A imunização de crianças poderá ser feita com vacinas da Pfizer ou CoronaVac. Médicos explicam como ato pode evitar danos irreversíveis à saúde causados pela doença.
Com o anúncio oficial da vacinação contra a covid-19 para crianças acima de 5 anos com o imunizante da Pfizer e de 6 a 17 anos com a CoronaVac, muitos pais ainda possuem dúvidas sobre como o processo irá funcionar e se existem diferenças entre as vacinas.
Em todo o país, por causa da aprovação do uso emergencial da CoronaVac em crianças pela Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitárias (Anvisa) na última quinta-feira (20/01), as datas do calendário de imunização de diferentes cidades já foram antecipadas. No caso do público com 5 anos de idade e de crianças consideradas imunossuprimidas (que tem algum tipo de problema que afeta o sistema natural de defesa do corpo humano), vale lembrar que por enquanto podem apenas receber a vacina da Pfizer, uma vez que os resultados de pesquisa da CoronaVac não são suficientes para estes perfis.
Vale lembrar que inicialmente o Plano Nacional de Imunização (PNI) havia previsto um calendário escalonado, priorizando a imunização de indígenas, quilombolas, e crianças com comorbidades ou deficiências, na faixa etária de 5 a 11 anos, por conta da disponibilidade de doses. Com a liberação de mais uma alternativa de imunizante, contudo, se tornou possível acelerar a aplicação de doses para toda a população infantil autorizada.
Tão logo foi dado o sinal verde para o uso da Coronavac na população de 6 a 17 anos, o Governo do Estado de São Paulo assegurou que Instituto Butantan contava com 15 milhões de doses da vacina contra a covid-19 para o uso em crianças e adolescentes prontas para serem distribuídas e que as cidades paulistas poderiam iniciar as aplicações prontamente. No caso da capital São Paulo, desde sábado, 22 de janeiro, todas as crianças de 5 a 11 anos já puderam tomar a primeira dose nas 469 Unidades Básicas de Saúde (UBS), que abriram as portas especialmente para vacinação exclusiva desse grupo. A partir desta segunda-feira (24/01), os Mega drive-thrus e Megapostos também passam a aplicar doses nos pequenos.
Pfizer
Em outubro de 2021, a partir de um estudo realizado pela Pfizer, a vacina se mostrou eficaz em 90,7% na prevenção de infecções. Nos testes, o imunizante foi aplicado em duas doses, com três semanas de intervalo, em 2.268 crianças
Apesar do imunizante ser o mesmo do que o oferecido aos adultos, ele possui algumas particularidades, como dosagens e frascos diferentes. As tampas possuem a cor laranja, justamente para facilitar a identificação pelas equipes de saúde, pais e cuidadores, e a formulação será aplicada em duas doses de 0,2 mL - o que equivale a 10 microgramas. Segundo o Ministério da Saúde, o intervalo de oito semanas entre as doses deve ser seguido.
“Essas variações de dosagem foram definidas após estudos que mostraram que uma dose menor para essa parcela da população foi capaz de provocar a resposta imune efetiva, considerando que a vacina é dada em duas etapas”, comenta o pediatra e pneumologista, Eduardo Rosset. Quanto ao calendário infantil, a Anvisa recomenda que o período de 15 dias entre a vacina da covid-19 e outros imunizantes seja seguido.
CoronaVac
Já no caso da CoronaVac, de acordo com um artigo publicado em junho de 2021 pelo The Lancet, 550 crianças saudáveis na China participaram de um estudo. Dentre os resultados, foi possível analisar que 146 relataram ao menos, em um período de 28 dias, alguma reação adversa. Dentre as mais comuns é possível destacar: febre, dor de cabeça e dor ou vermelhidão no local da aplicação.
Apesar da CoronaVac ser aprovada há alguns dias pela Anvisa, a bula do imunizante ainda não está disponível no Brasil. Porém, como a vacina já havia sido aplicada em outros países, foi possível analisar efeitos adversos e testar sua segurança.
A dosagem, diferente da vacina da Pfizer, será seguida assim como a imunização em adultos. Ela deve ser aplicada também em duas doses, com um intervalo de 28 dias. Vale lembrar ainda que a vacinação em imunossuprimidos - com baixa imunidade - está vetada até o momento.
Contudo, a Anvisa analisa que a imunização com a CoronaVac poderá ser ampliada ainda para o público de 3 a 5 anos, desde que existam dados disponíveis de pesquisas para a faixa etária.
Qual vacina priorizar: covid-19 ou as previamente previstas pelo calendário de vacinação infantil?
De acordo com Filipe Prohaska, infectologista do Grupo Oncoclínicas, é importante elencar escolhas neste momento. “É aconselhável que os pais deem prioridade à vacinação contra o coronavírus, dando sequência nos outros imunizantes depois, respeitando sempre os prazos estabelecidos”, explica.
Por que vacinar as crianças?
Apesar da grande maioria das crianças terem sintomas leves da covid-19, estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde mostraram que um quarto dos pacientes pediátricos continuam com os sintomas entre 4 e 5 semanas após o resultado positivo. Dentre os sinais prolongados, foi possível notar danos no cérebro, pulmões e coração, além da fadiga severa.
Segundo Eduardo Rosset, as vacinas são consideradas seguras e salvam vidas. "Mesmo que as crianças tenham taxas de óbitos menores do que os adultos, a covid-19 também pode fazer com que elas desenvolvam a forma grave da doença. Então, a imunização pode ajudar a evitar danos irreversíveis para a saúde", comenta.
A vacina pode causar efeitos colaterais graves?
Segundo dados norte-americanos da Federal Drug Administration, órgão que faz o controle de medicamentos, das mais de 8 milhões de crianças vacinadas nos Estados Unidos, apenas 4% tiveram eventos adversos pós vacinação com o imunizante da Pfizer. "97% dessas reações foram leves e são as mesmas de outras vacinas que fazem parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI), como dor no corpo, febre e mal-estar passageiros - podendo durar de 2 a 3 dias na maioria dos casos", comenta o pediatra.
Já a partir dos estudos realizados com a CoronaVac, os sintomas mais comuns são: febre, dor de cabeça, dor e vermelhidão no local da aplicação. Já os menos comuns foram: náusea, vômito, diarreia, fadiga e dor muscular.
Filipe Prohaska complementa ainda que os benefícios da imunização das crianças devem ser levados em consideração. "Os riscos de quadros graves causados pela infecção da covid-19 são muito maiores do que reações colaterais causadas pela vacina. Os imunizantes são um passo importante para contornar o surgimento de possíveis variantes, além de promover a imunidade coletiva".
Como amenizar os efeitos da vacina contra covid-19
Caso existam sintomas, o médico pode receitar o uso de analgésicos ou antitérmicos. Além disso, dores no local da aplicação podem ser amenizadas com compressas mornas ou frias na região.
"Em caso de vômito ou diarreia, a família deve manter a criança sempre hidratada. Caso não haja melhora dos sintomas, procure atendimento médico para o diagnóstico correto", orienta o infectologista.
Vacinação e volta às aulas
Diante de todos os desafios e aprendizados que a pandemia trouxe, 2022 chega com uma perspectiva importante para o futuro. Mesmo que diferente, a volta às aulas é um momento bastante esperado tanto para as crianças, como para os pais.
Eduardo Rosset acredita que a vacinação é um passo fundamental para o retorno às escolas. “Adicionalmente, a imunização de mais essa parcela das crianças em idade escolar dará mais tranquilidade aos adultos responsáveis, educadores e todo o ecossistema de suporte para a retomada em segurança das atividades neste novo ano letivo que se inicia”, finaliza.