Dados parciais do Ministério do Turismo e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontam: 68,4% dos turistas que estiveram nas cidades-sedes da Copa das Confederações ficaram satisfeitos com hospedagem e instalações. O dado implica na sensação do empresariado, não tão otimista, já que os gastos ficaram limitados às imediações dos hotéis e dos estádios. As informações foram discutidas na manhã desta terça-feira (2), durante o debate "O que esperar para a Copa de 2014?", realizado pelo Conselho de Turismo e Negócios da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Maior exposição da cultura e das possibilidades turísticas das cidades poderia ter melhorado a distribuição dos gastos dos turistas durante o torneio. Esse será o grande desafio para a Copa de 2014, avaliaram especialistas durante o evento. Ainda com relação ao levantamento do Ministério do Turismo/ Fipe, os pontos negativos do campeonato para os turistas foram a alimentação nos estádios, o atendimento em outros idiomas e a qualidade do transporte público.
O americano apresentador do quadro "Olhar Estrangeiro", do programa Tá na Área, do canal SporTV, Mark Lassise, contou sua experiência ao visitar as sedes durante a Copa das Confederações. "'As cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília estão preparadas para receber grandes jogos, pois estão acostumadas com grandes eventos. Já em Fortaleza, tive problemas de comunicação. O Castelão era fantástico, mas era um pouco longe e, se eu não tivesse ajuda, não conseguiria chegar ao estádio", afirmou Lassise, que entende português, mas não fala a língua.
Ao longo do debate foi consenso que a Copa em si não deve trazer incremento econômico significativo. De acordo com análise da FecomercioSP sobre diversos estudos e levantamentos, o Brasil pode atingir crescimento de 0,7 ponto percentual no PIB e de 0,5 na geração de empregos durante o campeonato. A estimativa oficial é de 600 mil turistas estrangeiros, mas a Federação acredita que o número deve chegar à metade, como aconteceu na África do Sul.
Para o presidente do Conselho de Turismo e Negócios da FecomercioSP, Marcelo Calado, as expectativas positivas parecem exageradas frente aos investimentos efetivos e a capacidade da economia nacional. "Haverá benefício na imagem do País para o resto do mundo, mas, mesmo assim, não é pequeno o risco de desapontamento", ponderou.
A pesquisadora em turismo urbano e professora da USP, Mariana Aldrigui, acredita que a estratégia mais correta para atração de turistas precisa ter duas vertentes: o poder público deve se concentrar no bem estar dos moradores das cidades e a iniciativa privada no atendimento ao turista. "A gestão pública tem de focar no morador e não na experiência do turista, pois se as instalações, transporte e serviços forem satisfatórios para quem habita a cidade, o visitante vai para casa com a positiva sensação de desejar viver ali. Com certeza ele voltará", explica.
Apesar de pessimista com relação ao evento, para Mariana, as possíveis falhas estruturais serão superadas e absorvidas pelos serviços. "As falhas no transporte público serão supridas com a oferta de táxis e vans fretadas, por exemplo". A maior preocupação, segundo a pesquisadora, é a qualidade das telecomunicações e a infraestrutura para transmissão de dados. Nas outras Copas do Mundo as redes sociais não eram tão fortes e aparelhos como smartphones e tablets ainda não tinham se popularizado. A experiência da cobertura simultânea por milhares de pessoas começa a existir nesta edição da Copa e isso pode definir uma imagem positiva ou ruim do Brasil para o mundo.
O setor hoteleiro não deve ter resultados muito acima da média em cidades como São Paulo. Apesar de hospedar o fluxo de turistas nacionais e internacionais estimados, os hotéis deixam de receber, no período da Copa, eventos corporativos. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo e coordenador da Câmara Temática da Copa 2014 no Conselho Estadual de Turismo de São Paulo, Bruno Omori, o conflito de agendas, no entanto, não deve prejudicar o setor, pois há uma tendência de remanejamento dos eventos corporativos e não de cancelamento.
A hotelaria brasileira já conta com número de leitos superior ao exigido pela FIFA e o setor deve investir um total de R$ 7 bilhões até o ano que vem para a prestação de serviços, conta o presidente do Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil, Roberto Rotter, que também participou das discussões.
Apesar das ponderações, o presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP vê a Copa como uma oportunidade. "Após um evento desta magnitude, a imagem deixada, seja ela positiva ou não, gera impactos para um País por cerca de dez anos. Temos que saber trabalhar para passar uma imagem positiva e colher mais frutos no futuro", afirmou Calado.
Sobre a FecomercioSP
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) é a principal entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços. Responsável por administrar, no estado, o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), representa um segmento da economia que mobiliza mais de 1,8 milhão de atividades empresariais de todos os portes e congrega 154 sindicatos patronais que respondem por 11% do PIB paulista - cerca de 4% do PIB brasileiro -gerando em torno de 5 milhões de empregos.