Dr. Carlos Moraes |
O mês de março é marcado pela campanha de conscientização sobre a endometriose, orientando a população sobre suas causas, sintomas e tratamentos. Segundo a Comissão Nacional de Endometriose, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 1 a cada 10 brasileiras sofrem com o problema.
Como identificar a endometriose
A endometriose é uma doença ginecológica inflamatória crônica que se manifesta principalmente na idade reprodutiva. A condição é caracterizada pela presença de células do endométrio (mucosa que reveste o interior do útero) em outros órgãos da pelve, como trompas, ovários, intestinos e bexiga, ou seja, fora da cavidade uterina.
“O problema é que as mulheres já associam dor e cólicas no período menstrual como algo comum, e acabam não buscando atendimento médico. No entanto, a endometriose é uma doença evolutiva, que começa com pequenos ‘focos’. Se a paciente não se tratar o quanto antes, o quadro pode se agravar ao longo dos anos”, afirma o Dr. Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Membro da FEBRASGO e Especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, e em Infertilidade Conjugal e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO, e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.
Para auxiliar na identificação da endometriose, o especialista selecionou os principais mitos e verdades sobre a doença:
A endometriose não apresenta sintomas típicos
Mito: Há mulheres que sofrem com fortes dores, enquanto outras não sentem grandes desconfortos. Mas, de modo geral, os sintomas mais comuns são:
-Cólicas menstruais intensas
-Dor pélvica ou abdominal durante a relação sexual
-Dor difusa ou crônica na região da pelve
-Alterações intestinais cíclicas ou urinárias durante a menstruação
“É muito comum a paciente apresentar estes sintomas e não procurar um especialista, já que muitas mulheres têm queixas semelhantes, fazendo com que os sinais sejam tidos como normais e não preocupantes. Portanto, é fundamental ficar atenta aos sintomas, pois a endometriose não é assintomática e pode passar despercebida”, alerta Carlos Moraes.
A endometriose não tem cura
Verdade: Mesmo não havendo cura, a endometriose precisa ser tratada. Por se tratar de uma doença crônica, demanda acompanhamento, principalmente durante a vida reprodutiva da mulher, quando a doença manifesta seus principais sintomas.
Segundo o ginecologista, o tratamento clínico é feito com medicamentos hormonais, que podem incluir anticoncepcionais orais ou exclusivamente os progestogênios (derivados sintéticos da progesterona).
“Entretanto, se houver formação de aderências e alterações importantes no posicionamento dos órgãos reprodutivos, pode haver indicação de cirurgia. Ela consiste na remoção das alterações na cavidade abdominal e, principalmente, junto aos órgãos reprodutivos. Sendo assim, o tratamento dependerá da gravidade do quadro”.
A endometriose pode causar infertilidade
Verdade: A medicina ainda desconhece as causas que afetam a capacidade de engravidar. Mas, o processo inflamatório e as aderências que a doença provoca podem estar relacionados ao problema de infertilidade.
“Quando não tratada, a endometriose pode evoluir, dificultando a gravidez. Cerca de 35% das mulheres inférteis podem ter endometriose. E das mulheres com endometriose, 40% podem sofrer de infertilidade. Daí a importância do diagnóstico precoce”, reforça o Dr. Carlos.
A endometriose é uma doença rara
Mito: Segundo a FEBRASGO, ela acomete cerca de 10-15% da população feminina no Brasil. Portanto, a incidência não pode ser considerada pouco frequente.
A endometriose pode migrar para outros órgãos
Verdade: A endometriose é uma doença progressiva e, quando não há tratamento, pode migrar e gerar aderências e infiltração dos focos da doença em órgãos próximos, como intestino, ovários e bexiga.
As principais complicações da falta de tratamento são a infertilidade, como já citado, e o desenvolvimento de dores crônicas, que podem não melhorar nem com o uso de medicações.
“Muitas mulheres passam grande parte da idade reprodutiva sem um diagnóstico e o devido tratamento, até que a dificuldade de engravidar seja associada ao quadro. Exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética (RM) de pelve com protocolos específicos, ajudam no diagnóstico, na graduação e no mapeamento dos focos de endometriose, definindo qual o procedimento ideal a seguir”, finaliza o Dr. Carlos Moraes.