A Pesquisa, que se baseou na reconstrução da árvore familiar do pintor, reuniu certidões paroquiais e documentos mantidos pelo governo italiano nos Arquivos de Estado e Arquivos Históricos Nacionais.
Ao seu término, conseguiu identificar 35 descendentes, de ramos diferentes, sendo um destes o diretor de cinema e ex-senador italiano Gianfranco Corsi Zeffirelli, que até então tinha 93 anos. Essa pesquisa abriu portas para que aos poucos surgissem outros descendentes, mas até então não havia nenhum brasileiro. Vinci Corsi, um jovem advogado, escritor e cantor ítalo-brasiliani de apenas 23 anos foi o primeiro brasileiro a entrar nessa lista pelo ramo Corsi, o mesmo que compartilha com Zefirelli.
A árvore genealógica de Vinci coincidiu com a de Zefirelliem 2017, quando a organização mórmon dos EUA “FamilySearch” e os pesquisadores pagos até então pelas famílias americanas para traçar a genealogia Corsi presente na Toscana em 2012 esbarraram em uma árvore criada por Vinci naquele site. A estadunidense e mórmon Cleone Barrus foi a principal responsável pela ligação.
Uma das consequências desta conexão com um ramo nobre florentino foi a concessão da cidadania italiana para todos os familiares de Vinci Corsi, que hoje moram fora do país, e o resgate do Marquesado perdido de Caiazzo, constatada por historiadores e pesquisadores de algumas universidades italianas.
A historiadora italiana e professora universitária DonatellaPegazzano mencionou em seus artigos a respeito do Marquesado de Caiazzo, assim como Tim Carter, um escritor americano, e Elisa Goudriaan, pesquisadora holandesa. Este título até então perdido, foi um antigo feudo napolitano da cidade de mesmo nome, que, concedido pelo Rei Filipe III da Espanha em 1615 à Bardo Corsi, foi aos poucos desabitado pelo surto da peste em 1656, o terremoto de 1688, até sua ocupação em 1709 pelos austríacos e 1799 pelos Franceses, o que motivou o abandono da família Corsi do feudo, sem a venda do título, o que em tese, o manteve na posse do ramo familiar brasileiro até os dias de hoje.
Segundo a história contida nos artigos sobre o Marquesado de Caiazzo, a linhagem de Vinci remonta ao Marquês Florentino Antonio Corsi, nascido em 1625, que apaixonou e casou-se com uma camponesa chamada “Giovanna Boni” da vila de San Pellegrinetto in Alpe. Desta relação detiveram três filhos, o dodecavô de VinciCorsi, Giovanni, em 1647, e seus irmãos Maria e Antonio. Com a morte de Giovanna, em 1653, Antonio casou-se novamente em 1656, desta vez com uma Patrícia Nobre de Firenze, a senhora Giulia Corsini, com ela tendo apenas um filho, também chamado Giovanni, em 1666.
Com a morte do Marquês Antonio em 1679, os títulos e eventualmente as posses e bens foram divididos entre os filhos. Sob pressão da família Corsini, o filho da nobre Giulia, que tinha apenas 13 anos à época da partilha, manteve para si as posses e os bens florentinos, incluindo o Palazzio Tornabuoni e a Villa em Sesto, enquanto o ramo cadete, filhos da camponesa Giovanna, incluindo ododecavô Vinci Corsi, foram enviados para cuidar do Marquesado de Caiazzo.
Com o terremoto de 1688 e a destruição parcial do Castello de Caiazzo, os filhos da camponesa retornaram a Florença, mas encontraram um verdadeiro campo minado. Além do apoio da família Corsini, tanto político, quanto diplomático e armado, o filho mais novo estava com 22 anos, havia se casado com a Condessa Teresa Lotteringhidella Stuffa, e com ela já havido um filho de três anos à época, nomeado Antonio em homenagem ao pai. Obviamente recusou-se a ceder qualquer tipo de terra pacificamente.
Sem saída, então, os irmãos partiram para a Vila de sua falecida mãe, em San Pellegrinetto, onde encontraram refúgio e ali se estabeleceram, como camponeses, no prelúdio de um dia retornarem a Caiazzo para pelo menos reaverem sua terra.
É nesse ponto que as histórias florentinas se desenham de maneiras diferentes e “nasce” uma brasileira. Enquanto os descendentes de Florença mantiveram-se ricos e dotados de títulos como o Marquesado de Montepescali, e todas as posses florentinas, aqueles provenientes da Vila de San Pellegrinetto tornaram-se cada vez mais pobres, a ponto de decidirem abandonar o país, em 1896, rumo ao Brasil e outros países americanos como colonos. Daí seu surgimento, disseminação, e principalmente apagamento histórico, pois se tratavam de quase 208 anos de gerações nascidas fora do poder e controle monárquico florentino.
Essa vinculação também agregou outros nomes a árvore brasileira, como o compositor e pai da ópera Jacopo Corsi, tetrakaidecavô direto do Cantor, responsável pela primeira ópera mundial, Dafne, de 1597, Euridice, de 1600, a comissão de Orfeu, uma estátua de Cristofano Stati hoje exposta no New York Metropolitan Museum, além de muitos outros feitos.
Esse resgate familiar dado a Vinci Corsi após tantos anos de apagamento e silenciamento, é um resgate também histórico e, principalmente, brasileiro, pois permite ao pobre ter pertencimento, passado e direito a um “título” que até então sequer memoravam, mas que sempre esteve ali.