Colunistas - Heródoto Barbeiro

Parece, mas não é! Armas escondidas

9 de Junho de 2025
Foto: Divulgação

Ninguém podia imaginar o que continham aqueles caixotes de madeira. Os objetos embalados foram produzidos em segredo militar, transportados por trem e ca- minhão até o porto de destino. É importante que o inimigo não saiba da capacidade bélica e impeça o sucesso de uma operação que se inicia como resposta a uma gran- de potência militar. Contra a força, a razão, a criatividade e o empenho de conseguir a vitória. É mais do que uma disputa pela liderança geopolítica – é uma tentativa de ameaçar o adversário e mostrar que, por mais defesa que tenha, ele não tem condi- ções de verificar e fiscalizar qualquer movimentação que possa pôr em xeque a sua defesa natural. Pode parecer um filme de Hollywood, ou Bollywood, mas não é. É uma operação que custa dinheiro e precisa do máximo sigilo.

É um jogo que não pode ter perdedor. E os dois não podem ganhar simul- taneamente. Os jornalistas e veículos de comunicação são pegos de surpresa. As informações dos serviços secretos falharam, assim como falharam em 1941 quando o Japão se armou e atacou a base naval de Pearl Harbor. O impacto foi devastador no moral americana. Mas agora é diferente. O mundo todo acompanha as escaramuças de lado a lado e torcem para que o confronto não se torne uma guerra nuclear. Afinal, os arsenais estão abarrotados de ogivas capazes de acabar não só com o inimigo, mas com toda a população do planeta Terra. A ONU não tem condições de intervir. As potências têm o direito de veto no Conselho de Segurança e nada que possa con- trariar os seus membros avança.

Os caixotes são desembarcados e por fora uma inscrição em russo rotula a mercadoria como material plástico para drenagem de água. Os estivadores estranham que o plástico pese tanto, como se os tubos fossem de aço. Com o maior cui- dado, os comboios de caminhões avançam com carretas de 35 metros. A estrada não comporta – foi preciso reforçar as pontes, refazer as curvas fechadas e impedir que as populações próximas da estrada soubessem do que se trata. Apesar de todo cui- dado e segredo não dá para esconder centenas de técnicos, engenheiros e militares armados com armas russas. E que falam russo, e não espanhol. O líder da revolu- ção cubana, Fidel Castro, acompanha com entusiasmo a instalação de foguetes de médio alcance capazes de carregar bombas atômicas. Os mísseis têm alcance apro- ximado de 1.600 quilômetros e podem atingir a Casa Branca, em Washington, ou a Times Square, em Nova York. É um troco bem dado no imperialismo americano, que implantou um bloqueio à ilha quando falhou a tentativa de invasão de exilados cubanos da Flórida. Fidel está exultante, foi graças à pressão do Tio Sam que ele e seu regime se atiram nos braços do soviético. Os yankees só saberiam da instalação da base russa em Cuba quando fosse do interesse dos soviéticos. Por isso é preciso sigilo. Um avião espião americano voa em grande altitude sobre a ilha e manda fo- tos para o Pentágono. O presidente Kennedy é informado de que a Guerra Fria bate à sua porta. O avião é um U2, que não toca guitarra nem bateria.

Heródoto Barbeiro, professor e jornalista, é âncora do Jornal Novabrasil, colunista do R7, do Podcast. Apresentou o Roda Viva na TV Cultura, Jornal da CBN e Podcast NEH. Tem livros nas áreas de Jornalismo, História, Midia Training e Budismo. Grande prêmio Ayrton Senna, Líbero Badaró, Unesco, APCA, Comunique-se. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e midia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina”, www.herodoto.com.br.

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