Karlos & Marcelly Morena, integrantes da dupla que está revolucionando o funk, enaltecem suas mães, principalmente por elas terem aceitado suas opções sexuais.
“Minha mãe é minha vida, meu amor, tudo que tenho! Me espelho muito nela, mulher guerreira que deixava de comer para alimentar eu e minha irmã. Sempre trabalhou muito para nunca nos faltar nada. Com 16 anos resolvi me assumir e já sabia que iria ser muito difícil. Parece que só ela não enxergava e foi muito difícil no começo assim como é para a maioria das mães que têm um filho gay. Parece que ninguém quer, mas fazer o que né!? Aí já aos 17 anos fui morar com um rapaz e aos poucos ela foi aceitando. A maior felicidade foi quando ela me viu já com toda a mudança e me deu os parabéns por estar tão bonita (risos). Hoje em dia minha mãe é minha amiga, meu fechamento, meu orgulho e ainda dou muito orgulho a ela pois é o meu dever. E só tenho agradecer por tudo que essa mulher linda, guerreira e muito trabalhadora fez por mim, começando pela educação e por sempre me cobrar a sinceridade e responsabilidade pelo meus atos. E eu junto com o Karlos, meu companheiro de trabalho, estamos lançando o videoclipe em homenagem ao público LGBT e a todas as mães guerreiras, principalmente para a minha rainha, minha mãe Regina Lucia!”, exalta Marcelly Morena.
“Minha história é um pouco diferente da Marcelly com relação à família. Sempre fui gay, acho que a pessoa já nasce, porém vai amadurecendo conforme a vida. Quando assumi para minha família tive total apoio da minha mãe. Não fui criado com pai, logo minha mãe foi pai e mãe para mim. Ela me apoiou, me aconselhou, sei que nenhuma mãe acha lindo um filho gay, porém ela não me escondeu para a sociedade e nem foi contra a minha opção. Até porque nunca tive motivo para ser mau exemplo para ela. Terminei meus estudos muito cedo, entrei na faculdade muito cedo, hoje com 23 anos já tenho duas profissões. Com 14 anos já trabalhava de carteira assinada, desde novo sempre fui muito independente, quando me assumi aos 15 anos já era total independente. Sempre ajudei ela em tudo, como ajudo até hoje. Então não tinha porque ela não me aceitar, pois nunca dei motivos para isso. Sou o único da família formado, sempre mantive minha postura na comunidade onde nasci e fui criado até para não dar motivos de piadinhas. Nunca sofri preconceito dentro da minha comunidade, até porque também não sou de levar desaforo para casa e aqui todos me conhecem muito bem (risos). Então nunca tive problemas, sempre tive total apoio, total entendimento e sempre me compreenderam da melhor forma possível. A única vez que eu sofri preconceito na vida foi quando fui ao um mercado com a minha mãe e meu padrasto que é advogado. Uma balconista começou a orar quando pedi atendimento. Até então deixei passar batido até porque nunca passei por aquela situação. Sabia que era comigo pois os amigos dela comentavam para ela parar pois ela poderia se prejudicar e tal... Não satisfeita, quando fui passar na caixa para fazer o pagamento com minha mãe e meu padrasto ela começou a falar: ‘Repreende Senhor, que esse espírito saia em nome de Jesus’. Tipo um exorcismo (risos). Minha mãe que não é muito calma queria agredí-la, porém meu padrasto entrou com uma ação contra o mercado. Fiquei surpreso porque no dia uma senhora que aparentava uns 80 anos se prontificou a ser testemunha caso eu processasse o mercado. Processei e está em acamamento (risos), mas foi dado causa ganha. Mas como o nome já diz tudo é um processo (risos). Essa foi a única vez que sofri preconceito na vida, graças a Deus!”, conta Karlos.
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Foto: MF Press Global |
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Foto: MF Press Global |
Conheça a dupla
Karlos & Marcelly Morena decidiram trabalhar juntos após saírem de grupos bastante parecidos em estilo e visual. Karlos era líder de um grupo de gays sarados, a Tropa dos Gostosos, e Marcelly de um grupo de trans saradas, As Peguetes. O estilo musical de ambos eram bastante parecido, o funk de comunidade.
Para não deixar a ideia acabar com o término dos grupos, Karlos e Marcelly resolveram criar a dupla e juntos dar continuidade ao trabalho. O primeiro passo foi escrever uma música e editar na maior equipe de funk do Brasil: a Furacão 2000. Foi aí que surgiu a primeira música chamada "Me Processa", que conta a história de um episódio comum na vida de ambos pois na época em que foi criada a parceria, a dupla estava com processo na justiça em andamento devido ao preconceito em que a classe que os dois defendem sofre diariamente.
Com um caminho já percorrido no funk devido a ambos já terem sido dançarinos de MCs conhecidos (Karlos trabalhava com MC Kátia e Marcelly com MC Adriano), a dupla teve o apoio de produtores, DJs e MCs do ramo musical, o que deu mais força para dar continuidade ao projeto.