Com o aumento dos casos confirmados de Covid-19 e o avanço do número de internações, outro índice que vêm apresentando crescimento significativo é o de pacientes que necessitam ser submetidos à hemodiálise durante sua permanência na UTI.
No HCor, hospital multiespecialista em São Paulo, nesta segunda-feira (5), 26% dos internados com Covid-19 em suas Unidades de Terapia Intensiva estão sob prescrição do procedimento - tanto em máquinas contínuas quanto em equipamentos tradicionais.
"Pacientes mais críticos, com insuficiência renal aguda e instabilidade hemodinâmica (pressão arterial persistentemente anormal ou instável), estão em diálise contínua. Já os que apresentam comprometimento renal com pressão estável, seguem com a diálise tradicional, com protocolo específico para o quadro", relata Leda Lotaif, líder médica da Nefrologia do HCor.
No hospital, a demanda por esse tipo de procedimento subiu, o que fez com que a instituição dobrasse a quantidade de equipamentos para diálise contínua desde o início da pandemia.
"No começo, tínhamos oito máquinas contínuas, depois fomos para dez. Agora, estamos com 15 equipamentos para esse tipo de terapia", comenta a médica, que enfatiza o fato de que a instituição já prevê receber mais quatro máquinas nos próximos dias.
A Covid-19 e os rins
Considerada uma doença sistêmica, a Covid-19 também tem demonstrado o acometimento dos rins. Um dos motivos levantados pelos especialistas é que a "tempestade" inflamatória (uma reposta exagerada do sistema imune na tentativa de combater o vírus) possa também afetar os órgãos causando inflamação, a chamada nefrite.
Também existe a possibilidade de ação direta do vírus nos rins, as alterações causadas pela trombose e os efeitos hemodinâmicos - relacionados por medicamentos eventualmente necessários no tratamento e até a ventilação mecânica - que podem prejudicar a função dos órgãos e levar a quadros de insuficiência renal aguda.
"São quadros ligados às complicações que advêm da Covid-19, já que ela leva à infecção secundária, à sepse de origem pulmonar bacteriana, entre outros", esclarece Leda.
A insuficiência renal é caracterizada pelo comprometimento da função dos rins, com o inchaço devido à retenção de líquido, náuseas, falta de ar, fadiga e déficit de urina. Nesses pacientes, a hemodiálise é necessária para equilíbrio hídrico, e dos eletrólitos e das toxinas do sangue.
O procedimento funciona como uma substituição artificial dos rins: o equipamento recebe o sangue do paciente por um acesso vascular, que é exposto à solução de diálise (dialisato) por meio de uma membrana semipermeável, retirando o líquido e as toxinas em excesso e devolvendo o sangue limpo para o paciente.
Acompanhamento pós-alta
Outra preocupação das equipes de saúde é com a necessidade de acompanhamento pós-alta desses pacientes. Isso porque a ocorrência de quadros de insuficiência renal aguda é sabidamente um fator de risco para o desenvolvimento - no futuro - de doenças renais crônicas.
"Todos os pacientes que precisaram ser submetidos à hemodiálise durante a internação por Covid-19 precisarão ser acompanhados por um nefrologista depois da sua recuperação. Em alguns deles, já na alta hospitalar, identificamos algum grau de insuficiência crônica", ressalta Leda.
Vale lembrar que pacientes com doenças renais crônicas são considerados grupo de risco na Covid-19, realidade que, para a nefrologista, é acompanhada ainda de um fator complicatório: o de que essa população não consegue seguir à risca o isolamento social, por precisar se deslocar muitas vezes na semana para as sessões de hemodiálise.