Edição mais recente do Estudo Regional Comparativo e Explicativo mostra que País melhorou resultados nas áreas avaliadas do 4º e 7º ano do ensino fundamental
O Brasil avançou na aprendizagem do 4º e do 7º ano do ensino fundamental. Segundo os resultados do Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Erce) 2019, o País aumentou suas notas em todas as áreas avaliadas (leitura, escrita, matemática e ciências naturais), em comparação à avaliação anterior, realizada em 2013. Todas as pontuações brasileiras também estão acima da média dos 16 países da América Latina e Caribe que participaram do estudo.
Os resultados do Erce 2019 foram apresentados nesta terça-feira, 30 de novembro, em evento promovido pela Oficina Regional de Educação para América Latina e Caribe (OREALC) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) Santiago. O estudo é conduzido pelo Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação (LLECE), ligado à OREALC. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é responsável pelo planejamento e a operacionalização do Erce no Brasil.
Foram publicados os relatórios nacionais e regional. O primeiro contém informações específicas sobre o desempenho dos estudantes em cada país. O outro traz dados de todos os países participantes e uma perspectiva de análise comparada. Ao todo, o Erce 2019 avaliou 160 mil alunos de 4º e 7º ano do ensino fundamental ou séries equivalentes nos países participantes. São eles: Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
As provas avaliaram o desempenho em leitura, escrita e matemática. No caso do 7º ano, também foi avaliada a área de ciências naturais. Ao todo, 8.871 estudantes brasileiros participaram. Destes, 4.522 cursavam o 4º ano e 4.349, o 7º. De acordo com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, o Erce “revela os avanços e o protagonismo do Brasil na América Latina e Caribe. Os dados mostram que o desempenho de nossos estudantes melhorou em todas as áreas de conhecimento avaliadas e que estamos no caminho certo diante do grande desafio apresentado pela Agenda 2030”, afirmou o ministro. “Nossos resultados no 4º ano estão entre os melhores e vamos melhorar ainda mais, já que a alfabetização é uma das prioridades dessa gestão”, complementou.
A Agenda 2030 é um plano global para o desenvolvimento sustentável em diversos âmbitos, incluindo a educação. O projeto é coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Claudia Uribe, diretora da OREALC/Unesco Santiago, chamou a atenção para a necessidade de continuar avançando. “Os sistemas educacionais têm menos de uma década para alcançar as metas acordadas na Agenda 2030, então medidas urgentes precisam ser tomadas para superar esta crise nas aprendizagens que afeta mais da metade da população estudantil e que, sem dúvida, foi ampliada e aprofundada com a covid-19”, pontuou a diretora.
Resultados brasileiros — Os resultados do Erce 2019 são apresentados na mesma escala de proficiência do estudo anterior, o Terce 2013, o que permite compará-los. Em leitura, o Brasil atingiu proficiência média de 748 pontos no 4º ano, resultado que é superior ao regional do Erce 2019. Além disso, o País tem uma proporção menor de estudantes no nível I (mais baixo desempenho) que a média regional e maior no nível IV (mais alto desempenho), registrando aumento desde o estudo anterior.
No 7º ano, também em leitura, os estudantes obtiveram proficiência média de 734 pontos, resultado que é superior à média regional do Erce 2019. Além disso, o Brasil apresenta uma menor proporção de alunos no nível I em comparação com a média regional e maior no nível IV. Em relação ao estudo Terce 2013, o país tem maior porcentagem de estudantes no nível IV.
Já em matemática, o Brasil exibe uma proficiência média de 744 pontos no 4º ano, o que é superior à média regional do Erce 2019. O País ainda apresenta uma menor proporção de estudantes no nível I do que a média regional. A respeito do Terce 2013, há uma menor porcentagem de estudantes no nível I de baixo desempenho e maior no nível IV.
No 7º ano, o Brasil obteve 733 pontos, média que é superior à da região no estudo Erce 2019. Além disso, há uma menor proporção de estudantes no nivel I que a média regional e maior no nível IV. Em relação aos resultados anteriores do Terce 2013, o estudo mais recente mostra uma menor porcentagem de estudantes no nível I e II e maior nos níveis superiores.
Em ciências naturais (7º ano), o Brasil obteve média de 718 pontos, resultado superior ao regional do Erce 2019. Além disso, apresenta uma menor proporção de estudantes no nível I em comparação com o Terce 2013 e também com a média da região.
Em ambos os anos escolares, nota-se uma diferença significativa, a favor das meninas, em leitura, o que é uma tendência na região, e a favor dos meninos, no 7º ano, em matemática. O Brasil é um dos cinco países em que isso ocorre.
Fonte: Relatório Nacional do Erce 2019 Nota: O asterisco (*) indica se as diferenças são estatisticamente significativas. |
Fatores associados — O Erce 2019 aponta que, no Brasil, os aspectos que levam aos melhores resultados de aprendizagem são o acesso à educação pré-escolar, os dias de estudo semanais, o envolvimento parental e as expectativas dos pais, além do maior nível socioeconômico das famílias. Em contraponto, de acordo com o estudo, os aspectos limitadores para a aprendizagem são a repetência e o absenteísmo. Também se observa a necessidade de aprimorar os mecanismos equitativos que promovam a aprendizagem entre os indígenas.
No que diz respeito ao corpo docente e às práticas associadas aos maiores resultados, o estudo aponta o interesse pelo bem-estar dos estudantes; o apoio à aprendizagem do aluno; as expectativas acadêmicas dos professores em relação aos estudantes, além da organização e planejamento do ensino. O Erce também pontua o desafio brasileiro em relação à equidade, tendo em vista que o maior nível socioeconômico das escolas e a assistência às escolas privadas se associa aos maiores resultados de aprendizagem.
Segundo o coordenador do LLECE, Carlos Henríquez, “o Brasil tem o desafio urgente de gerar um plano de desenvolvimento do sistema educacional; fortalecer o quadro institucional para dar os próximos passos com a prioridade de avançar em direção a uma educação mais inclusiva e equitativa. Além disso, reconhecer a importância da igualdade de gênero e da diversidade cultural e propiciar oportunidades educacionais para que todas e todos os estudantes contem com as aprendizagens fundamentais para o seu desenvolvimento”.
Resultados regionais — Ao mesmo tempo que o Erce 2019 mostra avanços em relação aos estudantes brasileiros, os dados regionais — que consideram todos os países participantes — apontam para a necessidade de mobilizar esforços para melhorar os níveis de aprendizagem dos estudantes da América Latina e Caribe como um todo. De acordo com o estudo, 44% dos estudantes da 3ª série (equivalente ao 4º ano) estão no nível mais baixo de desempenho em leitura, por exemplo.
Os resultados também mostram que uma grande proporção de estudantes da região aprende pouco nos primeiros anos de suas trajetórias educacionais. Mais de 40% dos alunos na 3ª série e mais de 60% daqueles que cursam a 6ª série (equivalente ao 7º ano) não conseguem adquirir as competências mínimas estabelecidas para os níveis educacionais avaliados. “Hoje, mais do que nunca, é urgente mobilizar e priorizar o apoio aos estudantes que apresentam atrasos na aprendizagem porque os dados que temos são preocupantes. Em leitura na 3ª série, quatro de cada dez estudantes estão no nível mais baixo, o que aciona nossos alertas, porque se trata de um preditor de desempenhos escolares futuros”, alertou Carlos Henríquez.
De acordo com o coordenador do LLECE, a aprendizagem em matemática é “crítica”, em ambas as séries avaliadas. Quase 50% dos estudantes se encontram nos níveis de menor desempenho. No caso de ciências, aproximadamente um em cada três estudantes está no menor nível de desempenho. O estudo também revela que, em 7 dos 16 países participantes, há disparidade entre gêneros. Nesses casos, as meninas obtêm resultados melhores que os meninos.
Sobre os fatores que impactam os níveis de aprendizagem, nota-se que o desempenho dos estudantes, geralmente, está ligado ao acesso à pré-escola. A Unesco também ressaltou a importância das características das escolas para o rendimento dos alunos. Segundo o estudo, cerca de 40% a 50% das diferenças de aprendizagem mapeadas podem ser explicadas por fatores da escola que frequentam. O Erce revelou que, quanto maior o nível socioeconômico das escolas, maior o desempenho de seus estudantes.
Erce — Realizado periodicamente desde 1997, o estudo é direcionado aos países da América Latina e Caribe, com o objetivo de monitorar os avanços na aprendizagem dos estudantes da região. O Brasil participa desde a primeira edição. Os dados apurados pelo Erce são evidências sobre os desempenhos de aprendizagem e os fatores associados que os explicam. Esses resultados possibilitam orientar as políticas públicas educacionais dos países envolvidos, fortalecendo a qualidade e a equidade da educação.
Acesse o resumo executivo do resultados regionais (em espanhol)
Apresentação dos resultados de desempenhos de aprendizagem (em espanhol)
Apresentação dos resultados de fatores associados (em espanhol)
Confira a transmissão do evento de divulgação (em português)
Confira os painéis dinâmicos de dados