Com ambiente macroeconômico favorável, o Brasil está ‘barato’ e interessante para investidores estrangeiros, o que beneficia o mercado de fusões e aquisições no contexto econômico nacional e internacional. A constatação foi feita por renomados assessores legais e financeiros que participaram, no último dia 26/9, da Conferência M&A Community Brazil, em São Paulo. O evento foi promovido pela iDeals Virtual Data Room, empresa global de VDR.
O objetivo do encontro foi discutir tendências atuais de M&A com foco nos mercados mais lucrativos e consistentes do Brasil. O mercado de fusões e aquisições nunca esteve tão aquecido. “No primeiro semestre deste ano, houve 390 transações no Brasil, 26% superior em relação ao mesmo período do ano passado (310)”, destacou a advogada Gabriella Maranesi Najjar, do Vella Pugliese Buosi e Guidoni Advogados.
A especialista registrou que os números foram puxados pelo setor de tecnologia com 118 transações, alta de 76%. Em seguida aparece serviços públicos, que dobrou o número de transações em relação ao primeiro semestre de 2018, para 40. O segmento serviços públicos teve crescimento de 55% das transações, para 34, ocupando a terceira colocação. Segundos dados da PWC, a projeção de crescimento é de 25% a 30% no número de fusões e aquisições neste ano.
Ainda sobre as perspectivas de aumento da demanda de M&A, Gabriella Najjar citou as agendas de reformas econômicas (pró-mercado) e privatizações, combinada com a moeda brasileira desvalorizada, além da taxa de juros no menor patamar, como principais fatores que geram apetite de investidores estratégicos.
O advogado Darkson Galvão, do Cescon Barrieu, destacou, contudo, os riscos associados as oportunidades. Lembrou, dentre outros pontos, que insegurança jurídica e instabilidade governamental podem ser os principais entraves aos investimentos no Brasil. O maior símbolo, no momento, tem sido o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que está desde julho sem quórum para avaliar fusões e aquisições, em função da demora para nomear novos conselheiros.
Sobre setores aquecidos citou como tendência as startups nas áreas de HealthCare, de Edtech, de MedTech e Fintech.
Aprimoramento
Representantes dos bancos Santander, Bradesco e BTG Pactual reforçaram, por sua vez, que as operações estruturadas de M&A no Brasil ganharam complexidade com efeito pós operação Lava Jato, da Polícia Federal, e citaram as janelas de oportunidades que surgiram em decorrência das empresas que entraram em distressed por ligação à Petrobras, por exemplo.
“O fator Lava Jato trouxe uma maturidade interessante para o mercado e as operações estruturadas têm ganhado bastante complexidade, com players mais atentos ao tema da corrupção e advogados cada vez mais especializados em mitigar crises nas transações”, destacou Fernando Cerri, do BTG Pactual.
Outro ponto alto do debate em relação ao item mercados lucrativos e consistentes, foi o setor elétrico. De acordo com a advogada Débora Yanasse, do Tauil&Chequer, o mercado de energia renovável do País tem vivido forte movimentação de aporte de capital estrangeiro, principalmente pela tendência verde. Também acrescentou que, com a abertura do mercado de gás e modernização do setor, com seu marco regulatório, ele irá ganhar novos players principalmente com a criação de comercializadoras de gás.
Outro setor onde está ocorrendo movimentação é o agronegócio. “O Brasil é um grande player e atrai muitos investimentos, mas há entraves para compras por estrangeiros de terras brasileiras, por exemplo. Essas compras poderiam destravar US$ 50 bilhões em investimentos nessa área”, assinalou Rafael Martins, diretor jurídico da Yara Fertilizantes.
De acordo com Martins, a liberação de aquisição de terras por estrangeiros tem sido motivo de polêmica e controvérsia. Um dos entraves está na limitação imposta pela AGU em 2010, que decorreu de uma nova interpretação para uma lei de 1971. A tendência, no entanto, é de uma reversão da interpretação com proposta de alteração legislativa que tramita no Congresso Nacional.
Já os advogados Cátia Veloso, do Grupo CCR, Denise Chachamovitz, do Vella Pugliese e Yuri Sahione, do Sahione Advogados discorreram, de maneira prática, sobre as tendências de compliance e anticorrupção em operações de M&A. Dentre os pontos: investimento em Due Diligence de compliance, teoria da ignorância deliberada e seus impactos, crimes não detectados nas diligências e seus impactos nos investidores.
Por fim, o chief revenue officer da iDeals, Alexander Khlevnuk, destacou que o evento cumpriu seu objetivo de fortalecer ainda mais a comunidade de M&A, promovendo o networking dos seus principais atores com produtivas discussões para o avanço desse mercado. Citou o Brasil como um promissor mercado, com uma economia que está aquecendo. “E como somos uma empresa global, vemos uma grande oportunidade de conectar pessoas e negócios em todo o mundo para discutir ideias e as necessidades que envolvem todo o processo de fusões e aquisições. É possível conectar informações de operações na Europa com o que está acontecendo na Ásia, por exemplo”, finalizou.