Cultura - Teatro

Chá e Catástrofe, obra de Caryl Churchill inédita no Brasil, estreia no Centro Cultural São Paulo

4 de Abril de 2019

Chá e Catástrofe é uma comédia dramática que se passa num quintal inglês onde quatro senhoras falam sobre o cotidiano. As conversas bem-humoradas são entrecortadas por visões apocalípticas que envolvem crimes ambientais, guerras químicas, fome e excessos humanos. Com estreia marcada para 5 de abril no Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000), a peça tem no elenco Clarisse Abujamra, Selma Egrei, Chris Couto e Agnes Zuliani, tradução de Eliana Rocha e direção de Regina Galdino.

O projeto foi contemplado na 7ª edição do Prêmio Zé Renato de Apoio à Produção e Desenvolvimento da Atividade Teatral para a Cidade de São Paulo. A montagem original de Churchill, considerada a mais importante dramaturga inglesa viva, estreou há três anos no The Royal Court Theatre, em Londres, com o título de Escaped Alone. Seu texto curto, minimalista e antiutópico traz uma análise da paranoia do mundo sob o ponto de vista de uma geração de mulheres que precedeu o Facebook e o iPhone, desnudando o isolamento das pessoas na sociedade moderna e a estupidez das agressões ecológicas provocadas pelo capitalismo. As proféticas tragédias, embora surrealistas, remetem facilmente à realidade da vida contemporânea.

A história se passa durante o chá da tarde de Vi (Selma Egrei), Lena (Chris Couto) e Sally (Agnes Zuliani), quando são surpreendidas pela intrusa e misteriosa Sra. Jarrett (Clarisse Abujamra), que entra no quintal por uma abertura na cerca. Nesse prosaico encontro serão reveladas, com ironia, as dificuldades de comunicação e a solidão, além dos dramas de mulheres mais velhas, entremeados por visões ambientais catastróficas.

Enquanto uma mulher revela seu segredo, que envolve o marido e uma faca de cozinha, outra desfia suas inúmeras razões para ter medo de gatos e outra mostra o bloqueio da depressão: o impacto disso sobre outras mulheres, suas filhas e netas, pode ser transformador. Apesar da ameaça perturbadora, naquele quintalzinho bucólico, elas desafiam com humor a escuridão do mundo lá fora.

A epígrafe do texto, "Só eu escapei para te trazer a nova", citação do Livro de Jó e de Moby Dick, é umas das chaves do espetáculo, segundo a diretora Regina Galdino. "Poderemos observar a dimensão claustrofóbica do cotidiano de três vizinhas pelo contraste com as visões extraordinárias de uma mensageira, uma sobrevivente.

O texto é muito moderno, extremamente entrecortado, tanto em seus diálogos quanto nos solilóquios apocalípticos, trazendo a musicalidade de diálogos pós-modernos e estabelecendo momentos muito divertidos e tocantes, que acentuam a incomunicabilidade dessas mulheres”, afirma a diretora. Ainda pouco conhecida no Brasil, apesar de seus 80 anos de vida e dos numerosos prêmios internacionais, Caryl Churchill acumula uma lista volumosa de sucessos no teatro: com 59 anos de carreira, escreveu mais de 30 peças, além de adaptações e peças radiofônicas. Segundo o dramaturgo alemão Marius von Mayerburg, "Churchill mudou a linguagem do teatro”, um elogio que só os grandes autores já receberam, entre eles Shakespeare, Tchecov, Ibsen, Brecht e Beckett.

Contemporânea de Harold Pinter, sua dramaturgia lida com temas feministas, abusos de poder e o vazio do mundo atual. Suas obras Top Girls, Cloud Nine, Serious Money, A Number e Far Way foram marcos da cultura inglesa moderna, abordando assuntos tão diversos como a clonagem, o sexismo, os impulsos de possuir e destruir, o capitalismo e a guerra. Sua escrita é lúdica, séria, engraçada, teatral, ousada, inovadora, poética, política, não naturalista e surreal. “A questão não é como Caryl Churchill influenciou a dramaturgia feminina, mas sim se há dramaturgo contemporâneo, homem ou mulher, que não tenha sido influenciado por sua obra”, escreveu a dramaturga April de Angelis para The Guardian. Eliana Rocha, tradutora e idealizadora do projeto, conta por que se interessou pelo texto: "Em 2016, eu procurava conhecer novas peças de teatro e me deparei com essa joia da dramaturgia inglesa.

O que me chamou a atenção foi o fato de Caryl ter escrito para quatro mulheres mais velhas. Comecei a ler e vi que a escrita vinha numa linguagem teatral muito contemporânea. Ela fala mais em quatro palavras do que outros dramaturgos dizem em quatro parágrafos. Frases entrecortadas ou sobrepostas, um pensamento que não se completa. Mas, quando li o primeiro monólogo da Sra. Jarrett, vi que aquela peça ia muito além de uma conversinha doméstica entre quatro amigas. O apocalipse não estava num futuro remoto. Sua presença já era visível no presente. Está à nossa volta.

E, apesar de tudo isso, havia humor ali”. A temporada de Chá e Catástrofe no Centro Cultural São Paulo vai até o dia 12 de maio, sextas e sábados às 21h e domingos às 20h. Sobre Caryl Churchill Caryl Churchill nasceu em Londres, Inglaterra, em 3 de setembro de 1938. Após a Segunda Guerra Mundial, sua família emigrou para Montreal, no Canadá, quando Churchill tinha dez anos. Voltou para a Inglaterra para frequentar a universidade e, em 1960, formou-se em Lady Margaret Hall, uma faculdade feminina na Universidade de Oxford, com licenciatura em literatura inglesa, onde iniciou sua carreira de escritora. Seus primeiros trabalhos foram desenvolvidos com técnicas brechtianas, utilizando o teatro épico para explorar questões de gênero e sexualidade.

A partir de 1986 começou a experimentar formas de teatro dança, incorporando técnicas performáticas iniciadas por Antonin Artaud com seu “Teatro da Crueldade”. Sua dramaturgia foi se tornando cada vez mais fragmentada e surrealista, caracterizando seu trabalho como pós-modernista. Em 1972 escreveu Owners, uma peça de dois atos e catorze cenários sobre a obsessão com o poder. Suas visões socialistas são expressas na peça, uma crítica aos valores que a maioria dos capitalistas valorizam: agressividade e progresso. Atuou como dramaturga residente no Royal Court Theatre de 1974 a 1975 e, mais tarde, começou a colaborar com companhias de teatro, como Joint Stock Theatre Company e Monstrous Regiment (um coletivo de teatro feminista). Sua primeira peça de grande sucesso foi Cloud Nine (1979), “uma farsa sobre política sexual”.

Ela explora os efeitos da mentalidade colonialista e imperialista nos relacionamentos pessoais íntimos e usa o elenco masculino para efeito cômico e instrutivo. A peça foi bem-sucedida na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, ganhando um Obie Award em 1982 como melhor peça do ano em Nova York. Também levou o Obie como melhor peça por Top Girls (1982), “que trata das mulheres que perdem sua humanidade para alcançar o poder em um ambiente dominado pelos homens”.

Entre suas peças mais recentes estão Ding Dong the Wicked (2013), Here We Go (2015), Pigs And Dogs (2016) e Escaped Alone (2016). Perfis Clarisse Abujamra (atriz) – Começou sua carreira como bailarina, dedicando-se à dança contemporânea e, por dez anos, manteve o Estúdio-Dança Clarisse Abujamra e a Cia Teatro Brasileiro de Dança, onde dirigiu e coreografou diversos trabalhos. Interessou-se pelo teatro, primeiro como coreógrafa, depois como atriz, produtora, diretora e tradutora de textos teatrais. Ao longo de seus 51 anos de palco, marcou presença na televisão como apresentadora e atriz de novelas e seriados.

Tem forte presença no cinema, que lhe rendeu prêmios em vários países por diferentes trabalhos. Entre outros, em teatro, dirigiu e atuou em Cenas de Uma Execução; atuou em Nove Partes do Desejo, direção de Márcio Aurélio; e, no cinema, em Como Nossos Pais, direção de Lais Bodansky, e em A Coleção Invisível, direção de Bernald Atal. Selma Egrei (atriz) – Formada pela Escola de Arte Dramática (ECA/USP), desde os tempos de estudante demonstrou talento sólido e versatilidade. Alguns de seus trabalhos em teatro foram: Hamlet, direção de Ron Daniels, Senhora Macbeth, direção de Antonio Abujamra, e Toca do Coelho, direção de Dan Stulbach. Atuou ainda nos filmes Aleluia Gretchen, O Anjo da Noite e Querida Mamãe.

No cinema, trabalhou com nomes de peso, como Sylvio Back, Eduardo Escorel, Teresa Trautman e Walter Hugo Cury, e, deste último, tornou-se musa junto com Lilian Lemmertz. Na televisão, entre os numerosos trabalhos, estão Sessão de Terapia (GNT) e na TV Globo: O Todo Poderoso, A Favorita, Um Só Coração, Pé na Jaca e O Astro, além da novela Velho Chico. Foi premiada com dois APCAs, Governador do Estado, Coca Cola de Teatro Infantil, Jornal Extra e também recebeu três indicações do Prêmio Shell. Agnes Zuliani (atriz) – Formada em História pela USP e em Teatro pelo Lee Strasberg Theater Institute, NYC, integrou durante dez anos o elenco fixo do projeto Terça Insana, dirigido por Grace Gianoukas. Participou do elenco dos filmes Boleiros e Uma Noite em Sampa, de Ugo Giorgetti, e Alô, de Maura Mourão. Na televisão, atuou em O Caçador, de Fernando Bonassi (TV Globo); A Garota da Moto, de Davi França (SBT/Mixer); Lendas Urbanas (Sentimental Filmes); e Hebe, de Mariana Kotscho (inédito). Entre os principais trabalhos no teatro estão Tarsila, de Maria Adelaide Amaral; No Alvo, de Thomas Bernhard; Caros Ouvintes, de Otávio Martins; Um Berço de Pedra, de Newton Moreno; Refluxo, de Angela Ribeiro; e, mais recentemente, Megera Domada, de W. Shakespeare, com dramaturgia e direção de Aimar Labaki.

Foi indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz por Boa Noite, Mãe, de Marsha Norman. Chris Couto (atriz) – Iniciou seus estudos como atriz no grupo de teatro O Tablado, no Rio de Janeiro. Na sequência, entrou para o Grupo Tapa, onde atuou em diversos espetáculos, dentre eles: O Tempo e os Conways; Solness, o Construtor; Executivos; e Retratos Falantes. Protagonizou o espetáculo Os Credores, de August Strindberg, sob direção de Eduardo Tolentino. Além do Grupo Tapa, atuou em mais de vinte peças de teatro, trabalhando com diretores como Zé Henrique de Paula, Caco Ciocler e Eric Lenate. Foi indicada ao Prêmio Shell por A Milionária, de Bernard Shaw, com direção de Thiago Ledier. Na televisão, além de apresentadora por nove anos na MTV Brasil e dois anos no programa Vídeo Show (TV Globo), participou de diversas novelas e seriados para a TV Globo, incluindo: Um Anjo Caiu do Céu; Desejos de Mulher; Eterna Magia; A Grande Família; e Som e Fúria, dirigido por Fernando Meirelles.

No cinema, trabalhou com os diretores Carlos Reichenbach, Beto Brant, Mauro Lima e Sergio Rezende. Atuou, ainda, no longa-metragem Uma Noite em Sampa, de Ugo Giorgetti. Fez participações nas séries Hebe e Ilha de Ferro 2, ainda inéditas. Entre seus últimos trabalhos na televisão, destaque para a novela Liberdade, Liberdade, onde fez a personagem Luzia; o siticom Quero Ter um Milhão de Amigos, exibido na Warner; e um episódio da série Motel, exibida na HBO. Eliana Rocha (tradutora) – Formou-se pela Faculdade Católica de Direito de Santos e pela Escola de Arte Dramática (ECA/USP). Paralelamente ao seu trabalho de atriz, trabalhou como revisora, tradutora e preparadora de textos para diversas editoras, como Abril (Revista Veja), Ática, Best-Seller, Brasiliense, Companhia das Letras, Unesp, Ediouro, Globo, Maltese, Nobel, Nova Cultural, Página Viva, Publifolha, Senac e Summus.

Entre seus trabalhos como autora estão a peça Em Defesa do Companheiro Gigi Damini, com Jandira Martini, e os livros Celso Nunes: Sem Amarras e Marcos Caruso: Um Obsessivo, para a Coleção Aplauso, além do romance Memórias de um tempo não vivido, pela Amazon Kindle. No teatro, entre seus trabalhos mais recentes como atriz, esteve no elenco de Gaiola das Loucas, de Jean Poiret, com direção de Miguel Falabella, e Volpone, de Ben Jonson, com direção de Neyde Veneziano. Na televisão, participou das cinco temporadas de Pé na Cova (TV Globo), de Miguel Falabella. Regina Galdino (diretora, iluminadora e cenógrafa) – Formada pela Escola de Arte Dramática (ECA/USP), dirigiu Casa de Bonecas – Parte 2, de Lucas Hnath, com Marília Gabriela, Luciano Chirolli, Eliana Guttman e Clarissa Kiste. Dirigiu, adaptou, iluminou e cenografou Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, com Marcos Damigo, e dirigiu e adaptou a montagem do mesmo texto com Cassio Scapin.

No teatro, entre outros, dirigiu: Operilda na Orquestra Amazônica, de Andréa Bassitt, premiado com o APCA de Melhor Musical Infantil; O Jovem Príncipe e a Verdade, de Jean-Claude Carrière, com Leonardo Santiago, Gerson Steves, Daniel Costa e Amanda Banffy; Intimidade Indecente, de Leilah Assumpção, com Irene Ravache e Marcos Caruso; As Pontes de Madison, de Robert James Waller, com Denise Del Vecchio e Marcos Caruso; As Turca, de Andréa Bassitt, com Cláudia Melo, Juçara Morais e Andréa Bassitt; e Macbeth, de W. Shakespeare, com Evandro Soldatelli, Renata Zanetha, Imara Reis e Jorge Cerrutti. Dirigiu, é coautora e cenógrafa de Filhos do Brasil (Prêmio Shell de Melhor Música) e As Favoritas do Rádio, com Andréa Bassitt e Luciana Carnielli, premiado na Jornada Sesc. Foi assistente de direção de Gianni Ratto e Myrian Muniz. Para o teatro lírico, dirigiu a ópera Idomeneo, de Mozart, no Teatro Municipal de São Paulo, com regência do maestro Rodolfo Fisher. Dirigiu e iluminou Os Saltimbancos, concerto sinfônico com a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e o coral de cem crianças da EMESP, com regências das maestrinas Mônica Giardini e Regina Kinjo.

É uma das criadoras, em parceria com o maestro João Maurício Galindo e o ator Cassio Scapin, da série Aprendiz de Maestro, para a qual dirigiu espetáculos de autoria de Andréa Bassitt para a série infantil TUCCA, por nove anos, na Sala São Paulo.

Ficha Técnica

Autora: Caryl Churchill. Tradução: Eliana Rocha. Elenco: Clarisse Abujamra, Selma Egrei, Chris Couto e Agnes Zuliani. Direção: Regina Galdino. Trilha Sonora: George Freire e Daniel Grajew. Figurino: Eliana Rocha. Iluminação e Cenografia: Regina Galdino. Assistência de Direção: Agnes Zuliani. Operação de Luz e Som: Márcio Lima. Camareira e contrarregra: Elisa Galdino. Assessoria de Imprensa: Júlia Ramos. Mídias Sociais: Julia Ramos e Andréa Bassitt. Fotos: João Caldas Filho. Programação Visual: Vicka Suarez. Imagem do telão cenográfico: Chema Madoz. Direção de Produção: Andréa Bassitt. Realização: Scena Produções Artísticas, Prêmio Zé Renato de Teatro e Secretaria Municipal de Cultura.

Serviço

Chá e CatástrofeCentro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho (Rua Vergueiro, 1.000 - Paraíso)

Temporada: 5 de abril a 12 de maio

Horários: sextas e sábados às 21h e domingos às 20h

Duração: 50 minutos.

Gênero: comédia dramática.

Classificação: 14 anos.

Lotação: 321 lugares.

Ingressos: R$ 20 (inteira) | R$ 10 (meia)

Telefone: 3397-4002

Bilheteria: terça a sábado, das 13h às 21h30, e domingos, das 13h às 20h30 Vendas online: Ingresso Rápido, vendas a partir de 30 dias antes do evento no site  www.ingressorapido.com.br Preço popular: R$ 3,00 (dia 14/4, domingo) – serão vendidos apenas dois ingressos por pessoa, na bilheteria do CCSP, que será aberta uma hora antes do início do espetáculo – os ingressos não estarão disponíveis pela internet

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