Conheçam a candidata ao Miss Plus Size Ribeirão Preto 2016, Michele Maila!
Olá, meu nome é Michele, tenho 36 anos, sou casada e tenho dois filhos, sou da cidade de Guarulhos SP. Resido em Ribeirão preto a mais ou menos um ano e meio.
Bom vou tentar resumidamente contar um pouco da minha história.... sou a filha do meio de três filhos dos meus pais, fui criada numa realidade simples porem com muito cuidado, amor e muitas brincadeiras, tive uma infância relativamente feliz.
Em meio as dificuldades financeiras minha mãe sempre dava um jeito de proporcionar para nós tudo o que necessitávamos.
Bom, sempre fui uma criança gordinha e muito maior que todas as outras, não tinha muito recurso para comprar roupas, então minha mãe sempre diminuía as roupas que ganhávamos para que pudesse me servir, isso já me diferenciava das outras meninas/crianças, fora meu cabelo que sempre estava curto, e eu sonhando com uma franja rs, mas sempre estava limpa e minhas coisa sempre muito organizadas.
Mas ser diferente dos outros sempre fez parte da minha realidade, sempre fui a ultima da fila na escola, sempre atras de todos nas fotos, sempre atras de tudo rs, até hoje... então precisei aprender a conviver com isso.
Teve um episódio da minha infância que nunca esqueci, na escola onde estudava tinha uma quadra que ficava abaixo do nível da escola mais ou menos um metro, numa certo ocasião era intervalo e a quadra estava cheia de crianças, eu joguei um papel de bala que foi para no chão da quadra, e quando menos esperava a inspetora dos alunos me empurrou em direção a quadra para que eu pegasse aquele papel, o problema é que eu fui parar la embaixo, cai feito uma jaca mole, no chão eu chorava e não conseguia levantar por ter caído de joelhos, mas a vergonha e humilhação foi horrível, doeu mais que meus joelhos, num coro só as crianças gritavam " levanta sua baleia, sua gorda baleia saco de areia"
Isso foi realmente muito ruim, logico que isso rendeu a demissão da infeliz da inspetora e uns problemas nos meu joelhos, mas na época as crianças não tinham seus direitos reconhecidos como hoje, e isso foi só uma das vezes que fui ofendida por ser gordinha, e não só gordinha mas negra também, tive apelidos como "azeitona preta" que ridículo, e isso já foi na adolescência mas sempre me fiz de forte nunca valorizei muito esses xingamentos, até porque sempre tive muitos amigos (meninos) que sempre me defendiam, isso era bom rs.
Fui crescendo passando por varias fases da minha vida, na adolescência me apaixonei loucamente por uma rapaz mas acreditava que jamais ele ia querer se relacionar comigo por ser eu uma mocinha gorda, então comecei ai minha trajetória de dietas loucas, precisa ser magra pra ter um namorado, no caso ele, fiz muitas loucuras determinada a ser magra, quase não comia, comei a fumar porque me diziam que emagrecia, tomava pelo menos 1/2 litro de vinagre por dia, bom consegui emagrecer e tomei coragem para me declarar e a resposta foi não, que triste, e vocês não sabem, o mais surpreendente foi que depois disso ele começou namorar uma moça muito mais gordinha que eu, ai eu ja não sabia muito oque pensar, mas continuando eu entrei numa fase realmente de muitas dietas tentando ficar parecida com o que na época eu achava ser o mais aceitável pelas pessoas, ou seja, ser magra.
O tempo passou mais um poco e aos 17 anos me vi gravida, a principio um susto, mais um problema,mais um porque minha família estava de pernas pro ar, meu pai fora de casa, minha mãe com depressão e meu irmão cheio de problemas psicológicos, minha irmã nessa fase já estava noiva e fora de casa, então tudo caiu em cima da minha cabeça, a agora uma gravidez.... então não tinha o que fazer a não ser ter o meu filho, que no fim das contas foi a luz no fim do túnel, ele veio pra reorganizar minha família.
Durante a gestação eu ganhei 33 kg e após o nascimento eu não sabia mais quem eu era, gorda, com 18 anos, eu olhava pras menias ao meu redor e olhava pra mim sentindo nojo do que estava vendo, ai novamente eu resolvi radicalizar, muitas dietas mas agora com um agravante, eu comecei a desenvolver bulimia, e ao longo de um ano emagreci 47 kg, e não me via magra, meu marido que na época era namorado já não me reconhecia, achava que eu estava cada dia mais esquisita, mas eu estava adorando estar magra (horrível), eu não tinha forças pra nada, fazia oque precisava e deitava, tamanha minha fraqueza, e assim foi por mais um curto período, depois dei uma melhorada e levei as dietas menos agressivas a diante.
Com 21 anos eu engravidei do meu segundo filho, mas já estava num outro momento mais tranquilo, e assim o tempo foi passando, ao longo dos anos continuei com dietas e não dietas, e cansada de ter que pertencer a uma realidade que não fazia parte do meu universo, então comecei a pesquisar o mundo das "mulheres fora dos padrões " e realmente vi que existia um mundo fora daquele que vivi a minha vida toda, mundo esse onde as pessoas tem o direito de serem felizes, onde podem ser amadas e se sentir sensuais, podem ser saudáveis mesmo sendo gordinhas, pois bem diante de grandes descobertas quis eu ser feliz também, todas nós mulheres temos uma coisa ou outra que queremos mudar em nós, mas isso independe do peso do nosso corpo, não me sinto escrava de nada a não ser dos meu desejo de ser feliz.
E cá estou , aos 36 anos, pesando 105 kg, 1,78 de altura, participando de um evento que jamais imaginaria, estou muito feliz em fazer parte do Miss Plus Size Ribeirão Preto 2016, me sinto capaz de tudo que eu quiser, não sou e nem quero ser igual a ninguém, quero e vou me respeitar como sou, como dona do meu corpo e dos meus ideais, e seguir conquistando tudo aquilo que for meu por direito, os padrões, bom esse sou eu que decido qual é o meu.
Essa foi uma pequena parte da minha história, espero que tenham curtido e obrigada pela oportunidade .
Fotos: Lidiane Angelin para Projeto Amo-me.