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O Hamas chegou no Rio de Janeiro

3 de Novembro de 2023

Por Dr. Márcio Sérgio Christino

Quem acha que o fenômeno da violência no Rio de Janeiro se dá por conta da criminalidade erra. Esta fase passou. Agora estamos diante de uma Guerra Híbrida. Na visão norte-americana de Guerra Híbrida temos o confronto do Estado contra uma força organizada, pode ser ou não representada por uma força política, tal como o Hezbollah no Líbano. O Estado possui um corpo militar ou policial formal, estruturado hierarquicamente, um corpo com carreira própria e regras rígidas.

A Organização se compõe de uma milícia informal, flexível, eficiente, mas sem qualquer estrutura. A Organização usa da publicidade de suas ações e toma decisões sem levar em consideração fatores que ela própria não tenha como relevantes. Já o Estado é contido por formalismos e regramentos os quais está obrigado a responder. No Rio as forças do tráfico tomaram o lugar do Estado em algumas regiões, nas favelas mais precisamente. Neste território os serviços públicos ou concessionários estão sob controle do tráfico, o gás é distribuído apenas depois do pagamento de taxas e com permissão, obras são construídas e os alvarás foram substituídos pelo pedágio do tráfico, fiscalização pública não entra.

Os correios somente atuam com permissão. Crimes são julgados pelos Tribunais do Crime, via celular, e a pena geralmente é a morte. Até a água na praia tem que pagar taxa para o crime. O maior indicativo: sinal de televisão a cabo é por conta deles, o tal gatonet. A fiscalização é impossível, o acesso é vedado. Ações policiais são pontuais, a polícia “entra” no “território inimigo”, executa sua ação e sai. Resumo: constata-se a existência da Federação Narcotráfica do Rio de Janeiro - FNRJ, o Estado neste território somente fornece água e luz, o resto é com o tráfico. Qual a diferença entre o Hamas em Gaza e a FNRJ? É uma só, o Hamas tem objetivos políticos, a FNRJ apenas quer dinheiro. No resto, são idênticos. E como se combate a FNRJ? Simples: fazendo o Estado recuperar sua autoridade.

Para isto, todavia, é preciso mais do que soldados, o Estado tem de recuperar sua capacidade de impor sua autoridade, chega de cobrança de gás, do gatonet, da limitação aos correios, da fiscalização de obras, da venda de água na praia, o Estado deve ocupar o espaço que perdeu, incluindo bloqueios de celular em todos os presídios e remoção imediata das lideranças para os Presídios Federais. A corrupção policial tem que ser pesadamente reprimida. O resto é perfumaria.

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