Quais lembranças você têm dos seus pais à mesa, na sua infância? Nas refeições em família, quais eram os alimentos mais comuns? As respostas a essas perguntas certamente influenciaram nos seus hábitos alimentares. E em um mundo de alimentos cada vez mais industrializados e cheios de açúcar, as crianças estão herdando dos pais um triste legado: a obesidade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), considerando apenas a faixa etária até os 5 anos, já são 42 milhões de crianças obesas em todo o planeta. Uma pesquisa recente da Universidade de Sussex, na Inglaterra, mostrou que, em média, 20% da composição do índice de massa corporal (IMC) de meninas e meninos vêm do pai e da mãe. Entre os pequenos que estão muito acima do peso, contudo, essa proporção aumenta para 60%. Ou seja: mais da metade do risco de ser obeso é determinado pela combinação de genética com o ambiente familiar.
O estudo foi realizado com 100 mil crianças e seus pais em seis países com diferentes padrões de nutrição e obesidade. Foram observadas famílias norte-americanas, que estão entre as mais obesas do mundo, e da China e Indonésia, cujos moradores são reconhecidamente magros. Também fizeram parte da pesquisa o Reino Unido, a Espanha e o México. Ao final dos estudos, ficou claro que o processo de transmissão da obesidade é o mesmo, apesar de todas as diferenças entre essas culturas.
De acordo com a nutróloga Dra. Ana Valéria Ramirez, essa herança perigosa tem mais a ver com maus hábitos alimentares do que com os genes. “Mães obesas tendem a gerar filhos que serão obesos. De uma forma simples, a genética carrega a arma, e o estilo de vida aperta o gatilho. Assim, os hábitos alimentares da família são determinantes para o desencadeamento da obesidade infantil”, afirma.
Os pais não precisam se culpar e deixar de levar os filhos para comer uma pizza, de vez em quando. O que é decisivo é a rotina, o dia a dia. É só comparar o que seu filho mais comeu na última semana: alimentos gordurosos e industrializados, ou frutas e vegetais?
UM POR TODOS, E TODOS POR UM
O envolvimento de toda a família é fundamental para o sucesso de uma reeducação alimentar. “Crianças imitam o que os pais fazem. Devorar um hambúrguer e exigir que seu filho se contente com uma maçã não tem nenhum sentido. A obesidade surge no contexto familiar e, por isso, a família toda precisa ser tratada”, afirma a Dra. Ana Valéria.
Outra questão de risco é a dificuldade de uma família em admitir o excesso de peso de uma criança – o que geralmente só acontece depois da comprovação por exames. “Esse comportamento preocupante é uma consequência da valorização da criança gordinha, que de forma errada é vista como saudável”, lembra a nutróloga.