Há cerca de 7 mil doenças raras descritas no mundo, sendo 80% de origem genética e 20% de causas infecciosas, virais ou degenerativas, entre elas está a Miastenia Gravis
Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas vivem com uma doença rara em todo o mundo, ou seja, cerca de 5 a 6% da população mundial. | Foto: Divulgação/ Unsplash |
Dia 28 de fevereiro é celebrado no mundo o Dia Mundial de Doenças raras. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças raras são caracterizadas por uma ampla diversidade de sinais e sintomas, que variam de acordo com cada enfermidade, como também de pessoa para pessoa afetada pela mesma condição.
A definição também pode variar de acordo com a fonte, e cada lugar assume uma frequência de incidência da doença para considerá-la rara. Essa frequência varia de 1 a 100 para cada 100.000 habitantes. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, é considerada rara a doença que afete menos que 60 para 100.000 habitantes. Pela União Europeia, essa definição é de 50/100.000 habitantes. Mas há ainda as chamadas doenças ultra raras, em que há no máximo 30 pacientes reconhecidos no mundo todo.
Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas vivem com uma doença rara em todo o mundo, ou seja, cerca de 5 a 6% da população mundial. Essas pessoas têm cerca de 7 mil diferentes doenças. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 13 milhões de brasileiros são portadores de alguma doença rara. “Para termos uma ideia, esses números sugerem que em um ônibus lotado aleatório do nosso dia a dia, provavelmente há quatro pessoas que possuem alguma doença rara. E provavelmente todos nós estamos de certa forma ligados com pelo menos uma família com um ente portador de doença rara”, analisa Eduardo Stephan, médico neurologista, especialista em Doenças Neuromusculares dos Hospital das Clínicas (FMUSP), do Hospital Santa Marcelina e diretor científico da Associação Brasileira de Miastenia (ABRAMI).
Dr. Eduardo Estephan, Neurologista. | Foto: Divulgação |
Principais causas de doenças raras
Existem doenças neurológicas e neuromusculares raras, doenças metabólicas, distúrbios cromossômicos, distúrbios ósseos e esqueléticos e doenças raras que afetam o coração, sangue, pulmões, rins e outros órgãos e sistemas. As principais causas são genéticas, degenerativas, autoimune e infecciosas.
O impacto das doenças raras é sentido não apenas pelos próprios pacientes, mas também pelos seus familiares e entes queridos. Para cerca de 95% desses casos não há tratamento modificador da doença disponível. Apesar de várias diferentes enfermidades serem consideradas raras, há problemas comuns que geralmente acomete de forma similar pacientes e seus cuidadores:
As Síndromes Miastênicas são consideradas raras
As Síndromes Miastênicas, que são distúrbios da estrutura que conecta os nervos aos músculos (chamada junção neuromuscular), são todas consideradas raras. A Miastenia Gravis, doença autoimune adquirida, é a forma mais comum desse tipo de doença, embora ainda seja rara. Já as Síndromes Miastênicas Congênitas são distúrbios genéticos, e cerca de 10 vezes mais raros que a Miastenia Gravis autoimune. Também mais raro que a primeira, há a Síndrome Miastênica de Lambert-Eaton, doença também autoimune adquirida.
As Síndromes Miastênicas em geral se caracterizam por fraqueza flutuante e fatigável. Ou seja, a intensidade da fraqueza muda de acordo com vários fatores, sendo o principal o uso dos músculos acometidos. “A força piora com exercício e melhora com repouso. Infecções, estresse, temperaturas altas, variações hormonais e alguns medicamentos também podem influenciar na intensidade dos sintomas”, afirma o neurologista. De acordo com o médico, os músculos da movimentação dos olhos e os músculos para abrir os olhos são geralmente (mas não sempre) mais acometidos do que os outros.
Quanto mais precoce o diagnóstico, maior o controle da doença
O diagnóstico é feito por uma avaliação clínica detalhada, sendo que o primeiro passo é estabelecer se há um quadro clínico compatível. “Depois, é fundamental fazer o estudo de eletroneuromiografia, pois permite estudar justamente a junção neuromuscular. E então pode-se dizer se há ou não acometimento desta estrutura”, avalia. “É necessário também a pesquisa de autoanticorpos contra a junção neuromuscular, notadamente o anticorpo anti-receptor de acetilcolina. Quando este vem negativo, pode-se ser necessário testar também o anticorpo anti-MuSK”, detalha o especialista.
Nenhuma desta doenças tem cura, porém, o diagnóstico precoce permite o rápido e adequado tratamento, tornando possível a estabilização e controle da doença. “Entre 90 e 95% dos pacientes com Miastenia Gravis autoimune desfrutam de uma vida normal ou quase normal, mas para isso a maioria precisa estar sob tratamento adequado. Por isso a importância de conhecermos estas doenças e facilitar o diagnóstico certeiro.”
Panorama de doenças raras:
Fonte: Ministério da Saúde
Retinoblastoma, um câncer infantil raro
Recentemente, o Brasil ficou sabendo de um caso raro de câncer infantil. O apresentador Tiago Leifert e a jornalista Diana Garbin revelaram que sua pequena filha de pouco mais de 1 ano tem retinoblastoma, um câncer raro que atinge crianças até 5 anos. Ele é responsável por 2% a 4% de todos os casos de câncer em crianças no mundo, anualmente. Trata-se de uma doença genética que pode ser hereditária. O tumor se aloja na retina, podendo trazer consequências graves como perda da visão, e pode até levar à morte, se não houver o diagnóstico precoce.
Para identificar qualquer intercorrência na visão há exames muito importantes que devem ser feitos, a começar pelo teste do olho vermelho, o chamado teste do olhinho, realizado no bebê logo após o nascimento. Mas como a doença pode se manifestar até os cinco anos de idade, é muito importante que as crianças façam exames oftalmológicos ao menos uma vez por ano para conferir se está tudo bem com a sua visão.
Como o diagnóstico precoce é o melhor caminho, quanto mais cedo o tumor for descoberto, mais leve será o tratamento e maiores serão as chances de cura. Dependendo do grau de avanço da doença, é possível tratá-la com laser ou métodos já conhecidos para o câncer como quimioterapia e radioterapia.