Viver - Saúde

Posso operar varizes e logo em seguida viajar de avião?

24 de Junho de 2022

Apesar de não recomendado, é possível viajar de avião após recuperação completa do tratamento; porém, em casos em que não é possível desmarcar o voo, algumas dicas de movimentação das pernas podem ajudar

Recorrentemente pessoas que fazem procedimentos cirúrgicos para tratar as varizes têm dúvidas se podem ou não viajar de avião pouco tempo depois da cirurgia. Isso por que, como é de conhecimento geral, esse tipo de viagem pode trazer complicações àqueles que sofrem de varizes, especialmente se o trajeto for longo. O pior risco é da trombose dos viajantes, também conhecida como Síndrome da classe econômica. “Essa é uma doença rara, porém muito subestimada, considerando que a trombose pode acontecer até horas após o voo, quando a pessoa já está no seu destino”, explica a cirurgiã vascular e angiologista Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. “A viagem de avião aumenta esse risco porque permanecer muito tempo parado sem movimentar a panturrilha diminui a velocidade do sangue dentro dos vasos. Além disso, temos a pressurização da cabine e ar condicionado em geral, que causam uma desidratação com consequente aumento da viscosidade sanguínea (deixando o sangue mais grosso); também bebemos, em geral, pouco líquido para evitar visitas ao banheiro do avião, piorando a desidratação; algumas pessoas gostam de tomar um tranquilizante para dormir durante o voo (o que aumenta mais o imobilismo); e o uso de bebidas alcóolicas piora o quadro”, explica a médica. Por esse motivo, é necessário ter cautela com viagens após a operação de varizes, que já indicam um problema vascular.

Segundo score de Caprini, que determina o risco inerente de trombose, uma cirurgia recente, em menos de 30 dias, é considerada um fator de risco para trombose. Sendo assim, o ideal é que se aguarde um período de 30 dias após qualquer procedimento cirúrgico para fazer voos de longa distância, com duração maior do que 3 horas. Porém, caso a viagem não possa ser postergada, existem medidas que podem ser tomadas para minimizar o risco.  A questão deve ser conversada com o médico que acompanhou o quadro, mas, de modo geral, explica a cirurgiã vascular, o passageiro que operou das varizes não deve manter as pernas na mesma posição durante todo o trajeto. “Principalmente nas viagens mais longas, procure caminhar pelo corredor sempre que possível; use meias de compressão orientadas pelo médico; movimente os joelhos, panturrilhas, tornozelos e dedos dos pés; beba bastante líquido; evite roupas apertadas e jamais passe todo o tempo sentado ou de pernas cruzadas. Outras medidas podem ser indicadas pelo médico, como o uso de anticoagulantes. Por isso o ideal é perguntar sempre ao cirurgião vascular para que ele possa orientar devidamente as medidas a serem adotadas”, recomenda.

Hoje em dia existem diversos procedimentos menos invasivos para tratar as varizes, incluindo o ClaCs e o laser endovenoso, ambos com recuperação mais rápida. De acordo com a médica, o Clacs é um procedimento que une laser não-invasivo e injeções de glicose (e não há problema para diabéticos). “Após a utilização do laser, a glicose é aplicada na veia (que já está sensibilizada com o disparo do laser). O fluxo de sangue fica lentificado e permite que a glicose permaneça mais tempo em contato com o vaso — que vai secar”, explica. No geral, de uma a três sessões, com intervalos mensais, resolvem o quadro. A recuperação é mais rápida e exige apenas uma semana sem exposição solar. Já o laser Endovenoso é feito sem cortes: a veia é puncionada e uma fibra é colocada através de um introdutor dentro dela. “A ponta da fibra é posicionada na virilha (guiada por ultrassom). A outra extremidade da fibra é então conectada a um aparelho de laser ou radiofrequência que vai liberar uma energia que queima a veia”, conta. “A fibra então é retirada lentamente enquanto a veia vai sendo cauterizada em todo o segmento a ser tratado. O interessante é que a veia não é retirada, ela vai ser queimada e se transformar em um cordão fibroso (uma cicatriz) não participando mais da circulação das pernas”, comenta. A recuperação dura de quatro a seis dias, mas a liberação ou não para voos deve ficar a cargo do médico que realizou o procedimento e saberá pesar o risco envolvido nessa decisão.

Por fim, a médica ressalta que, por ser crônica e hereditária, a doença não possui cura definitiva e os tratamentos visam apenas o controle do problema, melhorando a qualidade da circulação e a aparência estética das pernas. “Os tratamentos atuam direto sobre a veia doente e são definitivos para aquela veia, já que esta é normalmente retirada ou destruída, então dificilmente voltará a ter fluxo de sangue. No entanto, pode acontecer de novas varizes surgirem ao longo dos anos em outros locais ou então até na mesma posição. Por isso, a adoção dos cuidados de prevenção é tão importante: evite o sobrepeso, se alimente de maneira saudável, não use sapatos desconfortáveis com frequência, não fume e fuja do sedentarismo”, finaliza. 

FONTE: Cirurgiã vascular e angiologista, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine. Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a médica participa, na Universidade de Harvard, de cursos de pós-graduação que ensinam ferramentas para estimular mudanças no estilo de vida nos pacientes em prol da melhora da longevidade e qualidade de vida. A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. http://www.alinelamaita.com.br/

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