Você já esteve em uma situação financeira difícil em que sentiu o abalo de sua saúde mental? Casos em que isto acontece são mais comuns do que podemos imaginar. Muitas vezes o fim do mês chega trazendo muita dor de cabeça à medida em que o acúmulo das contas começa a acontecer.
O indivíduo se vê angustiado ao ponto de não conseguir sentir-se em paz, o que gera transtornos emocionais relevantes, como perda de sono, perda de apetite, estresse generalizado, ansiedade, tristeza profunda, depressão e até síndrome do pânico.
Sim, a saúde financeira pode influenciar diretamente sua saúde mental. Elas são pilares fundamentais da qualidade de vida de qualquer pessoa.
Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), aponta que mais de 70% dos inadimplentes sofrem de ansiedade e outros distúrbios, por não conseguirem quitar suas dívidas. E, infelizmente, a economia de nosso país não demonstra que esse cenário terá grandes mudanças positivas nos próximos meses.
Desta forma, não é possível tratar a saúde financeira sem levar em conta a saúde mental do indivíduo.Se por um lado, ter uma boa saúde financeira contribui para uma melhor qualidade de vida e, consequente, uma mente mais saudável e equilibrada, uma saúde financeira desorganizada, certamente, será acompanhada dos distúrbios mentais. Não há dúvidas de que uma boa saúde financeira irá contribuir para que a mente esteja em equilíbrio.
Prova mais que certa, de que devemos estar sempre atentos a nossa saúde em todos os aspectos, financeira, mental e física.
O excesso de cobranças (financeiras ou não) provoca o estresse, levando o indivíduo a ter menos atenção, maior preocupação, cabeça pesada, irritabilidade, alterações de humor, entre outros.
Claro, que também devemos levar em conta, que quando tratamos o nosso dinheiro de forma displicente, compramos desnecessariamente, de forma compulsiva e sem dúvida geramos o descontrole em nosso orçamento.
O mais importante é identificar as causas deste desajuste. Outro fator característico neste tema é que, alguns distúrbios mentais, como a ansiedade e a compulsão podem levar a compras excessivas e desmedidas.
Pois, comprar já faz parte do mundo capitalista e há um grande incentivo vindo de todas as mídias, como se fosse realmente necessário ter uma roupa de marca ou trocar o smartphone pelo de última geração para se sentir feliz.
Pura ilusão. Devemos tentar descobrir porque estamos transferindo nossa ansiedade para a compra. Lembrando que: “Todo excesso reflete uma falta”.
E onde está a minha falta? Porque estou fazendo substituições?
O excesso no limite destas compras excede o gatilho que vai afetar sua saúde financeira, trazendo a dificuldade inerente em cumprir o pagamento das dívidas pendentes. Até se tornar uma bola de neve de problemas já que, se a área financeira está desestruturada, a mental fica ainda pior e pode elevar ainda mais o problema criado.
Analisando psicanaliticamente o problema, temos que, esse descontrole, além da ansiedade pode estar carregado de culpa. Uma culpa que distorce um pedido de ajuda desesperado e até mesmo o aumento do estresse.
O que pode estimular que ele seja exteriorizado através de compras com pagamentos parcelados, gerando a falsa ilusão do alívio, como uma satisfação momentânea e um desespero quando chega o momento dos pagamentos.
Afirmo, enfim que, as questões de ordem financeira alimentam diretamente os danos a mente e vice-versa. E se a saúde mental não estiver em dia, ela pode causar um mar de dívidas quase inviáveis de serem quitadas, gerando mais ansiedade e depressão ao indivíduo.
Quem está com a vida financeira doente pode apresentar sintomas como mau humor, irritação, isolamento social, desatenção e falta de produtividade profissional. Se não tratado a tempo, essas questões podem levar a consequências mais desastrosas como o envolvimento com vícios como cigarro, álcool, comida e drogas ilícitas, em que se desconta as frustrações com os excessos.
Infelizmente nem todos percebem que estão doentes mentalmente e financeiramente. Culpa e vergonha camuflam o problema e ajudam o indivíduo a manter um disfarce mascarado socialmente, já que muitos procuram manter o mesmo estilo de vida, que só vai aumentando as dívidas e o estresse.
Mas a solução não é apenas conseguir dinheiro, quitar as dívidas. Se o equilíbrio mental não acompanhar sua organização financeira e esse ciclo não promover o rompimento com a negação do problema, as questões vão retornar e você estará novamente em apuros, sem possibilidades de reversão.
E como resolver isso? Primeiro busque ter consciência de seus recebimentos e gastos de forma a promover adequação do seu estilo de vida. Mude seus hábitos e enxugue o que for desnecessário. Não adiantar fugir dos problemas. Devemos encarar de frente para conseguir perceber sua dimensão e desta maneira, verificar de que forma poderão ser solucionados.
Quando a mente busca um mínimo de equilíbrio, ela consegue visualizar saídas muito eficazes para quitar as pendências. A solução pode ser cuidar da situação financeira e saúde mental ao mesmo tempo, e isso vale até mesmo para quem não está afogado em dívidas.
Busque planejar seus gastos, eliminar excessos, perguntar-se da real necessidade de uma compra (preciso mesmo disso?), e o mais precioso dos movimentos: olhe para dentro de si e busque descobrir porque você se colocou nesta desorganização financeira? Porque passou dos limites entre o que se ganha e o que se gasta? Tente entender porque a satisfação plena para você está em adquirir sempre algo? Onde possa ter errado a mão? E porque deposita sua ansiedade nisto?
Enfim, sua saúde mental é muito valiosa e tudo o que possa vir a feri-la deve ser descartado e eliminado de seu cotidiano. Nada é mais saudável do que viver em paz com nossos pensamentos e sem o peso das cobranças, seja de qual natureza for.
A terapia pode contribuir para que o indivíduo aprenda a se organizar melhor, em ações e pensamentos. Sabemos que quando estamos desajustados internamente, o nosso exterior reflete este desajuste. Saber lidar com seus recursos é, portanto, importantíssimo para se ter uma vida tranquila e cheia de bem-estar.
Não deixe que as finanças estraguem sua saúde mental e nem o contrário. Seja dono do seu planejamento e elabore estratégias para eliminar estes fantasmas, aliado sempre a uma ajuda profissional para que o equilíbrio emocional seja reestabelecido e sua saúde mental não fique à deriva.
Dra Andréa Ladislau
Psicanalista
Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no whatsapp o grupo Reflexões Positivas para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.