A diversidade tem cada vez mais se tornado um conceito presente na vida de todos. O respeito às pessoas, independentemente de raças, etnias, crenças, orientações sexuais, idades, gêneros, regiões e culturas é fundamental tanto na vida pessoal quanto profissional. Nas empresas, tem colaborado para torná-las mais responsáveis, além de equilibrar a representatividade de grupos minorizados. Por isso, é notável como crescer o número de empresas com políticas e estratégias que primam por esse quesito.
As ações variadas, com certeza, estabelecem um equilíbrio de equipes, departamentos, metas, para que uma companhia funcione regularmente. Porém, é impossível não deixar de ressaltar um ponto importante nesse cenário: existe um certo tabu quando se trata de profissionais acima dos 50 anos de idade.
É nítido ver players no mercado, seja do tamanho que for, tendo opiniões declaradas de que um jovem na faixa dos 25-30 anos é muito mais capacitado e atualizado do que um adulto de 50-60 anos, principalmente em termos de tecnologia. Por isso, eu te convido a fazer uma simples reflexão: se um médico tem muitos anos de experiência significa que ele deve ser muito bom em sua área de atendimento. Então, por que não pensar isso também de um profissional, principalmente aqueles acima de 50 anos de idade, independentemente da área de atuação?
Um exemplo é Charles Flint, fundador da IBM que criou o grupo de tecnologia aos 61 anos. Foi somente depois de participar da formação de diversos conglomerados americanos, que o empresário formou a holding Computing-Tabulating-Recording Company em 1911, que daria origem à IBM nos anos seguintes. Flint permaneceu no conselho de administração da empresa até 1930, quando se aposentou, aos 80 anos.
E essa realidade não mudou. De acordo com a pesquisa Idade e Empreendedorismo de Alto Crescimento do professor do MIT Sloan, Pierre Azoulay, e do estudante de doutorado Daniel Kim, a idade média dos empreendedores que iniciaram empresas e contrataram pelo menos um funcionário, nos EUA, é de 42 anos.
Posso dar aqui vários outros breves exemplos, como de Henri Nestlé que inventou a farinha láctea aos 52 anos, ou Joseph A. Campbell das Sopas Campbell’s que abriu a primeira fábrica também aos 52 anos e Harland Sanders do KFC, que vendeu a primeira franquia aos 62 anos.
Mas, quando falamos em diversidade e, neste caso, referindo-se a estes profissionais mais “experientes”, existe um termo que descreve bem essa perspectiva: o ageísmo, que de acordo com o dicionário de português online, significa “aversão, visão negativa e preconceito direcionado a pessoas mais velhas”. Ou seja, tal expressão explica exatamente essa visão, ocasionada pelo século XXI, de que os mais jovens são sempre os mais “capacitados”.
Discordo dessa visão de forma generalizada. Ser um líder leva tempo. Pessoas seniores fazem toda a diferença, ajudando a criar uma nova visão sobre longevidade nos tempos atuais. E vejam só, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro, atualmente, gira em torno de 76,3 anos. Porém, segundo pesquisa do mesmo órgão, existe uma projeção de que em 2043, um quarto da população brasileira deverá ter mais de 60 anos, enquanto a proporção de jovens até 14 anos será de apenas 16,3%.
Segundo um artigo da BBC, o número de desaposentados nos Estados Unidos duplicou de 1985 até hoje e cerca de 40% dos trabalhadores aposentados em algum momento decidem retornar ao trabalho e procurar novos postos. Então, é mais do que hora mudar a visão e combater o ageísmo, pois a realidade brasileira mostra que, nos últimos anos, muitos daqueles que já têm direito a se aposentar preferem continuar trabalhando. E embora muitas empresas já estejam combatendo o ageísmo diante de um caminho tortuoso, são os líderes que estão começando a agir para mudar esse ciclo vicioso e mostrar que a experiência e habilidades são aliadas.
É preciso incentivar os mais experientes a compartilharem seus conhecimentos, pois com toda certeza, têm muito a contribuir. É vital incentivar o diálogo entre gerações. Incentivar a troca de conhecimento entre departamentos e oferecer, inclusive, cursos e treinamentos para que todos os colaboradores estejam com seus conhecimentos equilibrados e não se sintam menos capacitados que os mais jovens.
Um filme que retrata muito bem o valor dos profissionais mais experientes se chama Um Senhor Estagiário, que conta a história de Ben Whittaker (Robert De Niro), um senhor de 70 anos que, ao perceber sua vida se tornar mais triste e pacata após sua aposentadoria e morte de sua esposa se candidata a uma vaga de um programa de estágio para idosos. Ao ser aprovado, passa a trabalhar num e-commerce e o desenrolar mostra como a relação entre jovens e maduros pode ser promissora e trazer reconhecimento e crescimento para ambos os lados.
Se toda essa perspectiva que foi retratada em um filme, considerado sucesso de bilheteria, teve um grande reconhecimento e tal prática já tem sido aplicada em algumas empresas espalhadas pelo nosso mercado de trabalho, por que não refletirmos ainda mais sobre isso e aplicarmos em nosso dia a dia?
As áreas de comunicação e marketing, mais propriamente dita, podem ser cruéis sobre o ageísmo, mas como já disse em outros artigos, ser líder, na atualidade, é influência. Afinal, para gerar conexão com as pessoas, é preciso ser autêntico, inteiro, verdadeiro e, assim, aprender a integrar gerações e suas diversidades. Por isso, a experiência e o conhecimento são peças-chaves que não devem ser descartadas. Quando falo de conhecimento, vejam bem, não estou falando apenas de bagagem acadêmica; aprendi isso tarde, mas aprendi. Ser líder hoje dá muito mais trabalho.
Portanto, acredito piamente na união da prática da liderança com a diversidade, para encontrar um caminho de muito sucesso e excelência profissional que agregue pessoas. Se uma empresa não promove a inclusão, estará naturalmente promovendo a exclusão e consequentemente apoiando a segregação. Portanto, as empresas precisam estar preparadas para receber e manter colaboradores de nível sênior em seus quadros com ações que gerem o equilíbrio entre todos.
Marcelo Trevisani
Com mais de 18 anos de experiência como profissional nas áreas de Digital Marketing, Transformação Digital, Inovação, Chief Marketing Officer, é considerado um dos nomes mais relevantes da área. Participou de grandes cases de Marketing Digital do Brasil para empresas como Tecnisa, BRF, Itaú, Coca-Cola, Nestlé e Vivo, além de ter sido finalista e vencedor em prêmios como Caboré 2017 e CMO 2019, respectivamente. Atualmente, como Chief Marketing Officer, embasa seu trabalho em 3 pilares: Marketing - pelo foco no consumidor, Growth – pelo foco em crescimento de negócio e Marketing Digital e Growth Hacking – como facilitadora de trabalhos. Foi criador e professor do primeiro curso de pós-graduação em Marketing Digital do Brasil, além de professor de MBAs e Pós-Graduações por mais de 10 anos em instituições como ESPM, FGV Business School e FIAP. Também é palestrante em eventos relacionados à Nova Economia, Transformação Digital, Marketing Digital e Growth Hacking em locais como ESPM, Endeavor, CUBO Itaú, SEBRAE, Digitalks, Casa Digital, ProXXima, Social Media Week, In Companies entre outros.