Muito se fala sobre o fato do câncer de colo uterino estar relacionado com o HPV, mas ainda hoje o tema se reveste de muitos conceitos incorretos e ainda nos deparamos com pacientes que apresentam verdadeiro pânico ao terem o diagnóstico da presença do HPV, confirmado ou não por exames.
Primeiramente vamos esclarecer que HPV é a abreviação, em inglês, utilizada para identificar o Papiloma vírus humano, popularmente conhecido como “ crista de galo ou verruga venérea”.
Há aproximadamente 150 anos, começou-se a associar o câncer de colo uterino com a atividade sexual, chegando-se a conclusão que este tipo de câncer, estava associado ao coito.
Na década de 70, se constatou que o vírus do papiloma humano estava relacionado com a transmissão do câncer do colo uterino.
A infecção genital pelo HPV é a doença sexualmente transmissível viral mais frequente na população sexualmente ativa.
Conforme dados do CDC, (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) de Washington, estima-se que 500.000 a 1.000.000 de novos casos de pacientes infectados, ao mesmo tempo que encontramos 80.000 casos de AIDS, 200 a 500 mil casos de herpes genital, 100 mil casos de sífilis e 800 mil casos de gonorreia, além das infecções causadas pelas clamídias e tricomoníases, representando as principais doenças de transmissão relacionada ao coito em todo o mundo, demonstrando que representam uma preocupação importante de saúde pública.
Após os anos 50, constatou-se que a incidência de verrugas genitais aumentou em cerca de oito vezes, em países como Estados Unidos da América e Inglaterra, provavelmente associado ao aumento do uso de métodos contraceptivos mais eficientes, como a pílula anticoncepcional e maior liberalidade de costumes.
No Brasil, temos encontrado a presença de HPV, em aproximadamente 20 % das pacientes com atividade sexual, e valores próximos a 85% no grupo de pacientes que apresentavam câncer de colo uterino.
O colo uterino é a parte do útero que se encontra no interior da vagina, merecendo mencionarmos ainda que o útero pode também apresentar câncer no corpo uterino e na camada que reveste a cavidade uterina, chamada de endométrio, e que podem estar associados a outras etiologias.
O HPV, além de estar associado ao câncer do colo uterino, também pode estar envolvido no câncer de vagina e de vulva, isso considerando-se o canal vaginal, mas também se relaciona a canceres da cavidade oral e região anal e reto.
Atualmente se conhece cerca de 150 tipos diferentes de HPV, e que aparentemente apresentam reação cruzada entre sí, de modo que os pacientes que apresentam determinados grupos, mesmo se expondo a outros tipos de HPV, não se infectam destes.
As alterações mais frequentes causadas pelo HPV são as verrugas genitais que podem acometer homens ou mulheres mas podem se manifestar através de outras alterações mais dificilmente detectadas e que necessitam de exame mais cuidadoso como Colposcopia e exame de Papanicolaou.
Nem sempre o contato sexual entre pacientes contaminados produz as lesões verrucosas, sabendo-se hoje em dia que a transmissão também está associada a fatores imunológicos.
Após o contato, pode ocorrer a evolução para verrugas ou outras alterações locais, mas também podem não se manifestar e ter regressão completa.
As manifestações do HPV, ocorrem de maneira mais intensa nas grávidas, pacientes com HIV e nos pacientes transplantados e imunocomprometidos.
O câncer de colo uterino é o primeiro ou segundo câncer mais comum nas mulheres e responde por cerca de 12% de todos os canceres femininos.
A maioria das pacientes acometidas pelo câncer de colo uterino estão na faixa etária de 40 a 55 anos de idade.
O câncer de pênis também se relaciona com a presença de HPV.
Como todo câncer o diagnóstico precoce, influência de maneira importante o tratamento e a evolução da doença, inclusive ao consideramos cura.
Na mulher recomenda-se que faça periodicamente o exame de Papanicolaou e de preferentemente associado à Colposcopia.
De modo geral é sugerido que se use o preservativo por ocasião do coito.
Conforme discorremos, o câncer de colo uterino, vagina e vulva, pode ser transmitido sexualmente, mas é importante sabermos que nem toda paciente que em algum momento de sua vida teve o diagnóstico de HPV ira manifestar este câncer. Antes de ser motivo de pânico deve ser encarado como uma infecção e que pode e deve ser tratada e acompanhada ao longo de tempo.
No momento já está disponível a vacinação contra o HPV, que ao longo do tempo será uma medida importante para evitar que o jovem, que ainda não teve contato com o HPV, fique imunizado, interrompendo a transmissão.
Certamente o aqui comentado não esgota o tema, mas deve servir de alerta para que se tenha a preocupação de procurar o ginecologista ou o urologista regularmente e procurar obter informação adequada sobre as alterações que podem acometer eventualmente os órgãos genitais.
Fonte: Airton Gomes (Médico ginecologista e obstetra; advogado. Mestrado pela FMABC e doutorado pela faculdade de medicina da Usp)