Pacientes que sofrem com problemas relacionados a obesidade estão tendo um agravamento das doenças no último ano, segundo especialistas que atuam nesta área.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) alerta para o fato de que pacientes com indicação cirúrgica, antes da pandemia, e que apresentavam Índice de Massa Corporal (IMC) até 35 estão chegando aos consultórios e ambulatórios com IMC acima de 40.
Paralelamente a isso em todo o país a retomada das cirurgias bariátricas, especialmente na rede pública, está sendo feita a passos lentos. A queda no número de procedimentos realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no país, no último ano foi de 81,7% e em muitos estados do país os procedimentos ainda não estão sendo realizados.
Para que se tenha ideia, nos quatro estados da região sudeste -- a mais populosa do país -- foram realizadas 1.210 cirurgias bariátricas pelo SUS em 2021. Em São Paulo, a fila para realização do procedimento em 16 cidades no mês de fevereiro, era de 6.047 pessoas.
“As consequências do tratamento tardio da obesidade estão nos preocupando, devido ao agravamento da doença pós-pandemia. Em muitos hospitais, em que houve a suspensão das cirurgias eletivas, o tratamento de pacientes com obesidade doenças associadas a ela não foi retomado e, com isso, as filas só aumentam e os riscos e custos com o tratamento também”, afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Fábio Viegas.
Outro fator que chama a atenção é o repasse de recursos para realização do procedimento. No Rio de Janeiro o Hospital de Ipanema recebeu R$134 mil para realizar cirurgias bariátricas em 2021. Já o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, recebeu R$69 mil. Estes são os dois únicos hospitais públicos do Rio de Janeiro que realizam a cirurgia bariátrica pelo sistema público cadastrados no Datasus.
Caso grave -- Mesmo em meio a tanta dificuldade, na última semana, o Hospital de Ipanema conseguiu viabilizar a cirurgia em uma paciente com caso grave de obesidade. Desde muito jovem a Rogélia Pazos de Avelar sofria com o excesso de peso, mas com o tempo o quadro piorou.
Foram algumas tentativas frustradas de fazer a cirurgia bariátrica e que levaram ao agravamento do quadro. No final de 2020, Rogélia buscou ajuda da equipe do Hospital Federal de Ipanema, aos 44 anos, pesando 300 quilos e com IMC de 120. Durante um ano e meio, uma equipe multidisciplinar formada por endocrinologista, cirurgião bariátrico, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, enfermeira e assistente social prestaram atendimento domiciliar a paciente para reduzir os riscos do procedimento e promover um controle mais eficaz. Com muito esforço da paciente e da equipe ela conseguiu perder 50 quilos antes da cirurgia para realizar a cirurgia, baixando o IMC para 89.
O médico responsável foi o cirurgião, Luiz Gustavo Oliveira, que também preside o Capítulo do Rio de Janeiro da Sociedade de Bariátrica. Ele explica que o avanço da obesidade resultou em dificuldades técnicas e necessidade de planejamento detalhado para o sucesso da cirurgia. “Em casos de obesidade severa existem preocupações que envolvem excesso de gordura visceral, a cicatrização, maiores chances de sangramento, de trombose e de embolia pulmonar tendo em vista que a paciente estava acamada”, explica Luiz Gustavo.
Além disso, para a realização do procedimento o Hospital adequou toda a sua estrutura de cama, mesa cirúrgica, maca para transporte, unidade de pós-operatório específica e quarto especial.
“Pacientes com grau menos severo de obesidade têm mais possibilidades de manejo do tratamento, menores riscos e melhores resultados. No entanto, com uma grande mobilização, mesmo em um serviço público, conseguimos direcionar demanda de trabalho e insumos para tratar essa paciente”, disse o médico. A paciente continua internada e recebendo o tratamento no Hospital.
Novos dados - A constatação do agravamento da obesidade não ocorre apenas no Brasil. Dados do novo atlas da obesidade -- publicado no último mês pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation) - apontam que um bilhão de pessoas em todo o mundo, incluindo 1 em cada 5 mulheres e 1 em cada 7 homens, viverão com obesidade até 2030.
As descobertas destacam que os países não apenas perderão a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2025 de interromper o aumento da obesidade nos níveis de 2010, mas que o número de pessoas com obesidade está prestes a dobrar em todo o mundo. Além disso, o Atlas mostra que o maior número de pessoas que vivem com obesidade está em países de baixa e média renda, com números mais que dobrando em todos os países de média renda e triplicando em países de baixa renda, em comparação com 2010.