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Consumo de álcool reduz chances de gravidez: mulheres devem evitar na 2º metade do ciclo menstrual

13 de Janeiro de 2022

Um estudo sobre as associações entre o consumo de álcool e as chances de engravidar sugere que as mulheres que desejam engravidar devem evitar o consumo excessivo de álcool. Na segunda metade do ciclo menstrual, mesmo o consumo moderado de álcool está relacionado a chances reduzidas de gravidez.

Àlcool deve ser evitado por mulheres que querem engravidar

O consumo de álcool aumentou durante a pandemia, com um incremento altíssimo de 93,9% na quarentena, segundo pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que ainda confirmou que as bebidas alcoólicas são ingeridas para tentar amenizar o estresse do dia a dia. O que muita gente não sabe, entretanto, é que mesmo o consumo moderado pode ter diversos efeitos maléficos no organismo, incluindo prejuízos à fertilidade. Segundo o ginecologista obstetra Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, um estudo do ano passado publicado no Human Reproduction, jornal mensal da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), mostrou que as mulheres que desejam engravidar devem evitar o consumo excessivo de álcool. “Na segunda metade do ciclo menstrual, mesmo o consumo moderado de álcool está relacionado a chances reduzidas de gravidez, segundo o trabalho”, explica o especialista, que também é Doutor pelo Imperial College London e membro da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE).

O estudo foi publicado em setembro e investigou a ingestão de álcool e a fecundabilidade, que é definida como a probabilidade de conceber durante um único ciclo menstrual. “É o primeiro estudo a examinar isso de acordo com as diferentes fases dos ciclos menstruais das mulheres”, explica o médico. Mulheres com idade entre 19 e 41 anos foram recrutadas entre 1990 e 1994 e acompanhadas por um máximo de 19 ciclos menstruais. “As mulheres completaram diários relatando a quantidade de álcool que ingeriram e de que tipo, e forneceram amostras de urina no primeiro e no segundo dia de cada ciclo menstrual para verificar se havia gravidez”, diz o Dr. Fernando Prado. O consumo excessivo de álcool foi definido como mais de seis bebidas alcoólicas por semana; o consumo moderado de bebidas alcoólicas foi de três a seis doses por semana. Ainda houve um grupo de mulheres que “bebiam pesado”, mais de quatro doses por dia. Cada bebida consistia em um terço de um litro de cerveja (355 mililitros), um copo médio de vinho (148 mililitros) ou apenas uma dose dupla de destilados (44 mililitros). Os pesquisadores coletaram informações sobre fatores que podem afetar os resultados, como idade, histórico médico, tabagismo, obesidade, uso de métodos anticoncepcionais e intenção de engravidar. Dados sobre 413 mulheres estavam disponíveis para o estudo atual.

O estudo descobriu que o consumo excessivo de álcool durante qualquer fase do ciclo menstrual foi significativamente associado a uma probabilidade reduzida de concepção em comparação com os que não bebem. “Isso é importante porque algumas mulheres que estão tentando engravidar podem acreditar que é ‘seguro’ beber durante certas partes do ciclo menstrual. Durante a fase lútea, que são as últimas duas semanas do ciclo menstrual antes que o sangramento começasse e quando o processo de implantação ocorre, não apenas beber pesado, mas também beber moderado foi significativamente associado a uma probabilidade reduzida de concepção”, diz o especialista. “No momento da ovulação, geralmente por volta do 14º dia do ciclo, consumir muito álcool – beber em excesso ao longo da semana ou pesado com mais de quatro doses por dia – foi significativamente associado a chances reduzidas de concepção”, diz o médico.

Em comparação com os que não bebem, beber moderadamente e muito durante a fase lútea foi associado a uma redução nas chances de conceber em cerca de 44%. Beber pesado durante a parte ovulatória do ciclo também foi associado a uma redução significativa de 61% nas chances de engravidar. No entanto, os pesquisadores enfatizam que essas são apenas estimativas e devem ser tratadas com cautela. “Se presumirmos que uma mulher típica, saudável e que não bebe na população em geral que está tentando engravidar tem aproximadamente 25% de chance de conceber durante um ciclo menstrual, então, de 100 mulheres, aproximadamente 25 que não bebem conceberiam em um ciclo particular, cerca de 20 bebedores moderados conceberiam e apenas cerca de 11 bebedores pesados conceberiam. Mas o efeito do consumo moderado de álcool durante a fase lútea é mais pronunciado e apenas cerca de 16 bebedores moderados conceberiam”, explica o ginecologista.

O estudo incluiu algumas centenas de mulheres e, embora sugira que os resultados apoiem fortemente que a ingestão pesada e até moderada de álcool afeta a capacidade de engravidar, faz a ressalve de as porcentagens e números exatos serem vistos como estimativas aproximadas. “O trabalho também mostrou que cada dia extra de consumo excessivo de álcool foi associado a uma redução de aproximadamente 19% nas chances de conceber durante a fase lútea e uma redução de 41% durante a fase ovulatória. Os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença em seus resultados entre os diferentes tipos de bebidas.”

Segundo o Dr. Fernando Prado, os possíveis mecanismos biológicos que podem explicar a associação entre o consumo de bebida e a redução das chances de engravidar podem ser que a ingestão de álcool afeta os processos envolvidos na ovulação, de modo que nenhum óvulo é liberado durante a parte ovulatória do ciclo, e que o álcool pode afetar a capacidade de um óvulo fertilizado se implantar no útero. “Este é o primeiro estudo a examinar o efeito do álcool na fecundabilidade durante fases específicas do ciclo menstrual, usando dados diários sobre o álcool e outros fatores importantes, como tabagismo e relações sexuais desprotegidas durante um período de até 19 ciclos menstruais”, diz o médico. “É necessário enfatizar, também, que os resultados deste estudo não devem ser interpretados como significando que o consumo de álcool evita a gravidez. Em outras palavras, o álcool não é controle de natalidade. Mesmo que uma mulher beba muito álcool, se ela tiver relações sexuais desprotegidas, ela pode ficar grávida”, finaliza o médico.

FONTE:

*DR. FERNANDO PRADO: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita - Reprodução Humana.

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