O sutiã já foi peça indispensável no guarda-roupa (e na vida) das mulheres, mas, nos últimos anos, tem perdido espaço — principalmente entre as mais jovens. Os motivos para isso são diversos, mas um deles é quase uma unanimidade: o conforto — ou a falta dele.
A antropóloga Flávia Loschi, de 32 anos, nunca gostou do acessório, mas passou boa parte da juventude usando-o. "Ele me incomoda, a alça, embaixo do peito... me sinto presa. Na minha adolescência, era moda usar de sutiã de bojo, e eu acabava usando porque, naquela época, a gente queria ter peitos maiores. Mas, na verdade, eu sempre gostei de ter seios menores justamente para não ter de usar", conta.
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Flávia diz que, com o passar dos anos, principalmente durante a faculdade, conseguiu diminuir o uso do sutiã, mas ainda se sente "obrigada" a recorrer a ele em algumas situações. "Na maioria delas por causa dos homens, muito mais do que por mim, por eles não saberem se comportar e a forma de eles olharem me incomodar. Nesses casos, tenho usado top".
A paulistana Nathália Andrade, de 29 anos, que mora e trabalha como babá nos Estados Unidos, é mais uma que deixou o sutiã para trás pela questão do conforto, mas que vê a necessidade de usá-lo em certos momentos. O motivo é, mais uma vez, o comportamento masculino — e até de outras mulheres.
"Eu só uso no trabalho, na minha vida pessoal não. Já cheguei a trabalhar sem, mas me sinto desconfortável por causa do meu chefe. Tem pessoas aqui nos Estados Unidos que não contratam babás bonitas só porque elas são bonitas. Imagine se eu for sem sutiã... a mulher vai achar que eu estou querendo provocar o marido. E, nas vezes em que trabalhei sem, percebi que ela ficou incomodada".
A jornalista Mayara Simeão, de 24 anos, abandonou a peça por um tempo, mas, alguns anos depois, voltou a usá-la. Ela afirma que passou a sentir diferenças na estética dos seios. "Eles começaram a ficar mais flácidos e surgiu um leve 'caimento'. Isso me deixou mal, então eu voltei a usar". Hoje em dia, a jovem opta por modelos sem bojo, pois acredita que dão "uma liberdade tão grande quanto a de não usar".
Flávia também sentiu que as mamas mudaram, que estão "menos redondinhas", mas não tem certeza se isso é efeito da falta de sutiã ou da idade.
O que a medicina diz
"Essa questão não envolve saúde, e sim estética", esclarece o mastologista Alexandre Pupo Nogueira, do Hospital Sírio Libanês. Segundo o médico, o único impacto que não usar sutiã pode causar ao corpo é, no pior dos casos, "criar uma área de dobra que, por ser mais úmida e quente, pode causar aparecimento de fungos de pele". O restante depende de cada mulher e como ela se enxerga esteticamente. "Cada uma vê isso de um jeito próprio baseado em seus valores pessoais e culturais", diz.
O cirurgião plástico Wendell Uguetto, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, defende que a ideia de que não usar o acessório faz os seios caírem é "verdade em partes".
"Há vários outros fatores que podem levar a isso, como a idade, peso, tamanho da mama, alimentação, gestação, amamentação, efeito sanfona etc. Então, não há como cravar que a falta de uso do sutiã foi o motivo específico de alguém ter a queda".
O médico, no entanto, ressalta que, se compararmos mulheres que usam a outras que não usam, as que não são adeptas terão a queda mais acentuada.
Os especialistas afirmam que o tamanho dos seios interfere, sim, na estética a longo prazo, com ou sem o sutiã: quanto maiores, maior é o risco de cederem. "Sabemos que, quanto mais pesada a mama, maior a necessidade de suporte pelos ligamentos suspensores. Se esses ligamentos forem mais frágeis, ou as mamas muito pesadas, maior a probabilidade de queda delas", diz o mastologista.
"Quem tem as mamas mais volumosas tende a ceder mais facilmente. Para quem tem próteses de silicone, é um peso a mais nelas, por isso, recomendamos o uso do sutiã de sustentação. Quem tem os seios pequenos não tem tantos problemas com isso", garante o cirurgião.
Fonte: R7
