Meia paranaense foi o pioneiro entre os brasileiros a jogar uma Copa do Mundo atuando na Espanha e manteve uma chama acesa entre os torcedores rojiblancos
Hoje em dia, é impossível imaginar a Seleção Brasileira indo para uma Copa do Mundo sem um jogador que atue em LaLiga Santander. Nos títulos de 1994 e 2002, aliás, jogadores como Romário, Bebeto e Rivaldo foram fundamentais nas conquistas brasileiras enquanto atuavam em clubes da liga da Espanha. Mas, 12 anos antes do tetra nos EUA, a realidade era bem diferente. E coube a um jogador do Atlético de Madrid iniciar essa história relativamente recente, porém vitoriosa, curiosamente na Espanha.
Dirceu José Guimarães, ou simplesmente Dirceu, já chegou à Espanha com status de estrela do futebol brasileiro e internacional. Terceiro melhor jogador da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o meia paranaense, revelado no Coritiba e com passagens marcantes por Vasco, Fluminense e Botafogo, vinha de uma temporada no Club América, do México, quando desembarcou no Vicente Calderón no início da temporada 1979/80.
Era uma época de entressafra de uma equipe que viveu uma década de 1970 gloriosa, com dois títulos de LaLiga Santander, duas Copas del Rey, uma decisão da Copa dos Campeões da Europa (atual Champions League) e um título da Copa Intercontinental. Ídolos, como Luis Aragonés, haviam se aposentado, e os brasileiros Luis Pereira e Leivinha também estavam em processo de saída do clube. Mesmo assim, Dirceu se destacou com a camisa Rojiblanca.
A primeira temporada de Dirceu na capital contou com 24 jogos do Brasileiro e cinco gols, em uma campanha que acabou com um modesto 13º lugar da equipe. Mesmo com o fraco desempenho do time, o meia assumiu a titularidade da equipe e se tornou um dos favoritos da torcida.
Na temporada seguinte, 1980/81, Dirceu brilhou intensamente. Atuando em 28 partidas, o meia marcou 9 gols e foi a força motriz do time, que lutou até as rodadas finais pelo título da primeira divisão. No fim, a taça ficou com a Real Sociedad, mas estava claro que Dirceu era um dos grandes jogadores de LaLiga Santander.
A terceira temporada era especialmente importante para Dirceu: sem poder participar de todos os amistosos da Seleção Brasileira e nem dos jogos das Eliminatórias para a Copa do Mundo que seria realizada na Espanha, o desempenho no clube era essencial para que ele conseguisse uma vaga entre os 22 convocados por Telê Santana para o esquadrão canarinho. E, apesar do Atleti acabar LaLiga Santander em oitavo lugar, Dirceu conseguiu seu objetivo. Jogando recuado, ele atuou em 32 dos 34 jogos rojiblancos na Liga de 1981/82 e marcou quatro gols. No quente verão espanhol de 1982, Dirceu estaria no escrete que encantaria não só a Espanha, mas todo o planeta, na Copa do Mundo.
No time brasileiro, recheado de craques, Dirceu atuaria em apenas um jogo, exatamente o primeiro, uma vitória por 2 a 1 contra a União Soviética, disputado no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán, do Sevilla. O Brasil, favorito destacado ao título daquele mundial, cairia na segunda fase em um jogo histórico contra a Itália, que acabaria levantando o troféu em final contra a Alemanha.
E seria a Itália o destino de Dirceu, que deixou o Atleti após a Copa do Mundo e partiu para jogar em clubes como Hellas Verona, Napoli e Ascoli. Depois rodou por clubes de México, Brasil, Itália e EUA até se aposentar em junho de 1995. Dirceu, no entanto, não conseguiu aproveitar sua aposentadoria. Em 15 de setembro do mesmo ano, ele perderia sua vida em um acidente automobilístico no Rio de Janeiro.
Em 25 anos de carreira, Dirceu, que era conhecido por sua garra e determinação em campo, jamais levou um cartão vermelho. E até hoje é lembrado com carinho pelos torcedores do Atlético de Madrid, que aprendia a cada ano a amar ainda mais os jogadores brasileiros.