Trabalho da Universidade da Finlândia Oriental mostrou que dormir melhor, com boa recuperação fisiológica, é associado a hábitos saudáveis de vida, como melhores escolhas alimentares e menor consumo de álcool
Um estilo de vida saudável requer principalmente comer alimentos mais naturais, exercitar-se regularmente, aliviar o estresse, ter um sono reparador e abandonar vícios como álcool e tabaco. Mas adotar todas essas mudanças de uma vez pode ser algo difícil e desafiador. Para quem não sabe qual deve ser o primeiro passo, um estudo finlandês publicado em junho no Journal of Occupational Medicine and Toxicology mostrou que dormir pode ser o primeiro passo. “O trabalho mostrou que a boa recuperação do sono está associada a uma dieta e hábitos alimentares que promovem a saúde, bem como a um menor consumo de álcool”, explica o médico cardiologista, geriatra e nutrólogo Dr. Juliano Burckhardt, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
No estudo, os pesquisadores acompanharam 252 adultos psicologicamente angustiados com sobrepeso, que participaram de uma intervenção no estilo de vida em três cidades finlandesas. A recuperação fisiológica durante o sono foi medida com base na variabilidade da frequência cardíaca durante o período em que dormiam, registrada em três noites consecutivas. A variabilidade da frequência cardíaca foi usada para medir a ativação parassimpática e simpática do sistema nervoso autônomo e sua relação, ou seja, o equilíbrio entre o estresse e a recuperação. “O sistema nervoso parassimpático desempenha um papel fundamental na recuperação, durante a qual a frequência cardíaca diminui e a variabilidade da frequência cardíaca é elevada”, explica o médico.
O comportamento alimentar dos participantes do estudo foi medido por meio de quatro questionários diferentes, e a qualidade da dieta e o consumo de álcool foram quantificados por meio de dois questionários diferentes e um recordatório alimentar de 48 horas, uma espécie de documento que ajuda a informar detalhes a respeito do consumo diário alimentar. O objetivo foi explorar a associação entre recuperação fisiológica, qualidade da dieta, consumo de álcool e diferentes aspectos do comportamento alimentar, envolvendo fome e saciedade. Os resultados foram comparados com dados coletados no início do estudo, antes da intervenção no estilo de vida. “O estudo demonstra que a maior atividade parassimpática durante o sono, indicativa de melhor recuperação fisiológica, está associada a maior qualidade da dieta promotora da saúde e menor consumo de álcool e, possivelmente, também a hábitos alimentares, especialmente fatores que afetam nossa decisão de comer. Especialmente os participantes com um bom equilíbrio de estresse relataram melhor qualidade geral da dieta, maior ingestão de fibras, maior autocontrole na rotina alimentar e menor consumo de álcool do que aqueles com um desequilíbrio maior de estresse”, explica o Dr. Juliano.
Segundo o médico geriatra, dormir bem também é muito importante para envelhecer com saúde, já que é durante o sono que o organismo passa por um processo de reparação e regeneração. “O recomendado é dormir entre 7 e 8 horas por noite. Fugir desses valores é colocar a saúde em risco, pois já temos evidências que a falta de sono pode prejudicar o coração e o cérebro e diminuir a longevidade”, recomenda o médico. Além do fator tempo, a qualidade também importa, uma vez que pacientes com apneia do sono (ronco) têm maiores riscos cardiovasculares. “Uma boa dica para melhorar o horário e a qualidade do sono é ter refeições mais leves durante o período noturno e aumentar, gradativamente, em 15 minutos o tempo de sono, indo para cama preferivelmente mais cedo”, informa o Dr. Juliano.
No entanto, os pesquisadores ressaltam que o desenho do estudo transversal não permite conclusões de causalidade. “É importante salientar que hábitos saudáveis de vida, como boa alimentação e prática de exercícios físicos também influenciam a qualidade do sono, de forma que é difícil concluir se uma recuperação melhor leva a uma dieta mais saudável ou se uma dieta saudável oferece suporte a uma recuperação melhor”, finaliza o médico nutrólogo.
FONTE:
*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Cardiologista, Geriatra e Nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Especialista também em Clínica Médica, Medicina de Urgência e Ergometria. É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal. Atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. É diretor médico do V'naia Institute. Diretor Científico Brasil da European Academy of Personalized Medicine. Membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês.