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Caso de jovem queimada escancara o machismo que mata

8 de Março de 2019

Ela não estava habituada a beber. Na companhia do namorado, foi a um churrasco, entrou numa brincadeira de virar shot e não se sentiu bem. Isabela Miranda de Oliveira foi levada pelas amigas para um quarto, na chácara onde ocorria o evento. Antes, tentaram dar um banho na moça para reanimá-la, mas Isabela estava desacordada.

 

Neste estado, apagada, ao que tudo indica, ela teria sido abusada sexualmente por Leonardo, cunhado de seu namorado, Willian Felipe Alves. Ao ver a cena, o rapaz concluiu que a garota o estava traindo, espancou, queimou e matou a jovem de 19 anos. 

Ele teria tentado fugir do local, mas foi impedido pelo caseiro da chácara. Willian foi detido e teve a prisão temporária convertida em preventiva.

O roteiro do feminicídio do qual Isabela foi vítima fica ainda mais escabroso quando se tem a notícia de que, no boletim de ocorrência do caso, não há uma palavra sobre o suposto estupro cometido por Leonardo, o marido da irmã de Willian Felipe Alves.

Em mais um caso de "amnésia", ele disse em depoimento que não se recordava de nada e não soube explicar porque estava sem roupas na cama com Isabela.

Segundo familiares da jovem, ela teria sido abusada sexualmente pelo cunhado, o namorado flagrou a cena, achou que o ato fosse consensual, espancou Isabela e, em seguida, ateou fogo. Testemunhas disseram que o cunhado também teria sido agredido pelo namorado da vítima. 

O feminicídio de Isabela Miranda de Oliveira escancara esse machismo que mata todos os dias. O namorado "viu" traição onde havia estupro e achou que isso era motivo para espancar e matar a jovem. Isabela foi duplamente violentada. Vulnerável que estava, teria sido atacada sexualmente sem a menor chance de defesa. E, diante da cena, o namorado preferiu achar que ela era "culpada" e não vítima. Como tantos machos por aí, Willian é do tipo que acredita que uma "traição" deve ser punida com morte. 

É tudo tão perturbador que, em pelo Dia Internacional da Mulher, o caso ganha contornos ainda mais tristes. Mostra, de forma transparente, como ainda estamos longe de conseguir respeito pleno à vida das mulheres. Um homem mata por achar que foi traído, querendo vingança, quando a sua namorada possivelmente havia sido vítima de um estupro, cometido por um cara da sua família.

Enquanto existir um só macho agindo assim, não é possível comemorar nada. Isabela é só mais uma em uma estatística estarrecedora. Levantamento realizado pela Folha de S.Paulo, e divulgado neste 8 de março, revela que 71% das mulheres vítimas de feminício e tentativas do crime foram atacadas pelo companheiro ou pelo ex. Foram analisadas 119 mortes ocorridas só em janeiro deste ano, mais 60 tentativas. Não aceitar o fim do relacionamento é a principal motivação para a violência, além de ciúmes e suposta traição. Até quando? 

Fonte: R7 | Deborah Bresser

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