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Mais de 8 milhões de trabalhadores devem receber 13º salário reduzido

20 de Novembro de 2020

Economista João Gondim Neto também alerta que situação pode se repetir em 2021 em razão da possibilidade de uma segunda onda da pandemia e dá dicas de como se ajustar as contas desde já para não depender dessa receita extra no final do ano

Planejador financeiro pessoal João Gondim
Divulgação

O final do ano chegou e, com ele, muitos trabalhadores já esperam pelo 13º para preparar as compras de final de ano, quitar contas atrasadas e fazer novos investimentos já pensando em 2021. De acordo com cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o benefício pago a trabalhadores com carteira assinada e a aposentados e pensionistas do INSS deve injetar R$ 208 bilhões na economia neste ano marcado pela crise provocada pelo novo coronavírus. Mas o valor é 5,4% menor do montante pago em 2019. 

O economista e planejador financeiro pessoal, João Gondim Neto, explica que a queda do valor é reflexo das mudanças provocadas pela Medida Provisória 936, que permitiu a suspensão de contrato como medida para manter as vagas de emprego. Segundo o Ministério da Economia, cerca de 9,7 milhões participaram dos acordos previstos na Medida Provisória, sendo que 8,3 milhões tiveram o contrato suspenso em algum período entre abril e outubro. 

“O 13º será reduzido para muitos trabalhadores, neste ano, porque ele é calculado com base nos meses em que o trabalhador prestou serviço por mais de 15 dias e, como houve suspensão do contrato de trabalho, a expectativa é de que os meses em que o colaborador não trabalhou não sejam contabilizados e, consequentemente, vai impactar o valor a ser recebido”, destaca o planejador financeiro pessoal.

João explica que aqueles que tiveram o contrato de trabalho suspenso por algum período terão que fazer adequações significativas e se prevenir para não ser surpreendido com novas reduções. No próximo ano, é possível que esse ganho extra volte a sofrer impactos caso aconteça uma segunda onda da Covid-19 que exija novamente o isolamento social.

“A Europa passa por uma segunda onda e alguns países enfrentam por uma nova fase de lockdown. Com a eleição do Joe Biden nos Estados Unidos, há uma tendência de que o novo presidente também tome medidas mais restritivas e que podem ser seguidas no Brasil, já que é esperada uma nova onda no próximo ano”, explica Gondim, que é sócio da Real Cultura Financeira, empresa de planejamento e educação financeira. 

Dicas

A dica do economista, que também é planejador financeiro pessoal e ajuda pessoas a organizarem seu orçamento doméstico para conseguir realizar seus projetos, é mudar o hábito de contar com o 13º salário para pagar dívidas. “Na verdade, essa já é uma orientação que damos aos nossos assessorados. A ideia é que essa renda extra passe a ser uma receita para uso futuro, e não para pagar gastos do passado”, afirma. Se neste ano não é possível fazer uma total adequação, ele sugere algumas medidas para começar já a organizar as finanças. Confira:

Você realmente precisa? - Avalie a real necessidade de comprar aquela roupa, sapato para si como presente de natal. O apelo para o consumo nesse época é alto e é comum cair no erro de fazer compras desnecessárias. 

Presentes - Mais importante do que o valor financeiro de um presente é a demonstração do afeto que você tem pelo outro, e isso pode ser externado de várias outras formas. Já pensou em escrever uma carta ou fazer, você mesmo, um presente artesanal? 

Evite parcelamentos -  Assim, o seu ganho futuro já não será comprometido com gastos do passado. Além do mais, quem compra à vista sempre tem mais condições de negociar um bom desconto.

Poupe para comprar à vista - mesmo com a taxa de juros baixa, há opções de investimentos que podem fazer o seu dinheiro render enquanto junta o montante necessário para comprar o presente dos sonhos, inclusive no próximo natal.

Poupe para as despesas anuais - ao invés de contar com o 13º salário para pagar o IPTU, o IPVA ou o material escolar dos filhos, calcule esse gasto anual e divida por 12 e poupe esse montante a cada mês. “Muitas pessoas tentam pagar os gastos eventuais, como o seguro do carro e o IPTU, com a receita eventual, como o 13º e as férias. O ideal seria encaixar o orçamento considerando as despesas eventuais dentro do orçamento mensal”, detalha Gondim.

Já se prepare para o início do ano - a dica acima já pode ser feita no começo do próximo ano. “Se uma pessoa, por exemplo, ganha R$ 6 mil por mês e o somatório dos gastos eventuais totalizam R$ 6 mil por ano, isso corresponde a um gasto mensal de R$ 500 por mês. Ela deve economizar esse valor mensalmente e, dessa forma, quando chegar ao final do ano, ela terá a integralidade do 13º salário, independentemente do valor, para gastar com coisas que trará prazer, como uma viagem”, aconselha.

Empréstimo em último caso - se a redução do 13º foi muito brusca e a pessoa realmente precisa do dinheiro para atender a muitas demandas importantes, é possível considerar um empréstimo para quitar as contas primordiais. “Alongue o prazo ao máximo possível para evitar um comprometimento muito grande do orçamento nos próximos meses, o que levaria ao temido cheque especial, que dá um verdadeiro efeito de bola de neve. Quando receber a próxima receita eventual, quite o financiamento”, orienta o planejador financeiro pessoal.

Crie uma reserva de liquidez - separe uma quantia de, no mínimo, dois meses dos seus gastos e deixe esse valor na poupança ou em um CDI [Certificado de Depósito Interbancário]. O objetivo desse dinheiro é proteger o orçamento para quando as despesas aumentarem ou as receitas diminuírem e evitar que a conta entre no vermelho.

Sobre o 13º Salário

O cálculo do benefício é baseado na divisão do salário por 12 meses e multiplicado pela quantidade de meses em que o trabalhador prestou o serviço por mais de 15 dias. A primeira parcela do benefício deve ser paga entre o dia 1º de fevereiro e 30 de novembro e o restante deve ser repassado para o trabalhador até o dia 20 de dezembro. As empresas que não cumprem essas datas são multadas por atraso.

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