A TV Tupi surgiu na "Cidade do Rádio", o então complexo que envolvia, no Bairro do Sumaré, na capital paulista, as Rádios Tupi, inaugurada em 1937, e a Rádio Difusora, fundada em 1945. O complexo ocupava uma grande área com numerosos estúdios e um auditório com cerca de duzentas poltronas e uma capacidade técnica invejável para a época.
Radioatores, cantores, músicos, locutores e técnicos circulavam o dia inteiro pela "Cidade do Rádio" eu, como declarou Walter Forster (1917-1996) em uma entrevista quando da comemoração dos 45 anos da TV, "a gente ia para a Cidade do Rádio de manhã e só saia de lá à noite. Ali era a nossa vida. Nós trabalhávamos nos mais diferentes horários do dia, porque haviam radiojornais, programas musicais, radioteatros no período da tarde e da noite, tudo ao vivo. E quando não estávamos no ar ou ensaiávamos o que viria mais tarde, relaxávamos um pouco".
E, para relaxar, esses profissionais criaram uma quadra para jogar peteca ao lado dos estúdios. Como explicou Walter Forster, "era uma rede de vôlei, em um espaço curto, e ao invés de bola nós jogávamos com uma peteca". Na brincadeira diária estavam "campeões da peteca" muito conhecidos do grande público pelo menos pela voz, como o próprio Forster, Túlio de Lemos, Aurélio Campos, Homero Silva, Ribeiro Filho, Heitor de Andrade e o jovem Cassiano Gabus Mendes, o mascote do time, muito bem vigiado pelo pai, Otávio Mendes, então diretor das rádios, e que não admitia que os outros dessem uma cotovelada que fosse no rapaz. Se isso acontecesse vinha vingança na certa!
Na torcida pelos times dos rapazes galãs estavam as moças da "Cidade do Rádio", todas elas figuras importantes também nos primeiros anos da TV Tupi. E elas eram Yara Lins, Wilma Bentivegna, Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Laura Cardoso e Lia de Aguiar.
Um belo dia, em pleno momento decisivo do jogo de peteca, por volta de 15h30, em uma disputa acirrada entre os dois times, eis que chegam Assis Chateaubriand e três engenheiros norte-americanos. Os "atletas" não imaginavam que teriam uma torcida de "peso" e até pararam o jogo para melhor se prepararem para as próximas tacadas. E eis que ao invés de se sentarem ao lado das moças na torcida, os engenheiros começaram a medir todos os cantos da "quadra". Pronto, estava determinado o fim da quadra de peteca, porque ali nasceria, menos de um ano depois, os estúdios da primeira emissora de televisão do País.
E foi justamente boa parte desse time de "petequeiros" e toda a torcida feminina que comporiam o primeiro cast da PRF3-TV, Tupi-Difusora, Canal 3 de São Paulo. Boa parte deles foi responsável também por buscar com o dr. Chateaubriand as caixas com os equipamentos no porto de Santos e depois desencaixota-los, já nos estúdios da emissora, ali mesmo onde antes o mais animado eram os célebres jogos de peteca.
Mas vocês se lembram do índio mais chato da cidade, sobre o qual falamos no capítulo anterior? Pois bem, ele foi logo substituído nas vinhetas por um indiozinho sorridente, com ar brejeiro, que encantava as crianças e agradava aos pais. A criação de Mário Fanucchi não chegou a jogar peteca no ar, mas ganhou mobilidade e passou a apresentar ou pelo menos a aparecer junto dos títulos dos primeiros programas da emissora.
E, no próximo capítulo, a palavra mais difícil que a televisão já viu!