Colunistas - Rodolfo Bonventti

Era uma vez na TV: Surge a teledramaturgia, a grande campeã de audiência

13 de Outubro de 2010

Teleteatro em 1951

Nas cabeças de Cassiano Gabus Mendes (1927-1993) e Walter Forster (1917-1996), a teledramaturgia era essencial para manter a programação da TV Tupi. Eles tinham como exemplo o sucesso das radionovelas brasileiras e das histórias e adaptações cinematográficas que dominavam Hollywood e alcançavam grandes bilheterias no mundo todo.

A primeira experiência em teledramaturgia foi um trabalho do próprio Walter Forster e teve apenas alguns minutos. Ao lado dele estavam Lia de Aguiar e Vitória Almeida. Estava lançado o "Teatro Walter Forster". O próprio Forster e Ribeiro Filho (1917-1980), eram os responsáveis pelos primeiros textos dos folhetins levados ao ar naquele final de 1950.


Lia de Aguiar e Walter Forster em teleteatro

Enquanto os textos de Forster falavam do cotidiano, de romances e histórias de amor e problemas conjugais, Ribeiro Filho escrevia textos mais cômicos que eram interpretados por Maria Vidal, Xisto Guzzi, João Monteiro e outros humoristas que vinham da Rádio Tupi.

Outros nomes importantes da nossa TV como Walter George Durst, Dionísio de Azevedo, Túlio de Lemos, Aurélio Campos, Péricles Leal e Júlio Nagib também escreviam para os primeiros teleteatros. Cassiano Gabus Mendes, à frente da programação da emissora recomendou à equipe de redatores que adaptassem para a TV grandes espetáculos de teatro ou de filmes que faziam sucesso em Hollywood.


Lia de Aguiar em "A Vida Por um Fio"

O primeiro teleteatro foi "A Vida Por Um Fio", com tradução e adaptação do próprio Cassiano, de um clássico norte-americano que foi um sucesso nos cinemas com Bárbara Stanwick. Na telinha da PRF-3 a estrela era Lia de Aguiar (1927-2000). Foram trinta minutos de muito suspense e expectativa já que o cenário era único, na tela apenas a atriz em uma cama com um telefone ao lado e uma história narrada em tons dramáticos: uma mulher paralítica que, ao telefone, escuta em detalhes uma trama diabólica para assassinar uma pessoa, que aos poucos ela descobre que será ela mesma.

Lia contou em uma entrevista, na década de 90, que foi obrigada a decorar todo o texto, já que o teleteatro era ao vivo e tinha que ir de uma só vez para o ar. "Fiquei tão impressionada em fazer aquela história ao vivo, com vozes que saiam do telefone fazendo ameaças e criando um clima de suspense tão forte, que quando a transmissão terminou, eu fiquei paralisada e não conseguia me mexer e sair da cama em que a personagem esteve todo o tempo, por mais que toda a equipe me dizia que estava tudo terminado".

"A Vida Por Um Fio" foi ao ar em 29 de novembro de 1950 e a partir dela surgiram outros teleteatros como "A Visita"; "Missa do Galo"; "Xeque-Mate"; "O Preço da Inocência"; "Desfecho" e "O Professor de Astúcia",até que surgisse o "Grande Teatro Tupi"em 1951. No elenco desses teleteatros nomes como Dionísio de Azevedo, Cassiano Gabus Mendes, Lia de Aguiar, Yara Lins, Maria Vidal, Rosa Pardini, João Monteiro, Heitor de Andrade, Geny Prado, Milton Ribeiro, Haroldo Costa, Ruth de Souza e nomes importantes vindos dos palcos como Madalena Nicol, Maria Della Costa, Sérgio Brito e Jayme Barcellos.

A semente da campeã de audiência estava plantada e transformar aquelas histórias em uma novela demorou apenas um ano, mas isso é assunto para a próxima semana.
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