Peça foi contemplada pela 3ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura para circulação. Projeto conta ainda com ciclo de debates e a publicação de uma revista. Montagem tem direção de Reginaldo Nascimento e tradução de Aimar Labaki
Contemplado pela 3ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura, o espetáculoHYSTERICA PASSIO, da dramaturga espanhola Angélica Liddell, faz as últimas apresentações na SP ESCOLA DE TEATRO. O espetáculo encerra a temporada no dia 4 de julho, e está em cartaz aos sábados, às 21h30 e domingos e segundas, às 20h. A montagem do Teatro Kaus Cia Experimental, tem direção de Reginaldo Nascimento e tradução de Aimar Labaki. Projeto conta ainda com ciclo de debates e a publicação de uma revista. Elenco reúne os atores Alessandro Hernandez e Amália Pereira.
Serão realizadas 18 sessões gratuitas da peça na SP Escola de Teatro, que também sediou um ciclo debates sobre o espetáculo e a dramaturga Angélica Liddell com os convidados: Aimar Labaki, Beth Néspoli, Gabriela Mellão, Hugo Villavicenzio e Marici Salomão. A revista tem o texto da peça traduzido, artigos escritos pelos debatedores convidados, além de desenhos do cenário, figurinos e fotos da peça. São 3.500 exemplares, distribuídos gratuitamente para o público no dia das apresentações.
“O Prêmio Zé Renato nos permite difundir o nosso trabalho com as apresentações do espetáculo em diversas regiões, além de contemplar o registro como memória por meio da publicação. É uma alegria imensa ser contemplado pelo edital que leva o nome do mestre Zé Renato“, afirma o diretor e idealizador do projeto Reginaldo Nascimento. Espetáculo circulou por cinco teatros distritais entre os meses de março e abril, dentro da programação do projeto contemplado pelo Prêmio Zé Renato.
Em HYSTERICA PASSIO, Hipólito filho da esquálida enfermeira Thora e do pálido dentista Senderovich, assume diversas figuras alegóricas em cena: a de um mestre de cerimônias, a de seu pai já morto e a dele mesmo na infância. Apresenta, a sua vida e a de seus pais, retomando os momentos de sua história para questionar, julgar e condenar a dor que sente, as feridas ainda não cicatrizadas. Sobrevivente aos abusos que sofreu durante a infância, chega aos 12 anos com um proposito claro, vingar-se.
“Liddell, é uma contundente dramaturga, que aprofunda as questões acerca do ser humano e suas dores mais íntimas. É uma autora que faz sangrar as palavras e me possibilita uma investigação poética, estética e cênica, onde o foco é o ser humano e sua aventura de viver”, declara Reginaldo. “Este é o segundo texto da Angélica que encenamos, o primeiro foi O Casal Palavrakis, em 2012. Ambos fazem parte da obra Tríptico da Aflição”, completa o diretor.
Montagem transita com a forma do teatro contemporâneo e os expedientes cênicos do pós dramático, misturando ao jogo dos atores alegoria, artes plásticas, sombras e sons, fazendo do espetáculo um mergulho nas sensações do ser humano, nos abismos da alma. “A encenação abusa da teatralidade e explicita a angústia destes seres numa interpretação que transita com a alegoria, e brinca com os expedientes do circo de feras e de horrores para tentar dar cor a uma vida de dor”, finaliza Nascimento.
O espaço cênico de HYSTERICA PASSIO é construído a partir da trajetória de cada personagem, a jaula/cela de Thora, que aprisionada, se debate e revive sua história, expondo suas dores e alegrias, num jogo de repetição e representação de sua vida. O jardim/túmulo de Senderovich, que é vivenciado pelo próprio Hipólito, que se apropria de outros elementos (bonecos, manequins e figurinos) para elucidar a teatralidade e explicitar o seu martírio.
O cenário, de Reginaldo Nascimento, que também assina a trilha sonora e a iluminação, trabalha com o branco em todo o ambiente. Os figurinos, de Telumi Helen, também brancos, apresentam camadas que revelam a tessitura das personagens. A iluminação, acentua a assepsia da encenação e amplia o estado sombrio dos personagens. A sonoplastia evidencia a dramaticidade do espetáculo e ajuda a criar um clima de fantasia e horror. Peça estreou em outubro de 2015, no Espaço Parlapatões. No dia 1 de abril se apresentou no SESC Jundiaí.
Hysterica Passio: Já no século XVII é possível encontrar a expressão médica Hysterica Passio, mera tradução de uma muita mais antiga em gregohysteriká pathé, ‘paixão histérica’ ou mais exatamente ‘paixão do útero’. As pacientes diagnosticadas com histeria feminina deviam receber um tratamento conhecido como “massagem pélvica”, que não era mais que a estimulação manual dos genitais da mulher pelo doutor até chegar ao paroxismo histérico, o que hoje se denomina orgasmo. Tão aceitado foi este tratamento que a partir de 1880 os casos se multiplicaram, tanto que em 10 anos se converteu em uma epidemia.
Angélica Liddell: Pseudónimo de Angélica González (Figueres, Girona, Catalunha, Espanha, 1966) é produtora, encenadora, atriz, escritora, poetisa e dramaturga. É licenciada em Psicologia e Arte Dramática. Iniciou em 1988 a sua trajetória no teatro e esse ano, recebe o Premio Cidade de Alcorcón pela obra Greta quiere suicidarse. Em 1993, fundou, juntamente com Gumersindo Puche, a companhia Atra Bilis Teatro (bílis negra), onde produz, dirige e interpreta seus próprios textos. A sua obra compreende narrativa, poesia, performance e ações, além de textos teatrais, dos quais muitos foram já encenados na Espanha, Colômbia, Bolívia, Portugal, Alemanha, Chile e República Checa. Suas peças abordam temas como a decadência da instituição familiar, o lado negro do ser humano, a morte e o sexo. Escreveu os textos: O Tríptico da Aflição,que reúne as peças O Casal Palavrakis, Once Open a Time in West Asphixia e Hysterica Passio; La Falsa Suicida; Actos de Resistência Contra a Morte; Las Condenadas, El Jardín de Madrágoras e El año de Ricardo, entre outras. Suas obras estão traduzidas para português, alemão e francês.
Reginaldo Nascimento: Ator e Diretor Teatral em constante atividade desde 1990. Fundou o Teatro Kaus Cia Experimental em 1998. Participou de diversos cursos de formação e aprimoramento com diversos e importantes profissionais. Desde 1993 se dedica especificamente a Direção Teatral e a pesquisa do teatro de grupo, tendo assinado a direção de mais de 20 espetáculos entre eles: O Casal Palavrakis, de Angélica Liddell, O Grande Cerimonial, de Fernando Arrabal, Infiéis, de Marco Antonio de la Parra, A Revolta, de Santiago Serrano, El Chingo, de Edílio Peña, Pigmaleoa, de Millôr Fernandes, Cala a Boca Já Morreu, de Luís Alberto de Abreu, A Boa, de Aimar Labaki, Vereda da Salvação, de Jorge Andrade, Homens de Papel eOração para um pé de chinelo, ambas de Plínio Marcos, entre outros. Vêm realizando desde 1994, várias oficinas e cursos em prefeituras, secretarias de cultura e instituições privadas pelo interior do Estado, na capital e outros estados. Organizou e Editou o Livro CADERNOS DO KAUS - O Teatro na América Latina. Em agosto de 2009, idealizou e executou juntamente com o Grupo Kaus e em parceria com o Instituto Cervantes a Mesa de Debates Um Certo Arrabal, evento que trouxe a São Paulo o Dramaturgo Fernando Arrabal, um dos mais importantes da cena Mundial.
Teatro Kaus Cia. Experimental: Radicado em São Paulo desde outubro de 2001, o Teatro Kaus Cia Experimental da Cooperativa Paulista de Teatro foi criado em dezembro de 1998, na cidade de São José dos Campos, pelo ator e diretor Reginaldo Nascimento e pela atriz e jornalista Amália Pereira. Na capital paulista, a Cia. encenou as peças O Casal Palavrakis, de Angélica Liddell (2012/2013/2014), O Grande Cerimonial, de Fernando Arrabal (2010/2011), A Revolta, do argentino Santiago Serrano (2007), El Chingo, do venezuelano Edilio Peña (2007), Infiéis, do chileno Marco Antonio de la Parra (2006/2009), Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (2005/2004) e Oração para um pé de chinelo, de Plínio Marcos (2002). Participou em julho de 2007 como convidado do XVIII Temporales Internacionales de Teatro, em Puerto Montt e da Lluvia de Teatro de Valdivia, ambas no Chile, apresentando o Espetáculo A Revolta, realizando três apresentações, com o texto original em espanhol. Em novembro de 2007, lançou o livro Cadernos do Kaus – O Teatro na América Latina, um registro documental sobre todas as ações do projeto Fronteiras – O Teatro na América Latina, realizado pelo grupo durante o ano de 2006 e 2007, em parceria com o Instituto Cervantes e beneficiado pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
HYSTERICA PASSIO – Reestreou dia 28 de maio de 2016, sábado, às 21h30, na SP Escola de Teatro. Texto: Angélica Liddell. Tradução: Aimar Labaki. Direção: Reginaldo Nascimento. Com o Teatro Kaus Cia Experimental. Elenco: Alessandro Hernandez e Amália Pereira. Duração: 80 minutos. Recomendação: 14 anos. Ingressos: Entrada Franca. Sábados, às 21h30. Domingos e segundas-feiras, às 20h. Até 4 de julho.
Sinopse: Texto inédito no Brasil, peça conta história de Hipólito, que aos 12 anos resolve se vingar dos pais pelos maus tratos por ele sofridos.
SP ESCOLA DE TEATRO – Sala R1 – Praça Roosevelt, 210 – República. Telefone: 3775-8600. Capacidade 60 lugares. Bilheteria funciona uma hora antes do início do espetáculo. Acesso para deficientes. Ar condicionado. Convenio com o Estacionamento Reis Park, que fica na Rua da Consolação, 279, R$ 9,00 o período das 18h às 23h. Retirada do selo na recepção da SP Escola de Teatro.
(Amália Pereira – junhol/2016)