Aluísio Goulart Silva, analista da Embrapa Alimentos e Territórios
Ana Paula Jacques, pesquisadora e professora de gastronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB)
Há pouco mais de dois anos, a pandemia da Covid-19 interrompeu uma década de crescimento do turismo global. Em 2020, o número de chegadas internacionais retrocedeu aos patamares de 1990, com menos de 1 bilhão de turistas viajando pelo mundo, e gerando perdas econômicas estimadas de US$ 2 trilhões em receitas internacionais.
O impacto sem precedentes da Covid-19, não só sobre a economia e o turismo, mas também sobre o cotidiano das pessoas, despertou o interesse crescente pela busca de novas experiências associadas a áreas naturais e rurais, ao ar livre, longe de aglomerações. Hoje, com a flexibilização dos protocolos transfronteiriços e do aumento das taxas de vacinação em diversos países, o setor de turismo ensaia sua recuperação.
O setor é alavancado justamente pelo crescimento do número de viagens domésticas e pela demanda por destinos próximos que se mostram seguros e vinculados à ideia de saúde e bem-estar, sobretudo quando possuem vínculo com a natureza, conexão valorizada pelo público urbano, cada vez mais preocupado com o meio ambiente e com a valorização dos produtos da biodiversidade. Nisso, os espaços rurais têm se destacado, na medida em que são relacionados a esses quesitos.
Aliás, o “novo” turista não quer apenas ser um observador da ruralidade e, sim, participar e viver experiências únicas. Sem dúvida, a reaproximação entre turistas e o meio rural, incluindo aqui agricultores familiares, agroextrativistas, comunidades tradicionais e mestres de ofício, permite fazer re(conexões) afetivas, além de agregar, aos produtos do campo, novos valores (saudabilidade, sustentabilidade, entre outros).
A gastronomia, que, nas últimas décadas, se converteu na terceira principal motivação de viagens no mundo, entra nesse cenário como um importante elemento aglutinador, mostrando que as relações entre o campo e a mesa vão além do prato degustado no restaurante. O turismo gastronômico dá ao turista a possibilidade de experimentar não só a gastronomia local, mas de mergulhar na história, na tradição, no território.
A associação entre turismo e gastronomia abre oportunidades de incrementar o portfólio de destinos turísticos das diversas regiões brasileiras com alternativas de criação de roteiros que valorizam as paisagens agroalimentares e tudo o que delas faz parte, o patrimônio natural, cultural, alimentar e agrícola.
E o Brasil, que já é uma potência agroalimentar, pode ser, cada vez mais, um importante destino de turismo gastronômico. Nossa gastronomia, inclusive, já é um dos itens mais bem avaliados pelos turistas estrangeiros que nos visitam. Dispomos de uma rica diversidade de ingredientes e produtos agroalimentares dos diversos biomas, que levam consigo suas próprias identidades respaldadas na autenticidade dos produtores artesanais, nas práticas e hábitos tradicionais, capazes de provocar experiências sensoriais incomparáveis. É isso que o turista da atualidade busca, experiências mais autênticas que possibilitem um maior envolvimento com as comunidades locais, com a cultura e tradição dos anfitriões.
Para a consolidação do turismo gastronômico no Brasil torna-se fundamental contar com políticas públicas efetivas e construídas de forma participativa, refletindo as premissas da descentralização, da escuta ativa e da mobilização dos atores públicos e privados que atuam no turismo e na gastronomia em seus territórios. A primeira política pública específica para este segmento do turismo, liderada pelo Ministério do Turismo, conta, entre outras, com a parceria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB) para execução do projeto intitulado “Prospectivas para o Turismo Gastronômico no Brasil”.
Um dos objetivos deste projeto, coordenado pelo IFB, é fomentar a pesquisa em turismo gastronômico e consolidar o Brasil como destino turístico por meio da gastronomia. Diversas instituições e especialistas de todas as regiões brasileiras participam das etapas de construção dos pilares dessa política pública, como a Embrapa Alimentos e Territórios, o mais novo centro de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária dedicado à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação, voltados à valorização dos produtos agroalimentares brasileiros.
Os primeiros resultados desse processo poderão ser conhecidos na próxima semana, durante o I Seminário Internacional de Turismo Gastronômico que será realizado em Paraty (RJ), cidade que, além de ser o primeiro sítio de patrimônio misto do Brasil, integra, desde 2017, a rede de cidades criativas da Unesco na categoria gastronomia. Na ocasião, cerca de 30 expoentes do turismo e da gastronomia, nacionais e internacionais, se reúnem para debater diversos temas relacionados ao turismo gastronômico. Também haverá apresentação do Programa Nacional de Turismo Gastronômico e outras iniciativas de fomento a esse segmento no Brasil que vêm sendo lideradas pelo Ministério do Turismo. Toda a programação do seminário será transmitida ao vivo pela TV IFB no YouTube, gratuitamente.
É tempo de pegar suas malas e tomar gosto pelo Brasil!
Serviço:
Projeto Roteiros Turísticos em Paisagens Alimentares do Nordeste Brasileiro
Coordenador: Aluísio Goulart Silva – Embrapa Alimentos e Territórios.
Projeto Prospectivas para o Turismo Gastronômico no Brasil
Coordenadora: Ana Paula Jacques (pesquisadora e professora de gastronomia do IFB)
www.
I Seminário Internacional de Turismo Gastronômico
27 de março de 2022
Das 17h30 às 19h – Abertura Oficial
Transmissão ao vivo pelo YouTube do Ministério do Turismo
28 e 29 de março de 2022
Confira os palestrantes convidados e a programação técnica-científica completa no site: www.
Transmissão ao vivo pela TV IFB no YouTube