Colunistas -

Brain Drain

26 de Outubro de 2018

Por Rubens Menin Teixeira de Souza

Usei deliberadamente a expressão inglesa no título desse depoimento, em substituição à equivalente “drenagem de cérebros” da nossa bela língua portuguesa, porque é com ela que o fenômeno tem sido reconhecido e interpretado neste mundo globalizado atual. O Brasil, de forma muito mais marcante do que qualquer outro país de características e dimensões semelhantes, está assistindo, atônito, um movimento sem precedentes de fuga de cérebros para o exterior, entendidos estes como a identificação de indivíduos mais qualificados e melhor educados, ainda nos estágios iniciais de sua vida produtiva. Alguns tentam minimizar as dimensões e os efeitos danosos dessa evasão de cérebros apontando a existência de outros exemplos históricos que podem parecer semelhantes à primeira vista, como a densa emigração da elite indiana para a Inglaterra ou a mais recente invasão de chineses nas universidades e nos melhores postos de trabalho dos EUA e da Europa. Mas, não são fluxos comparáveis aos originários do Brasil.

Como brasileiro enraizado que sou – daqueles que nunca se imaginaram deixando o nosso país – tenho refletido muito sobre isso, para constatar as diferenças das situações que se tenta equivocadamente comparar. Os indianos antes e os chineses mais recentemente buscavam as universidades e a experiência no mercado de trabalho de países mais desenvolvidos não com o propósito de imigração permanente ou de integração definitiva às comunidades que os recebiam. Preponderantemente, esses contingentes, citados como exemplo de comparações equivocadas, buscavam experiências, treinamento e capacitação superiores para aplicá-los em seu próprio país de origem, após o seu retorno. Tanto assim, que a maioria desses fluxos foi estimulada oficialmente ou até custeada pelos respectivos governos.  A evasão de cérebros brasileiros tem características muito diferentes na maioria dos casos. Estes, não buscam um aprendizado temporário e nem costumam programar o seu retorno. Um grande número deles já parte disposto a se integrar aos países para onde vão, abertos à constituição de famílias por lá e admitindo, freqüentemente, a aquisição de nova nacionalidade.

Observo esse movimento com muita preocupação, não só pelas causas que associo ao êxodo, como também, e principalmente, pelos efeitos que ele produz na nossa própria economia. Identifico na raiz do problema e na motivação desse movimento, certo sentimento de desalento entre os jovens brasileiros ou mesmo entre alguns mais maduros e melhor qualificados. Para estes, o sentimento dominante é de que, permanecendo no Brasil seriam subaproveitados, perderiam as melhores oportunidades profissionais ou teriam pior qualidade de vida, para si e para os seus filhos. Muito desse desalento teria sido potencializado pela longa crise econômica que atravessamos e pela falta de perspectiva imediata de superação harmoniosa das dificuldades dela decorrentes. Mais graves ainda são os efeitos desse fluxo. A evasão de cérebros complica mais ainda o nosso já crítico panorama econômico. De um lado, porque, junto com os cérebros evadem-se também os grandes investimentos feitos na sua formação, ou seja, perde-se o esforço nacional aplicado na caríssima educação de boa parte deles. Esse investimento produzirá benefícios no exterior e, quase sempre, pelo longo período produtivo esperado daqueles que ainda terão uma vida inteira pela frente. Essa conta deixa, dentro das nossas fronteiras, um déficit irrecuperável. Mas, o prejuízo maior é que esses cérebros que se evadem representam, justamente, o fator necessário para que a nossa fragilizada economia volte a se recuperar e alcance padrões superiores de produtividade e desenvolvimento. Lamentável isso.

Quero concluir esse depoimento com a constatação que faço acerca de um fenômeno subsidiário, mas extremamente importante na minha visão. Identifico como causa básica para o sentimento de desalento desses cérebros fujões, a inexistência de um “propósito nacional”, ou seja, de um objetivo comum capaz de empolgar todos os brasileiros ou a sua expressiva maioria, como uma força motivadora que possa unir harmonicamente os diversos estratos nacionais, neste país tão polarizado e dividido. Para deter essa evasão, temos que, antes de qualquer outra providência, buscar a convergência de propósitos e interesses, no campo político e doutrinário. E passarmos a considerar, novamente, o nosso país como sendo a terra de oportunidades para uma vida próspera e feliz, situação a ser perseguida como propósito principal de todos os brasileiros unidos em fraternal harmonia. Não há receita alternativa.

 

Rubens Menin Teixeira de Souza - fundador e presidente do Conselho de Administração da MRV Engenharia

 
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