A psicologia das cores é o estudo das cores em relação ao comportamento humano. Essa área tem como objetivo determinar como a cor afeta as decisões. Acerca da Psicologia das cores, Heller (2016) afirma que vermelho remete a todas as atitudes positivas em relação à vida; sendo considerada a cor da força, da vida.
Vivi uma experiência curiosa em relação a essa cor. Certa vez fiz um processo seletivo, do qual participaram doze candidatos. No dia da dinâmica de grupo, sete deles vestiam camisa vermelha, o que me deixou extremamente intrigada (não é tão comum ver tantos homens vestindo essa cor). Comentei com uma amiga, que me informou que no dia anterior havia sido exibida uma matéria no Fantástico, que dizia que homens que usam vermelho transmitem autoconfiança. Entendi o fenômeno da recorrência da cor.
Fato é que, para além dessa experiência, a psicologia das cores vem sendo estudada para melhor compreender como o cérebro humano identifica as cores existentes e como as transforma em sensações e sentimentos, por meio da percepção individual. Segundo Heller (2016), não se trata simplesmente de uma questão de gosto, mas sim de experiências universais profundamente enraizadas na nossa linguagem e no nosso pensamento.
Dado que nossos humores e sentimentos são instáveis e que as cores desempenham um papel na formação da atitude, torna-se relevante para o marketing entender a importância das cores. Tanto no desenvolvimento da identidade visual da organização, nas logomarcas, como no desenvolvimento de produtos, considerar o efeito das cores no cérebro dos consumidores é considerado um ponto fundamental.
Estudos mostram que nossos cérebros preferem marcas reconhecíveis, que as cores têm importante papel para a identidade de marca, e que é pela repetição que se vence o jogo das cores, o que eleva a importância de as marcas darem especial atenção às cores do logotipo, uma vez que esses podem garantir diferenciação frente aos concorrentes.
Um guia de cores de algumas marcas, disponível em https://thelogocompany.net/
Matéria publicada na página do Estadão, que trata da Psicologia Secreta das Cores dos tênis, aponta que as empresas fabricantes de tênis esportivos vêm se tornando cada vez mais aficionadas e atentos à Teoria das Cores. Jenny Ross, chefe de design de conceito e estratégia da empresa New Balance, diz que “a cor nos excita ou nos acalma, aumenta nossa pressão sanguínea. É algo poderoso”. Isso denota como estão atentos a estudar a temática.
Na New Balance, ofertam tênis de tons de cinza em todas as temporadas, sendo que eles têm “caráter e personalidade”. Já na Nike, apostam na cor Volt, um verde limão, extremamente chamativo. Ryan Cioffi, vice-presidente de design da Reebok, diz que “a primeira cor que você vê nos seus receptores ópticos é um limão super brilhante”. Possivelmente, é uma visão evolucionária de animais venenosos e “sinaliza perigo”. As cores são utilizadas para produzir intencionalmente emoções e sentimentos nos clientes potenciais. Segundo ele, “algo físico ocorre quando você o vê. Volt tem a ver com o emocional”, afirma Martha Moore, diretora de criação da Nike.
Na matéria do Estadão, argumentam que nós temos um relacionamento pessoal complexo com as cores, portanto a teoria das cores importa mais do que nunca quando se trata “do que você coloca nos seus pés”. Assim, a Puma apresenta um tênis que é uma remixagem, que se propõe a ligá-los à cultura da música eletrônica e fazer o usuário “se sentir animado”. Subjetividade máxima se vê na pretensão dos tênis mais recentes da Adidas, que teve sua paleta de cores quentes inspirada pelo “icônico cinema jamaicano”. A estilista da marca afirma que “estava interessada em explorar cores que desvanecem no sol jamaicano”.
Para além do que se coloca nos pés, estudos apontam que a identidade visual das empresas, como se comunicam com o seu público-alvo, pode constituir-se a diferença entre o posicionamento da marca. Um aspecto relevante para que, ao invés de misturar-se aos concorrentes, uma empresa possa se destacar frente a eles, pode estar na cor que a empresa usa. O que não deixava de ser também a pretensão dos candidatos que participaram do processo seletivo: usavam a cor vermelha para transmitir um sentimento “de autoconfiança” e se destacarem frente aos concorrentes.
Heller, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Gustavo Gili, 2016.
Marineide de Oliveira Aranha Neto é psicóloga organizacional, mestre em Administração, professora de Gestão de Pessoas nos cursos de Administração e Engenharia de Produção da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Campinas.