O cotidiano moderno é marcado pela coexistência com diversas novidades tecnológicas e sociais que estão sempre presentes em nossas vidas: a conexão constante com a internet e as redes sociais, a prestação de serviços como consultas médicas remotamente e até mesmo missas sendo ministradas através do mundo digital. Em situações como a pandemia vivenciada pelo mundo nos últimos anos, fica cada vez mais clara a necessidade de convivência com o mundo dentro das telas de computadores e smartphones.
Cyberbullying: intolerância e perseguição, fenômeno cresce preocupando autoridades no Brasil | Foto: Pixabay |
No entanto, isso não quer dizer que não existam problemas a serem discutidos quando pensamos no domínio do mundo eletrônico sob nosso comportamento, e em 2022, o cyberbullying tem mostrado seus efeitos negativos na saúde mental de diversos internautas, de todas as idades, por uma série de motivos. Esse fenômeno é grave, e requer atenção especial em países tão diversos como o Brasil - que apesar de vivenciar um grande salto de inclusão digital, ainda oferece poucas ferramentas para evitar a perseguição e violência on-line.
A definição e formas do cyberbullying
A palavra cyberbullying é emprestada da língua inglesa, e representa a fusão de cyber, fazendo referência ao mundo digital, e bullying, que é caracterizado pela agressão (física ou mental) repetitiva e direcionada a uma pessoa. Ou seja, o cyberbullying consiste na humilhação, ataques pessoais, perseguição e violência cometida contra uma pessoa ou grupos através da internet. Se engana quem acredita que o bullying, sem agressões físicas, não seja igualmente perigoso, segundo a pesquisadora pós-graduada em psicologia Angela Marin, “O bullying é um fenômeno que tem sido associado à depressão e à baixa autoestima, bem como a problemas na vida adulta relacionados a comportamentos antissociais, instabilidade no trabalho e relacionamentos afetivos pouco duradouros”, opinião que corrobora um crescente número de casos clínicos e pesquisas que encontram uma série de efeitos negativos na saúde mental das vítimas, especialmente mais novas.
Para aumentar a preocupação, pesquisas como a TIC Kids Online apontam que mais de metade das crianças na internet vivenciaram ou presenciaram o cyberbullying durante a pandemia, tendência que está em crescimento. Através da internet, a empatia e medo de consequências dos agressores são significativamente menores, por isso, qualquer elemento pode ser utilizado para iniciar a agressão: características corporais, opiniões sobre músicas e programas de televisão, grau de escolaridade, fé religiosa, entre tantos outros fatores. A prática é criminosa, podendo ser enquadrada em diversas leis, como a prevenção à perseguição sistemática, injúria, intolerância religiosa ou racismo. No entanto, o anonimato on-line e o grande volume de casos diários podem impedir a efetiva investigação e punição para os responsáveis, por isso, é necessário que jovens tenham contato com o conceito e sintam-se livres para buscar ajuda, e os responsáveis devem conhecer práticas de prevenção.
É possível prevenir o cyberbullying?
Os mecanismos para evitar mais vítimas dessa prática abusiva devem ser sistemáticos, isto é, precisam englobar hábitos de segurança digital, higiene mental, relações sociais e familiares, e redes de suporte. O principal ponto é garantir o acesso rápido à informação para as vítimas, e oferecer soluções concretas que possam ajudar a remediar as situações a qualquer momento.
Do ponto de vista das tecnologias digitais, empresas de privacidade como a ExpressVPN preparam material disponível gratuitamente para ajudar a prevenir o bullying digital, especialmente através de infográficos de fácil compreensão e divulgação. Além disso, ONGs como a SaferNet oferecem canais anônimos para relatar casos de cyberbullying e obter instruções passo a passo para aliviar o sofrimento e, em muitos casos, prosseguir com ações legais.
O diálogo é uma ferramenta fundamental no combate a este problema, é preciso compreender a nível educacional os motivos por trás dos comportamentos agressivos de algumas crianças, procurando oferecer outros exemplos de conduta e empatia. Além disso, comunidades devem reconhecer a vulnerabilidade das vítimas e oferecer caminhos seguros e abertura para a fala. Este fator é importante, por exemplo, dentro de igrejas e congregações religiosas que desejam evitar a intolerância.
Por fim, conhecer os recursos legais disponíveis no Brasil é fundamental para os cidadãos: as leis 13.185, de 2015, e 14.132 já são capazes de identificar e punir este comportamento, e se aliam aos princípios legais do respeito, liberdade e dignidade de todos os brasileiros. Nos Estados do país, também é possível encontrar delegacias de crimes cibernéticos, dedicadas à investigação de violações ocorridas através do computador.
Não devemos temer o uso das tecnologias que, em geral, trazem comodidades indispensáveis para nossa vida moderna. No entanto, isso não deve significar a ignorância quanto às ameaças que também podem usar dos canais eletrônicos como mecanismo de ação - entrando em nossas casas e comunidades quando menos esperamos.