Atividades físicas e estímulos mentais ajudam a desacelerar as consequências da doença, afirma neuropsicopedagoga
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que destrói a memória. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil há 1,2 milhão de pessoas com a doença e a cada ano são diagnosticados 100 mil novos casos. A doença afeta majoritariamente pessoas acima de 65 anos e, embora não possua cura, é possível estimular o cérebro e desacelerar os sintomas e as consequências.
Brasil tem mais de 1,2 mi de pessoas com Alzheimer e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano | Foto: Ilustrativa/ Divulgação |
Dados da Associação Internacional da Doença de Alzheimer (ADI, a sigla em inglês), mostram que o número de pessoas com a doença pode chegar a 74,7 milhões em 2030 e a 131,5 milhões em 2050. Segundo a neuropsicopedagoga parceira do Super Cérebro, Renata Aguilar, o Alzheimer é uma doença guardada no cérebro e que impacta a memória, a linguagem e a percepção do mundo, causando alterações no comportamento, personalidade e humor dos pacientes. “O mal de Alzheimer é uma doença silenciosa, genética e ainda há muitos estudos sobre sua prevenção e as causas. Os pais ou avós do paciente já tiveram a doença e existem dados que apontam que os sinais podem aparecer 10 ou 15 anos antes do diagnóstico”, enfatiza.
Hoje, sabe-se que o cérebro possui a neuroplasticidade, uma capacidade de se adaptar e se modificar de acordo com as vivências e estímulos. Antes, acreditava-se que era possível aprender só até uma determinada idade e depois os neurônios iam morrendo, mas essa informação já caiu por terra por volta da década de 1990 com os estudos da Neurociência e do funcionamento neurológico. “A pessoa pode ter uma pré-disposição genética a desenvolver a doença, mas com estímulos cerebrais, leitura, atividade física, trabalho de raciocínio, é possível prolongar os sintomas por um tempo maior e evitar a aceleração da doença. Às vezes a doença pode até passar despercebida”, garante Renata.
Outro fator agravante da doença é a falta de comunicação. A neuropsicopedagoga explica que a falta de comunicação faz com que o cérebro e os neurotransmissores não sejam mais produzidos na quantidade necessária e com isso não consiga transmitir informações, causando danos na linguagem e na interação social. “A falta de comunicação nos idosos podem causar além de danos no sistema nervoso e nas sinapses ainda pode levar a depressão, transtorno de ansiedade e isolamento social”, esclarece Renata.
Quando há danificação dos neurônios, as áreas motoras e da memória passam a ser afetadas, sendo ampliadas para as habilidades de planejamento, organização e raciocínio. Por exemplo, o paciente guarda as roupas no armário da cozinha, almoça duas vezes por dia pois esqueceu que já comeu, esquece o fogão ligado, o nome de parentes próximos e amigos. Ou seja, sua seletividade, raciocínio e foco atencional começam a ficar debilitados.
Renata garante que uma vez que o Alzheimer já deu sinais, é preciso começar o uso de medicação sempre com acompanhamento médico, além, é claro, de continuar estimulando o cérebro para que os avanços da doença sejam menores com o espaço de tempo. “É importante ficar atento aos sinais. Se essa pessoa começa a perder coisas, como as chaves, esquece a senha do banco, pode ter alguma coisa errada e é melhor consultar um neurologista para avaliar e verificar esses sinais”, recomenda a especialista.
Excesso de informação
Nem sempre esquecimento é sinal de Alzheimer. “Vivemos um momento atribulado de muitas informações, o que não tinha há um tempo. Na minha infância não tinha computador, por exemplo. Hoje, trabalho com dois celulares, com várias abas abertas no computador. Esse excesso de informações também causa esquecimentos e são normais”, explica Renata.
Mas é importante estar atento a alguns sinais. “Minha sogra faleceu há pouco tempo, mas ela começou a ter falhas de memória, a repetir a mesma informação várias vezes. Ela contava algo como se fosse a primeira vez, mas já tinha contado e estava repetindo a história”, compartilha Renata.
Hipocampo
Renata explica que dentro do cérebro existe uma área chamada hipocampo, responsável por armazenar nossas memórias recentes e a longo prazo. Quando a pessoa começa a ter Alzheimer, começa a ter falhas na memória recente e não na memória a longo prazo. “A pessoa esquece de ir ao médico, de tomar remédio, de tomar banho ou acha que já tomou, deixa o chuveiro ligado e acha que é só por distração, mas esses são sinais da doença e é preciso ficar atento a isso”, garante Renata.
Quando o idoso começa a perder a memória da infância, da adolescência, além de dificuldades motoras, incontinência urinária e fecal e restrição ao leito, é que já está no último estágio da doença.
Estimular outras áreas do cérebro
Renata conta que muitas pessoas lhe dizem que ela não terá Alzheimer por estar sempre lendo e estudando, mas alerta que é preciso estimular outras áreas do cérebro, principalmente se já tem casos da doença na família.
“É necessário estimular áreas do cérebro que não são estimuladas, tem pessoas com mal de Alzheimer que falam quatro idiomas. Um tempo atrás comecei a estudar isso, e como tenho casos na família fiquei desesperada. Resolvi fazer aulas de ukulelê. Sou péssima, não sei tocar nenhuma música até agora, mas estimulei uma área do meu cérebro que estava ali parada, que nunca tinha sido trabalhada”, exemplifica.
O mal de Alzheimer também pode afetar a área da fala. “Minha sogra perdeu o dom de falar. Ela sabia que queria água, mas não conseguia. Ela tinha a memória, mas não conseguia expressar”, compartilha Renata.
Depressão em idosos
É comum ouvirmos histórias de idosos superativos, que praticam exercícios físicos, viajam sozinhos, sabem mexer na internet e entendem tudo de tecnologia. Mas essa não é a realidade da maioria, que muitas vezes acaba desenvolvendo depressão, um impulsionador para o aparecimento do mal de Alzheimer.
Muitos desses idosos em depressão tinham filhos dentro de casa, cuidavam desses filhos, do cônjuge, mas com o passar do tempo os filhos casaram, saíram de casa, o esposo/esposa morreu e o idoso sucumbiu.
“Isso acelera ainda mais o mal de Alzheimer. Esses idosos debilitados, que não querem mais sair com a família, se colocam no lugar dos filhos e evitam o contato social. Sabe aquela história de chamar a vovozinha para sair e ela não querer alegando estar cansada? Não é bem assim, é que a cabeça dela não acompanha mais os jovens e acaba se sentindo envergonhada por isso, o que faz com que ela fique ainda mais doente”, explica Renata.
Diagnóstico precoce e prevenção são os melhores remédios
Segundo Renata, embora haja muitos estudos sobre a doença, ainda não há cura. “Existem medicações que retardam os efeitos da doença, por isso é importante descobrir o quanto antes”, garante Renata. O Alzheimer tem avanços e possui três fases: a leve, a intermediária e a severa.
Na primeira, o paciente apresenta falhas de memória e esquecimentos constantes e dificuldades em realizar tarefas simples como cuidar das finanças. Na intermediária, esse paciente necessita de ajuda para realizar tarefas simples, como se vestir. Já na fase avançada, ele necessita de auxílio para realizar qualquer atividade, como comer, tomar banho e cuidar da higiene.
“Tem pessoas com mal de Alzheimer que se tornam agressivas, a família esconde a chave de casa, senão a pessoa corre o risco de sair e se perder. O caráter preventivo é muito importante, porque depois da doença instalada é mais difícil”, explica Renata.