Dr. Thiago Marra, médico formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, pós graduado em Cirurgia Geral pela Santa Casa de Belo Horizonte e pós graduado em Cirurgia Plástica pelo Hospital Universitário Ciências Médicas, atualmente membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica (CBCP), onde atua em Belo Horizonte, São Paulo e Fortaleza fala sobre a situação atual da pandemia do Covid-19.
Há exatamente 45 dias atrás, Dr. Thiago Marra recebia a notícia de que bares e restaurantes de Belo Horizonte seriam fechados e só poderiam trabalhar em sistema de delivery. Isso ocorreu durante uma semana em que o Dr. Thiago tinha mais de 10 cirurgias agendadas. E o que fazer neste momento? “Logo não houve outra opção se não suspender todos os casos e iniciar o longo período de quarentena. Apesar de as clínicas médicas e hospitais possuírem autorização para o funcionamento, a orientação das sociedades acadêmicas era de suspender as cirurgias eletivas. Conduta prudente tendo em vista que a realização de uma cirurgia implica em diversas questões como aumento de circulação de pessoas, risco de contágio por pacientes em pós operatório, desconhecimento de uma doença com fisiopatologia incerta e sem tratamento específico. Apesar do grande transtorno para os pacientes que se programaram meses e, às vezes, anos para um dia tão esperado, a melhor opção, sem dúvida, foi se resguardar e seguir as orientações”. Afirma o doutor.
Hoje, com mais de 16.000 mortos, o Brasil vive o auge da pandemia. Em meio a turbulências políticas e econômicas, os governadores agem como podem no sentido de amenizar os impactos negativos deste fenômeno da natureza que, vez ou outra, assola a humanidade. Certamente, este período não está sendo fácil para os médicos que trabalham com cirurgias eletivas, em especial, a cirurgia plástica que depende de uma demanda de pacientes particulares e, sem dúvida, será reduzida drasticamente com a recessão que se instalou no país e no mundo, e o doutor e pessimista em afirmar que tudo irá passar. “O fato é que, hora ou outra, tudo isso vai passar e progressivamente as atividades serão normalizadas. Mas quando e como isto deverá ocorrer? Quando olhamos para os países europeus que foram os primeiros a atingirem marcas de 800 mortes por dia, enxergamos uma luz no fim do túnel. A Espanha, por exemplo, hoje possui uma média de 120 mortes por dia, número este que já atingiu 849 e iniciou seu processo de afrouxamento do lockdown. Iremos observar nas próximas semanas se o processo de reabertura não causará novos surtos da doença e, se causar, em qual grau”. Ressalta ele.
No Brasil, esperamos que esta queda dos números se inicie nas próximas 2 semanas. Algumas regiões menos afetadas, talvez iniciem o processo de reabertura um pouco mais precoce, como é o caso de Minas Gerais que apresenta 50% dos leitos de UTI disponíveis e reservados para o COVID, conforme declarou o Governador Romeu Zema, em entrevista à Globo News. “O retorno às cirurgias eletivas, em especial as cirurgias plásticas, deverá ser gradual e conforme o índice de circulação do vírus na cidade. Além de indicadores como disponibilidade de leitos de UTI e número de testes disponíveis para a população. Acredito que a prudência orienta que este retorno seja realizado aos poucos, iniciando com cirurgias menores e menos invasivas, como cirurgia de prótese de mama, mamoplastia, cirurgia das pálpebras, cirurgia do nariz (rinoplastia) e pequenas cirurgias. Cirurgias de maior porte, como abdomnoplastias com lipo, lipoescultura e procedimentos combinados devem ser retomados um pouco mais a diante tendo em vista que podem causar uma redução na imunidade do paciente por promover a perda sanguínea e anemia no pós operatório. O número de acompanhantes deve ser reduzido ao mínimo possível. O número de procedimentos agendados por dia deverá ser menor do que o habitual. Outro fator importante neste processo de reabertura é o aumento do número de testagens dos pacientes. Conforme o tempo passa estes testes encontram-se cada vez mais disponíveis e devem ser cada vez mais utilizados para testagem rotineira dos pacientes, equipe médica, enfermagem e colaboradores”. Enfatiza o médico.
Dr. Thiago Marra finaliza com um recado: “Por fim, deixo aqui meus sinceros sentimentos a todos os parentes e amigos das vítimas desta pandemia. Desejo que nossos governantes possam tomar medidas acertadas neste futuro retorno, para que todo possa retornar a nossas vidas normais sem que causemos um colapso completo do nosso frágil sistema de saúde. Em breve, estaremos novamente exercendo nossa tarefa de contribuir para uma melhora na autoestima das pessoas”. Conclui ele.
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