O melhor negócio e ficar sempre com o conjunto. Na linguagem dos tempos rurais, é o mesmo que comprar com a porteira fechada. Tudo o que está lá passa a ser de minha propriedade e posso dispor dele como quiser. Inclusive as pessoas. Posso demitir todos e nomear gente de minha confiança, não importa a competência nem o tempo que andaram trabalhando por lá. O fato é que elas foram nomeadas por outro e não são do meu time. Quando se recebe um ministério no governo o trato é que seja de porteira fechada, em troca do apoio ao presidente no Congresso. Um preço caro, mas o custo benefício é bom. Os projetos do seu grupo de interesse não vão ficar fora da pauta, ou encalacrados em uma comissão e ninguém sabe dizer porquê. Só mesmo um forte grupo de lobistas ou a troca de um ministro são capazes de fazê-lo progredir. É importante ter nas mãos as nomeações dos cargos, mesmo o que não tenham grande importância, geralmente chamado de “casas das máquinas”, o que numa fazenda seria o papel de um peão de boiadeiro. O salário é baixo mas é possível acomodar os pedidos dos amigos, parentes, correligionários, puxa sacos e outros próximos. Os cargos mais nobres são reservados para os que vão ajudar a manejar a estrutura do ministério a favor do chefão. Pode ser através da negociação de uma propina “para a campanha eleitoral “, realização de solenidades para angariar votos e se perpetuar no poder até instalar um ou uma amante que também é mantida pelo dinheiro do Estado. Ou melhor do contribuinte.
A legitimidade dessa distribuição dessa imensa riqueza de posse do Estado é dada pelas eleições e as escolhas feitas pela população, ainda que ela não entenda que o que está sendo disputado não é o governo, mas o Estado. O instrumento de consolidação da conquista é o partido, que já tem a estrutura completa e apta para assumir todos os postos, inclusive para os quais não foi eleito. É tudo meu, rejubilam-se o acólitos de sempre. Quem é que fica com o quê. Os partidos originaram-se na competição pelo poder, mas vão muito mais além disso. A militância é preparada ao longo dos anos para estar apta a dizer que postos querem se a eleição foi bem sucedida. O imenso aparelho do Estado pode cair nas mãos de quem almeja o império, muito mais do que o Poder regulamentado pela constituição. Os meios cômodos hoje do povo mudar os participantes do poder constitucional, as eleições regulares, são os meios legais de tirar uma burocracia e substituí-la por outra. O período eleitoral se dá em um picadeiro de um circo mambembe de periferia, onde palhaços, malabaristas, mágicos, domadores entretém a plateia que vai dar respaldo, deixar o espetáculo e só ser convidada para o próximo show dali a quatro anos. Neste período contenta-se a acompanhar as peripécias dos novos proprietários e pagar impostos para que possam usufruir da máquina. O Poder visto como um agente da Liberdade, nesse contexto, se torna o seu inimigo.