Cultura - Educação

Como melhorar a comunicação no casamento?

11 de Dezembro de 2020

Se há uma unanimidade entre leigos e letrados é que a qualidade comunicação é um predito importante na saúde da relação. Então vamos discorrer sobre esse tema tendo como base algumas pesquisas consistentes e reveladoras que comprovam que “quem não se comunica se trumbica”.

Jean Piaget foi um psicólogo, biólogo e epistemólogo suíço que revolucionou o modo de encarar a educação. Através de suas pesquisas, ele mostrou que crianças constroem seu aprendizado de forma diferente dos adultos. Ele cunhou o termo “monólogo coletivo” que refere aquele bate-papo entre os pequenos em que todos falam e nenhum ouve. Só que essa característica também se aplica ao longo da vida, em diálogos desconectados entre amigos, familiares e casais. É um tipo de conversa superficial e aparentemente inofensiva, o oposto de uma conversa afinada. No certame ‘casamento’ o excesso de “monólogos coletivos” vai construindo desconexão, pois impede que o casal atinja o tipo de proximidade que solidifica o laço.

Ok, então você está dizendo que eu tenho que parecer interessada em escutar o meu marido? Não, eu sou uma pessoa de metas arrojadas! Eu estou dizendo que você precisa estar interessada de fato. É alicerçado nesse pequeno grande detalhe que a arte da conversa íntima florescerá. E aqui proponho começarmos do fácil para o difícil. Como diria um bom Behaviorista: “aproximações sucessivas do comportamento alvo”.

Para isso apresento outro teórico: John Gottman (1994, 2014). Baseado em pesquisas contundentes, ele criou uma metodologia que pode ajudar você a melhorar sua afinação conjugal! Ele sugere a prática diária baseada nas orientações que seguem. Ela pode ser engatilhada com um simples “Me fale sobre como foi seu dia amor?”.

 1. Expressem sentimentos com palavras

É surpreendente como temos um baixo repertório para falar de emoções. Geralmente na prática clínica ao perguntar aos meus clientes “Como você se sentiu?” eles prontamente me respondem sobre como eles pensaram. Parte do papel da psicoterapia é criar um vocabulário para expressar sentimentos. E como eu sou uma pessoa bem legal, segue abaixo uma listinha que eu colei do Gottman (2014) para inspirar suas conversas com o seu amor!

Emoções satisfatórias:

Alegre, Animada, Atraente, Boba, Divertida, Entretida, Excitada, Feliz, Nostálgica, Orgulhosa, Poderosa, Querida, Respeitada, Satisfeita, Segura, Sensual, Sortuda, Tranquila, Valorizada.

Emoções aversivas:

Alienada, Raivosa, Envergonhada, Criticada, Culpada, Defensiva, Fraca, Frustrada, Ignorada, Incompreendida, Inferior, Insegura, Irritada, Não amada, Paralisada, Sozinha, Triste, Teimosa, Tensa, Traída.

Acolher e compartilhar ao invés de evitar emoções é um recurso fundamental para saúde emocional individual e para a consequente afinação conjugal. Mas e quando eu não souber nomear a minha emoção? Você pode pedir uma maõzinha ao seu parceiro, conversando sobre isso e solicitando que ele te ajude a nomear. Com uma pitada de bom humor pode até ser engraçado!

Eugene Gendlin, filosofo e psicólogo americano, construiu uma linda ponte entre as duas ciências, desenvolvendo a “Filosofia do Implícito”. Uma abordagem sustentada na relação mente-corpo. Ele é o fundador de um método experiencial e corporal chamado “Focalização” (Focusing) que envolve olhar para dentro do seu eu, encontrar uma sensação corporal e significa-la (Felt- Sense). Sabe quando você prova uma comida nova? Quando se propõe a focalizar a atenção em um novo sabor? É como se você se sentasse para aprender mais. Só que esse foco será no seu estado interno, direcionando sua curiosidade para perceber como as suas emoções se expressam no seu sentir físico. Com prática, coragem, curiosidade e compaixão você ficará mais perspicaz para detectar suas emoções e nomeá-las.

Já a terapeuta Julie Gottman, esposa de John, nos presenteia com um exercício inteligente. Após um relaxamento ela sugere que você diga em voz alta algo que não é verdade sobre você, por exemplo “Eu odeio o meu gato!”. E preste atenção em como seu corpo reage. Focalizando como bem nos ensinou Gendlin. A seguir solicita que você diga, em voz alta, a verdade “Amo o meu gato!” e mergulhe para perceber a diferença entre as respostas do corpo. Assim você conseguirá perceber o contraste para determinar como as palavras se encaixam em emoções reais. Legal né?!

 2. Faça perguntas abertas

Perguntas abertas são as queridinhas do papo que flui. São questões arquitetadas de forma que a resposta não possa ser monossilábica do tipo “sim”, “não”, “talvez”. Elas podem começar com “Até que ponto...”, “Conte-me a respeito...”, ou ainda “Me ajude a entender...”.

As perguntas abertas gostam muito de conversar. Elas demonstram interesse e exigem respostas mais aprofundadas. Sem rotular emoções ou parecerem tendenciosas. Ela se aplica a conversas diárias e também a assuntos mais significativos. Encorajam a fala do outro e promovem conexão.

 3. Complementem com frases que aprofundem a conexão

Isso é estupido de tão simples, mas funciona que é uma barbaridade. Simplesmente repita o que o seu parceiro disse, sem presumir nada e nem colocar palavras na boca dele. Não é hora de ser criativo, é hora de demonstrar que você o estava ouvindo.

Quando você reflete os pensamentos e sentimentos do seu parceiro de forma compreensiva, você o encoraja a se abrir mais. Uso muito esse recurso no consultório, principalmente em início de vinculo terapêutico. Serve para eu conferir se eu entendi bem o cliente e para que ele se sinta ouvido e compreendido por mim.

 4. Expressem compaixão e empatia

Aqui temos o famoso D.R.E da Sue Johnson (2012): disponibilidade, receptividade e envolvimento. A postura que alicerça a base segura para que a gente se desnude. Aqui também é simples: ouça. Ouça ouvindo. Genuinamente. Estando presente. Interessado e empático. E contenha o ímpeto de opinar. Na hora que o outro está entregando o seu coração, você vir todo montado no pragmatismo é tão brochante... Pode acreditar, voz da razão, nesse momento, não é a melhor abordagem.

O aconselhamento impulsivo pode ser sentido como um descaso ou um insulto para o interlocutor. Você está lá todo querendo um carinho e seu parceiro te entrega um livro de “como fazer”. Ninguém merece um abraço letrado!

E se eu não souber o que fazer? Se você teme ficar mais perdido que cego em tiroteio segue a blindagem que já me salvou de vários apertos. É uma das intervenções preferidas da Terapia do Esquema: “Do que você está precisando?”. Pergunte, você não tem que ter todas as respostas. Interesse genuíno, curiosidade e humildade para questionar são super poderes nesse momento.

Então olhe para os sentimentos, os seus e os dele. Lembre-se que uma boa conversa é fluida como uma dança e não truncada como uma luta. E me despeço desse texto com uma das minhas frases preferidas da genial escritora e terapeuta familiar Virgina Satir (1976). “A comunicação está para o relacionamento assim como a respiração está para a manutenção da vida”. Que ela inspire sua dança e ajude você a construir conversas afinadas.

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