Economista João Gondim Neto também alerta que situação pode se repetir em 2021 em razão da possibilidade de uma segunda onda da pandemia e dá dicas de como se ajustar as contas desde já para não depender dessa receita extra no final do ano
Planejador financeiro pessoal João Gondim |
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O final do ano chegou e, com ele, muitos trabalhadores já esperam pelo 13º para preparar as compras de final de ano, quitar contas atrasadas e fazer novos investimentos já pensando em 2021. De acordo com cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o benefício pago a trabalhadores com carteira assinada e a aposentados e pensionistas do INSS deve injetar R$ 208 bilhões na economia neste ano marcado pela crise provocada pelo novo coronavírus. Mas o valor é 5,4% menor do montante pago em 2019.
O economista e planejador financeiro pessoal, João Gondim Neto, explica que a queda do valor é reflexo das mudanças provocadas pela Medida Provisória 936, que permitiu a suspensão de contrato como medida para manter as vagas de emprego. Segundo o Ministério da Economia, cerca de 9,7 milhões participaram dos acordos previstos na Medida Provisória, sendo que 8,3 milhões tiveram o contrato suspenso em algum período entre abril e outubro.
“O 13º será reduzido para muitos trabalhadores, neste ano, porque ele é calculado com base nos meses em que o trabalhador prestou serviço por mais de 15 dias e, como houve suspensão do contrato de trabalho, a expectativa é de que os meses em que o colaborador não trabalhou não sejam contabilizados e, consequentemente, vai impactar o valor a ser recebido”, destaca o planejador financeiro pessoal.
João explica que aqueles que tiveram o contrato de trabalho suspenso por algum período terão que fazer adequações significativas e se prevenir para não ser surpreendido com novas reduções. No próximo ano, é possível que esse ganho extra volte a sofrer impactos caso aconteça uma segunda onda da Covid-19 que exija novamente o isolamento social.
“A Europa passa por uma segunda onda e alguns países enfrentam por uma nova fase de lockdown. Com a eleição do Joe Biden nos Estados Unidos, há uma tendência de que o novo presidente também tome medidas mais restritivas e que podem ser seguidas no Brasil, já que é esperada uma nova onda no próximo ano”, explica Gondim, que é sócio da Real Cultura Financeira, empresa de planejamento e educação financeira.
Dicas
A dica do economista, que também é planejador financeiro pessoal e ajuda pessoas a organizarem seu orçamento doméstico para conseguir realizar seus projetos, é mudar o hábito de contar com o 13º salário para pagar dívidas. “Na verdade, essa já é uma orientação que damos aos nossos assessorados. A ideia é que essa renda extra passe a ser uma receita para uso futuro, e não para pagar gastos do passado”, afirma. Se neste ano não é possível fazer uma total adequação, ele sugere algumas medidas para começar já a organizar as finanças. Confira:
Você realmente precisa? - Avalie a real necessidade de comprar aquela roupa, sapato para si como presente de natal. O apelo para o consumo nesse época é alto e é comum cair no erro de fazer compras desnecessárias.
Presentes - Mais importante do que o valor financeiro de um presente é a demonstração do afeto que você tem pelo outro, e isso pode ser externado de várias outras formas. Já pensou em escrever uma carta ou fazer, você mesmo, um presente artesanal?
Evite parcelamentos - Assim, o seu ganho futuro já não será comprometido com gastos do passado. Além do mais, quem compra à vista sempre tem mais condições de negociar um bom desconto.
Poupe para comprar à vista - mesmo com a taxa de juros baixa, há opções de investimentos que podem fazer o seu dinheiro render enquanto junta o montante necessário para comprar o presente dos sonhos, inclusive no próximo natal.
Poupe para as despesas anuais - ao invés de contar com o 13º salário para pagar o IPTU, o IPVA ou o material escolar dos filhos, calcule esse gasto anual e divida por 12 e poupe esse montante a cada mês. “Muitas pessoas tentam pagar os gastos eventuais, como o seguro do carro e o IPTU, com a receita eventual, como o 13º e as férias. O ideal seria encaixar o orçamento considerando as despesas eventuais dentro do orçamento mensal”, detalha Gondim.
Já se prepare para o início do ano - a dica acima já pode ser feita no começo do próximo ano. “Se uma pessoa, por exemplo, ganha R$ 6 mil por mês e o somatório dos gastos eventuais totalizam R$ 6 mil por ano, isso corresponde a um gasto mensal de R$ 500 por mês. Ela deve economizar esse valor mensalmente e, dessa forma, quando chegar ao final do ano, ela terá a integralidade do 13º salário, independentemente do valor, para gastar com coisas que trará prazer, como uma viagem”, aconselha.
Empréstimo em último caso - se a redução do 13º foi muito brusca e a pessoa realmente precisa do dinheiro para atender a muitas demandas importantes, é possível considerar um empréstimo para quitar as contas primordiais. “Alongue o prazo ao máximo possível para evitar um comprometimento muito grande do orçamento nos próximos meses, o que levaria ao temido cheque especial, que dá um verdadeiro efeito de bola de neve. Quando receber a próxima receita eventual, quite o financiamento”, orienta o planejador financeiro pessoal.
Crie uma reserva de liquidez - separe uma quantia de, no mínimo, dois meses dos seus gastos e deixe esse valor na poupança ou em um CDI [Certificado de Depósito Interbancário]. O objetivo desse dinheiro é proteger o orçamento para quando as despesas aumentarem ou as receitas diminuírem e evitar que a conta entre no vermelho.
Sobre o 13º Salário
O cálculo do benefício é baseado na divisão do salário por 12 meses e multiplicado pela quantidade de meses em que o trabalhador prestou o serviço por mais de 15 dias. A primeira parcela do benefício deve ser paga entre o dia 1º de fevereiro e 30 de novembro e o restante deve ser repassado para o trabalhador até o dia 20 de dezembro. As empresas que não cumprem essas datas são multadas por atraso.