“Ficar grávida e ter um bebê saudável são possíveis e comuns na endometriose. Claro que quem sofre com essa doença apresenta maiores dificuldades em engravidar. Portanto, também pode aumentar o risco de complicações graves. Se a paciente tem endometriose na gravidez, o acompanhamento médico deverá ser mais frequente, para que seja possível identificar rapidamente quaisquer complicações”, conclui o ginecologista e obstetra Dr. Domingos Mantelli
A endometriose é uma doença em que o endométrio, tecido que reveste o útero, cresce fora da cavidade uterina e pode aderir à parte externa do útero, ovários e trompas de falópio. Os ovários são responsáveis pela liberação de um óvulo a cada mês, e as trompas de falópio carregam o óvulo dos ovários para o útero.
Estudos revelam que, enquanto 15-20% de casais férteis que tentam engravidar terão sucesso a cada mês, esse número cai para 2–10% para casais afetados pela endometriose.
Endometriose na gravidez
No tocante à gestação, neste ciclo haverá uma interrupção temporária dos períodos dolorosos e do sangramento menstrual intenso. A gravidez também pode ofertar algum alívio ao organismo, em virtude da mudança que ocorre no corpo feminino.
Algumas mulheres se beneficiam com o aumento dos níveis de progesterona durante a gravidez. Acredita-se que esse hormônio suprime e, talvez, até reduza os crescimentos endometriais. Na verdade, a progesterona sintética costuma ser usada para tratar mulheres com endometriose.
No entanto, muitas mulheres, entretanto, não encontrarão melhora, “ao contrário, podem até descobrir que os sintomas pioram durante a gravidez. Isso porque, à medida que o útero se expande para acomodar o feto em crescimento, ele pode puxar e esticar o tecido fora do lugar. Isso pode causar desconforto. Além disso, o aumento no estrogênio também pode alimentar o crescimento endometrial”, comentou o ginecologista e obstetra Dr. Domingos Mantelli.
Na opinião do médico, a experiência de cada mulher durante a gravidez pode ser muito diferente de outras grávidas com endometriose. A gravidade da condição, a produção de hormônios e o modo como o corpo responde à gravidez afetarão de maneira individual. “Mesmo que os sintomas melhorem durante a gravidez, irão recomeçar após o nascimento do bebê. A amamentação pode atrasar o retorno dos sintomas, mas quando a menstruação voltar, é provável que os sintomas voltem também”, alerta o especialista.
Riscos e complicações
A endometriose na gravidez pode aumentar o risco de complicações durante a gestação e no parto. Isso pode ser causado por inflamação, dano estrutural ao útero e influências hormonais que a endometriose causa.
Vários estudos documentaram que as taxas de aborto são maiores em mulheres com endometriose do que em mulheres sem a doença. Isso ocorre mesmo para mulheres com endometriose leve.
Uma análise retrospectiva concluiu que as mulheres com endometriose tinham 35,8% de chance de aborto espontâneo contra 22% nas mulheres sem o distúrbio.
Nascimento prematuro
De acordo com recentes pesquisas, mulheres grávidas com endometriose têm 1,5 vezes mais probabilidade de dar à luz antes de 37 semanas de gestação.
Há um risco maior também de desenvolver uma placenta prévia, que aumenta o perigo de ruptura durante o trabalho de parto. Uma placenta rompida pode causar sangramento grave. Se o sangramento for mínimo, a mãe pode ser aconselhada a limitar suas atividades, incluindo sexo e exercícios. Se o sangramento for intenso, pode ser necessária uma transfusão de sangue e uma cesariana de emergência.
“Ficar grávida e ter um bebê saudável são possíveis e comuns na endometriose. Claro que quem sofre com essa doença apresenta maiores dificuldades em engravidar. Portanto, também pode aumentar o risco de complicações graves. Mulheres grávidas com a doença são consideradas de alto risco. Por isso, se a paciente tem endometriose na gravidez, o acompanhamento médico deverá ser mais frequente, para que seja possível identificar rapidamente quaisquer complicações”, conclui o ginecologista.
Estudo Complementar
Em fevereiro de 2022, foi publicado um estudo de coorte com grupos de pacientes com endometriose e sem endometriose em sete maternidades na França.
As mulheres do grupo com endometriose tinham histórico documentado da patologia e foram classificadas de acordo com três fenótipos de endometriose: endometriose peritoneal superficial isolada (PSI), endometrioma ovariano (OMA; potencialmente associado a PSI) e endometriose profunda (EP; potencialmente associada a PSI e OMA). As mulheres do grupo controle não apresentavam sintomas clínicos de endometriose antes da gravidez.
O desfecho primário foi parto prematuro entre 22 semanas e 36 semanas e seis dias de gestação. A associação entre endometriose e o desfecho primário foi avaliada por meio de análises de regressão logística univariada e multivariada e foi ajustada para os seguintes fatores de risco associados ao parto prematuro: idade materna, índice de massa corporal antes da gravidez, país de nascimento, paridade, parto cesáreo prévio, história de miomectomia e histeroscopia e parto prematuro. A mesma análise foi realizada de acordo com os três fenótipos de endometriose (PSI, OMA e EP).
Das 1.351 participantes do estudo que tiveram um único parto após 22 semanas de gestação, 470 foram designados para o grupo endometriose (48 tinham PSI [10,2%], 83 tinham OMA [17,7%], e 339 tinham EP [72,1%]) e 881 foram designados para o grupo controle. Nenhuma diferença foi observada na taxa de partos prematuros antes de 37 semanas e zero dias de gestação entre os grupos endometriose e controle (34 de 470 [7,2%] vs 53 de 881 [6,0%]; P = 0,38). Depois de ajustado para fatores de confusão, a endometriose não foi associada ao parto prematuro antes das 37 semanas de gestação (razão de chances ajustadas, 1,07; IC 95%, 0,64-1,77).
Os resultados foram comparáveis para os diferentes fenótipos de doença (PSI: 6,2% [3 de 48]; OMA: 7,2% [6 de 83]; e EP: 7,4% [25 de 339]; P = 0,84).