto no que concerne às suas propostas artísticas, quanto às suas experiências”, diz Andrea Caruso Saturnino, diretora-geral do Complexo Theatro Municipal. 

“Alejandro Ahmed tem um trabalho absolutamente marcante e estamos lisonjeados com esse intercâmbio com o Balé da Cidade”, afirma Cassi Abranches, diretora artística da companhia de dança do Theatro Municipal. No caso de IhsanRustem, desde “Deranged”, do austríaco Chris Haring, em 2018, o Balé não se unia a um coreógrafo internacional. Ihsan, que também atuou como bailarino em algumas das maiores companhias do mundo, conhecia o trabalho do Balé da Cidade e ficou feliz com o convite para coreografar a Inacabada, que será a sua segunda coreografia na América Latina”, completa Cassi Abranches.

O maestro responsável pela regência da Orquestra Sinfônica Municipal, Alessandro Sangiorgi, reforça como são especiais as escolhas musicais do programa: “É sempre um privilégio e uma alegria reger a ‘Inacabada’ de Schubert, uma das pérolas do repertório sinfônico”, afirma. Franz Schubert faleceu aos 31 anos e deixou essa sinfonia, como seu próprio nome assinala, sem conclusão. Sua primeira apresentação com uma orquestra aconteceu somente 43 anos depois de sua escrita e é a primeira criação em solo nacional assinada por Rustem. 

Impermanência e mistério são alguns dos aspectos que povoam os intrincados e intrigantes movimentos dos 15 bailarinos em cena. A ideia tão humana do que não foi finalizado, do que não foi dito e até mesmo do que não permanece perpassa as diferentes situações apresentadas na coreografia, cuja criação contou com processos dos bailarinos explorando situações pessoais vividas relacionadas ao tema do inacabado e do impermanente, que remetem a finais e perdas. Na tônica da coreografia, movimentos exploram ao máximo a fisicalidade musical de Schubert. “Eu gosto de ver a música nos dançarinos”, resume Rustem, que explora ainda a parceria intrincada e possibilidades teatrais em cena. Figurinos inspirados nos séculos XIX e XX se apresentam muitas vezes incompletos, numa leitura contemporânea dos trajes de época assinados por Cassiano Grandi. A iluminação fica a cargo de Caetano Vilela.

Já Sixty-Eight é uma obra musical escrita por John Cage no início da década de 1990, uma obra sem uma proposição inicial explícita de ser trazida ao universo da dança. O maestro Sangiorgi explica: “É uma obra na qual a indeterminação é a palavra-chave. Trata-se de uma sequência de 15 notas, cada uma delas durando entre zero e dois minutos. E essas notas, qualquer que seja o músico designado a tocar, têm uma variação de quando começam e quando terminam, contanto que se obedeça a orientação de tempo desejada pela partitura. Ou seja: temos notas com texturas diferentes provocando alguma harmonia, já que a cronometragem as encavala umas com as outras. Numa obra como essa, juntar música e dança dá uma dimensão muito diferente e especial. 

Ahmed complementa: “É uma coreografia que se auto-organiza através de um consenso de restrições que a gente estabelece e que faz com que as possibilidades não sejam simplesmente pré-determinadas pela autoridade do coreógrafo”, explica Ahmed, que trabalha pela primeira vez com a companhia de dança do Theatro Municipal. “Ela aborda o atravessamento das liberdades de escolha vinculadas a um consenso coreográfico comum que a gente estabeleceu, suscitando reflexões sobre a coletividade. É como um objeto que você reconhece o que é, mas está sempre em transformação”, afirma. 

No trabalho coreográfico, 12 bailarinos em cena se distribuem em rampas, executando livremente uma partitura ou jogo matemático de regras a partir de um metrônomo-luminoso criado pelo artista Diego de Los Campos. Esse metrônomo, que cria compassos de entradas e saídas dos bailarinos em cena, está programado de acordo com um sistema digital. Dessa forma, há uma certa randomicidade, que resulta numa obra artística única a cada dia, e reflete sobre os conceitos de autonomia e coletividade.

Os figurinos são assinados por Karin Serafin com a assistência de Juliana Laurindo. Por vezes com o uso de máscaras, por vezes com a ausência total de qualquer adereço, são apresentadas possibilidades de extensão tecnológica e biocultural da roupa - adereço que protege, mas, também, transforma a percepção do movimento. A iluminação é de Mirela Brandi.

As apresentações têm duração total de 1h20, com intervalo de 20 minutos e acontecem nos dias 2/9 (20h), 3/9, 4/9 e 7/9 (17h), 8/9 e 9/9 (20h) e 10/9 e 11/9 (17h). A classificação indicativa é 18 anos e os ingressos custam entre R$ 10 e R$ 80.

Serviço:

BALÉ DA CIDADE DE SÃO PAULO
ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL
Alessandro Sangiorgi, regência

JOHN CAGE
Sixty-Eight*
Alejandro Ahmed, coreografia 

* Editor: Ed. Peters. Representante exclusivo Barry Editorial

FRANZ SCHUBERT

Sinfonia em Si menor, Inacabada
Ihsan Rustem, coreografia

2/9 (20h), 3/9, 4/9 e 7/9 (17h), 8/9 e 9/9 (20h) e 10/9 e 11/9 (17h)

Local: Theatro Municipal - Sala de Espetáculo

Capacidade: 1503 lugares
Classificação: 18 anos
Duração: aproximadamente 60 minutos
Ingressos: R 10,00 a R 80,00

SOBRE O COMPLEXO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO

O Theatro Municipal de São Paulo é um equipamento da Prefeitura da Cidade de São Paulo ligado à Secretaria Municipal de Cultura e à Fundação Theatro Municipal de São Paulo.

O edifício do Theatro Municipal de São Paulo, assinado pelo escritório Ramos de Azevedo em colaboração com os italianos Claudio Rossi e Domiziano Rossi, foi inaugurado em 12 de setembro de 1911. Trata-se de um edifício histórico, patrimônio tombado, intrinsecamente ligado ao aperfeiçoamento da música, da dança e da ópera no Brasil. O Theatro Municipal de São Paulo abrange um importante patrimônio arquitetônico, corpos artísticos permanentes e é vocacionado à ópera, à música sinfônica orquestral e coral, à dança contemporânea e aberto a múltiplas linguagens conectadas com o mundo atual (teatro, cinema, literatura, música contemporânea, moda, música popular, outras linguagens do corpo, dentre outras). Oferece diversidade de programação e busca atrair um público variado.

Além do edifício do Theatro, o Complexo Theatro Municipal também conta com o edifício da Praça das Artes, concebido para ser sede dos Corpos Artísticos e da Escola de Dança e da Escola Municipal de Música de São Paulo.

Sua concepção teve como premissa desenhar uma área que abraçasse o antigo prédio tombado do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e que constituísse um edifício moderno e uma praça aberta ao público que circula na área.

Inaugurado em dezembro de 2012 em uma área de 29 mil m², o projeto vencedor dos prêmios APCA e ICON AWARDS é resultado da parceria do arquiteto Marcos Cartum (Núcleo de Projetos de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura) com o escritório paulistano Brasil Arquitetura, de Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz.

SOBRE A SUSTENIDOS

A Sustenidos é a organização responsável pela gestão do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí e do Theatro Municipal de São Paulo, dos programas Musicou, Som na Estrada, e MOVE (Musicians and Organizers Volunteer Exchange); e pelos festivais Ethno Brazil e Imagine. Foi responsável pela gestão do Projeto Guri, programa de ensino musical, no litoral e no interior do Estado de São Paulo, incluindo os polos da Fundação CASA, de 2004 a 2021. Além do Governo de São Paulo, a Sustenidos, eleita a Melhor ONG de Cultura de 2018, conta com o apoio de prefeituras, organizações sociais, empresas e pessoas físicas. Instituições interessadas em investir na Sustenidos, contribuindo para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, têm suporte fiscal da Lei Federal de Incentivo à Cultura e do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FUMCAD). Pessoas físicas também podem ajudar. Saiba como contribuir no site da Sustenidos.

Patrocinadores e apoiadores do Theatro Municipal de São Paulo - Sustenidos: Nubank, Bradesco e Visa

Patrocinadores Institucionais da Sustenidos: Microsoft e VISA

Patrocinador do Projeto Municipal Circula: Nubank

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