Foi o pior desempenho desde 1990, ano do confisco das cadernetas de poupança por Fernando Collor, quando o PIB desabou 4,35%. Mesmo assim, o resultado ficou acima da expectativa do mercado – pela estimativa das principais instituições financeiras a projeção era de uma queda ligeiramente maior, de 4,2%.
A educação está dentro do grupo de serviços, cujo tombo foi de 4,5%. Medidas para conter a Covid-19, como a restrição das aulas presenciais, contribuíram para desaquecer o setor e causaram dores de cabeça para escolas e universidades. Que lições devemos tirar disso e o que podemos esperar para o futuro?
O primeiro recado claro é que as empresas do setor educacional precisam se reinventar – e rápido. Mesmo que a vacina chegue para todos os brasileiros – expectativa que não recomendo nutrir no curto prazo –, é razoável supor que o mercado nunca mais será o mesmo depois da pandemia. Para quem investiu em boas plataformas e capacitou professores, as aulas online derrubaram a resistência de estudantes e pais, provando que a mediação da tecnologia é uma aliada, e não uma barreira para a educação. Ainda que tenhamos a sorte de ver uma guinada do PIB em breve, o setor não voltará a ser o mesmo.
Outra mensagem embutida é geracional. Para virar o jogo, o desafio das empresas de educação é entender a geração Z, a primeira a nascer em ambiente 100% digital, e transformar isso em ponto forte. Estamos falando de quase 70 milhões de brasileiros nativos digitais, com nenhuma lembrança de como era o mundo antes da internet. Games, robôs, aplicativos e redes sociais são ecossistemas familiares para uma geração inteira de estudantes, para quem a interatividade é vital como oxigênio. Por isso, não considero uma estratégia inteligente retirar o aluno do seu habitat para dar uma aula, pois é real a chance de se tornar chata e desinteressante.
Por fim, a pandemia é o pano de fundo para a queda do PIB do setor de educação, mas não podemos atribuir tudo a ela. É bem provável que alguns sinais de obsolescência já estivessem presentes antes do vírus – e só se acentuaram. E aqui vem o recado principal: é urgente rever a mentalidade da gestão nas empresas de educação, pois elas têm a responsabilidade de formar o Brasil do futuro.
E a mensagem vale para organizações públicas e privadas, sem distinção. Líderes preparados, conectados ao novo e sem medo de rever as próprias crenças são mais necessários do que nunca. Se quisermos um bom lugar no foguete rumo à era da tecnologia e do conhecimento, os recados estão claros. O momento de ouvi-los é agora.
Bernardo Kbabben - Presidente da Associação Brasileira de Polos de Ensino a Distância (ABPolos) |