A pandemia impulsionou a busca de planos de saúde pelos brasileiros. É o que demonstra o recém-divulgado Boletim Covid 19 da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Os dados colhidos junto às operadoras apontam a adesão de mais de 1 milhão de pessoas a um plano de saúde desde a chegada do coronavírus ao Brasil, chegando a 48 milhões (o equivalente à população da Espanha). É também o maior número registrado desde setembro de 2016.
A expansão foi maior entre quem tem acima de 59 anos, público que mais foi vítima do coronavírus no início da pandemia. O crescimento foi superior também entre os planos coletivos empresariais, que registraram avanço de 2,48%, seguido por planos coletivos por adesão (1,37%) e familiares (0,07%).
Para a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), entidade que representa os 15 maiores planos do país, o crescimento no número de beneficiários provocado pela Covid reforça a preocupação não só dos brasileiros com a saúde, mas também das empresas. "A pandemia tornou ainda mais relevante o papel dos planos de saúde nos pacotes para atração e retenção de talentos no setor privado, mesmo num ambiente de queda do emprego", diz a diretora executiva da entidade, Vera Valente.
Outro destaque foi o aumento da base entre os idosos, faixa que mais aderiu a planos. Entre março e dezembro de 2020, o número de beneficiários com mais de 59 anos nos planos coletivos empresariais subiu 3,8%, ante 2,36% na faixa abaixo dessa idade. Para os planos coletivos por adesão, o número de beneficiários idosos aumentou 1,84%, contra 1,23% entre os mais jovens. Já nos planos individuais e familiares, houve aumento de 2,65% no índice de maiores de 59 anos atendidos, enquanto houve queda de -0,9% entre os mais jovens.
"Planos de saúde funcionam com base no conceito de solidariedade entre as gerações, mecanismo em que o que é pago pelos mais jovens ajuda a custear o tratamento dos mais idosos, naturalmente mais caros. O aumento da procura por quem tem acima de 59 anos ilustra como esse sistema é importante e funciona como seguro, sobretudo em épocas críticas como a atual", avalia a executiva da FenaSaúde.
Ocupação alta, impacto nos custos
O boletim da ANS confirmou também a sobrecarga sobre o sistema de saúde privada no primeiro trimestre deste ano, o que trouxe pressão sobre os custos das operadoras. A internação em UTI para tratamento de pacientes com Covid atingiu no mês passado o maior índice desde a chegada do coronavírus ao Brasil, com 80% - eram 54% em outubro do ano passado.
Essa explosão de uso do sistema de saúde para a pandemia ocorreu ao mesmo tempo que a demanda para outras doenças continuou elevada: fevereiro e março bateram o recorde de ocupação de leitos para fins não-Covid, com 75% e 73%, respectivamente. O número de autorizações para exames e terapias também cresceu 37% em março. Parte desses atendimentos não são urgentes, como cirurgias de varizes, amígdalas ou bariátricas, que acabam ocupando leitos e pressionando os profissionais de saúde e a estrutura de hospitais.
"As operadoras vão fechar o primeiro trimestre com o maior custo assistencial da história por causa do avanço da pandemia e da manutenção de procedimentos não urgentes em níveis muito altos", diz Vera Valente. "As internações por Covid são mais prolongadas, especialmente em UTIs, que apresentam custos duas a três vezes maiores que os leitos de internação não-Covid", detalha a diretora executiva da FenaSaúde.
Esse aumento de uso gerado pela pandemia, somado à continuidade de tratamentos não-Covid que não eram urgentes, pressiona ainda mais os custos do sistema e gera impacto nos valores pagos pelos beneficiários, já que as despesas dos planos de saúde com o atendimento aos usuários pesam sobre o cálculo das mensalidades.