Colunistas - Rodolfo Bonventti

A guerreira que o samba perdeu

13 de Abril de 2015

A mineira Clara Francisca Gonçalves de Araújo nasceu no Distrito de Paraopeba, hoje o município de Caetanópolis, no interior de Minas Gerais, e desde pequena se acostumou a participar das festas de Folia de Reis, onde seu pai, conhecido como Mané Serrador, era violeiro.

A cantora começou a carreira vencendo concursos musicais
 

Ainda muito pequena ficou órfã de pai e mãe e foi criada pelos irmãos mais velhos. Começou a cantar no coro da matriz da Cruzada Eucarística, na pequena cidade onde nasceu, mas com 16 anos se mudou para Belo Horizonte onde participava do Coral Renascença, na igreja do bairro onde foi morar.

Era fã de Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira e por intermédio de amigos conheceu o músico e violonista Jadir Ambrósio, que a levou para se apresentar no programa “Degraus da Fama".

Nessa mesma época conheceu também Aurino Araújo, irmão do cantor e compositor Eduardo Araújo, que foi seu namorado por alguns anos e a apresentou para muita gente importante do cenário musical, entre eles o produtor musical Cid Carvalho que a convenceu a mudar seu nome artístico de Clara Francisca para Clara Nunes, que era o sobrenome da mãe dela.

Ela ganhou a etapa mineira do concurso "A Voz de Ouro ABC" e na final nacional ficou em terceiro lugar, mas conquistou o espaço que queria e assinou um contrato para se apresentar toda semana na Rádio Inconfidência de Belo Horizonte.

Um dos primeiros discos da cantora em 1970
 

Do rádio para os clubes noturnos e as boates chiques da capital mineira, se apresentando com um baixista que mais tarde se tornaria um dos mais importantes nomes da nossa música: Milton Nascimento, naquela época simplesmente Bituca.

A partir de 1963 ela começou a se apresentar em programas de televisão nas emissoras locais, e em 1965, já muito conhecida no seu estado natal, resolveu tentar o sucesso no Rio de Janeiro.

As apresentações em programas como “Almoço com as Estrelas”; “Discoteca do Chacrinha” e “Programa Jair do Taumaturgo” a levaram a gravar o primeiro LP, "A Voz Adorável de Clara Nunes", onde ela cantava muitos boleros e sambas-canções.

Mas o reconhecimento nacional só viria em 1968, quando ela trocou canções românticas pelo samba e lançou o LP "Você Passa e Eu Acho Graça", consagrando a faixa-título, um belo samba de Ataulfo Alves.

A partir daí, Clara Nunes se tornou um dos grandes nomes do samba, sempre preocupada em suas gravações e interpretações valorizar os mais autênticos ritmos brasileiros e o nosso folclore.

Um dos últimos discos da cantora em 1980
 

Ela se converteu ao candomblé e casou com o compositor e poeta Paulo César Pinheiro, responsável por vários sucessos de Clara na década de 70. Ela foi uma das presenças mais frequentes da nossa MPB e do nosso samba no continente africano e na Europa na segunda metade dos anos 70.

No casamento com o compositor Paulo César Pinheiro
 

Gravou vários compositores da escola de samba Portela, desfilou pela escola no Carnaval e junto com o marido fundou o Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro.

Ao chegar aos 40 anos, e com o apelido carinhoso de guerreira do samba, Clara Nunes resolveu fazer uma operação de varizes e o que parecia rotineiro, acabou se transformando em um grande drama, já que ela teve várias complicações operatórias e acabou entrando em coma e vindo a falecer no dia 2 de abril de 1983, há exatamente 32 anos.

 

 

 

 

Hoje, na sua cidade natal, existe o Instituto Clara Nunes, coordenado por sua irmã Maria Gonçalves, e um memorial com cerca de seis mil peças pessoais e artísticas cedidas por vários amigos, inclusive, o viúvo, Paulo César Pinheiro. 

Comentários
Assista ao vídeo