Socialização e busca por novas experiências são pontos fortes na hora de escolher esta modalidade de passeio
As rotas de cicloturismo têm ganhado cada vez mais espaço no mundo. De acordo com relatório da Federação Europeia de Ciclismo, o segmento movimentou 44 bilhões de euros no continente no ano de 2012 e, em 2014, empregou 524 mil pessoas – número maior que o de empregos produzidos pelo varejo, que aparece em segundo lugar com 80 mil postos de trabalho. Por aqui, ainda não existem dados oficiais sobre a atividade, mas segundo Eliana Garcia, diretora do Clube de Cicloturismo do Brasil, a procura por essa modalidade tem aumentado. “Por meio do site do Clube de Cicloturismo do Brasil temos um bom termômetro deste crescente interesse. De 2001, quando foi fundado o clube, para cá, aumenta ano a ano a quantidade de pessoas cadastradas no site, chegando hoje à marca de 25 mil usuários que praticam ou têm intenção de vir a praticar a atividade”, explica. Eliana ressalta também que, se houvesse mais opções de destinos, a procura seria ainda maior. “Vemos um grande número de interessados que faria mais passeios se houvesse mais estrutura, como maior número de rotas em estradas rurais e trânsito mais amigável nas cidades por exemplo”.
No exterior, as rotas mais procuradas pelos brasileiros são o Caminho Francês de Santiago de Compostela – na França e Espanha – e a Via Claudia Augusta – que passa pela Alemanha, Áustria e Itália. No Brasil, os mais cobiçados são os circuitos de cicloturismo de Santa Catarina: Vale Europeu, Circuito Costa Verde e Mar, e Circuito das Araucárias. “Também são muito utilizados por cicloturistas os roteiros religiosos de peregrinação, como Caminho da Luz (MG) e Caminho da Fé (SP e MG)”, enumera Eliana.
Para ciclistas iniciantes e experientes
Apesar de ainda não ser tão explorado quanto as modalidades tradicionais, o cicloturismo tem sido uma porta de entrada no mundo da bicicleta para muitos praticantes. De acordo com Eliana Garcia, preparo físico, bicicleta ideal, roteiro e alimentação são alguns dos pontos que merecem atenção. “Recomendamos que os interessados comecem por passeios de um dia, depois passem a fazer viagens de final de semana. Só então o ciclista estará apto a viagens maiores, de uma semana ou mais. Durante o percurso, é importante prestar atenção ao corpo, nunca chegando ao limite do esforço físico, afinal, o intuito é se divertir e aproveitar as férias ou o tempo livre. A regra básica é fazer pausas antes de estar cansado, beber água antes de sentir sede e comer antes de sentir fome”, afirma.
Outro ponto que Eliana destaca é a importância dos itens de segurança, tais como capacete, espelho retrovisor, luva, roupas claras ou coloridas, refletivos, campainha, farol e sinalização traseira. “É necessário ter uma bicicleta adequada para o percurso escolhido e que ela esteja revisada e em boas condições. Também é importante levar um kit de primeiros socorros e um kit de ferramentas – e saber usá-los”.
Ainda existem poucas agências que oferecem opções de cicloturismo; grande parte organiza roteiros para grupos de academias, lojas de bicicleta e corridas noturnas. “Também existem hotéis que se organizam para receber os cicloturistas, sem necessidade de intermediação de uma agência. Para as rotas de um só dia, também há uma enorme oferta de eventos organizados por grupos de pedal e prefeituras, como a Liga Independente de Cicloturismo da Serra e Meio-Oeste, que reúne grupos de ciclismo de mais de 15 cidades da Região Sul e conta com cerca de 400 ciclistas envolvidos”, conta Eliana.
A primeira agência especializada em cicloturismo urbano no Brasil foi a Kuritbike, de Curitiba. Há cinco anos no mercado, já atendeu 12 mil clientes vindos de 53 países e conta com uma frota de 101 bicicletas. “O crescimento foi gradativo, porque no começo precisamos formar o cliente e atendíamos basicamente brasileiros que já tinham feito esse tipo de passeio no exterior. Hoje as pessoas já entendem e não precisamos mais explicar o nosso serviço. Nossa sede era uma parede emprestada na bicicletaria de um amigo, e atualmente temos nosso espaço”, explica o proprietário, Gustavo Carvalho.
Para viagens mais longas, de modo geral, são oferecidos carros de apoio e até o aluguel das bicicletas e equipamentos de segurança. Eliana Garcia orienta: “Na hora de escolher uma agência para viajar de bicicleta é bom verificar se ela segue as Normas ABNT de Turismo de Aventura, referentes ao cicloturismo. Essas normas ditam os padrões de segurança que uma agência deve adotar”.
Para quem quer ser aventurar
O Clube de Cicloturismo disponibiliza gratuitamente o “Manual de Dicas para Cicloturistas de Primeira Viagem”, que orienta de maneira aprofundada como se preparar para fazer viagens turísticas de bicicleta. Eles também informam a lista completa de bagagem, com mais de 150 itens necessários para uma viagem totalmente aventureira, com direito a camping. Acesse:http://www.clubedecicloturismo.com.br.
Pedalando por aí
Quem resolveu fazer as malas e partir para um passeio de bicicleta foi o casal Tiago e Isabel Valente; eles passaram 19 dias pedalando no sul da França entre abril e maio de 2015. Isabel é educadora física, Thiago arquiteto, e não praticava muito esporte. “Mas ele se entusiasmou, porque já costumava fazer trajetos curtos de bike. Se for um terreno tranquilo, não muito acidentado, quem tem o mínimo de preparo físico consegue pedalar”, explica Isabel. A experiência foi tão boa que se tornou um livro: “De Bike Pelo Sul da França”. Isabel relatou em entrevista à Perkons que eles pedalaram 600 km, o que rendeu grandes amizades. “São as pessoas que deixam as viagens mais ricas, e mais, viajar de bike é diferente dos outros tipos de viagem, porque você tem tempo de sentir os cheiros dos lugares, aproveitando muito mais o trajeto do que a chegada ao destino”, relata a educadora física.