Viver - Saúde

Melatonina: muito mais que um regulador do sono

16 de Outubro de 2018

Por Dr. Bruno Cosme

A melatonina é um hormônio secretado pela glândula pineal no cérebro e tem a função de induzir o sono. Quando escurece, a produção de melatonina sobe. Entretanto, diante do uso habitual de aparelhos eletrônicos no período noturno é frequente nos depararmos cada vez mais com pacientes com insônia, pois a luz presente no meio ambiente à noite ( celulares, computadores, televisão, tablets, leds) pode bloquear completamente a sua síntese. O que pode estar associado a uma ampla gama de doenças e envelhecimento precoce. Se você quer ter saúde é fundamental ter um bom sono reparador.  Quem dorme pouco e mal tem maiores chances de ter diabetes, obesidade, câncer, depressão e de morrer prematuramente.

Para que você tenha uma ideia da importância do sono, um estudo publicado no British Medical Journal mostrou que mulheres que trabalham em períodos noturnos, durante longos períodos de suas vidas, tem 2 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama. Já o American Journal of Epidemiology demonstrou que homens que trabalham a noite tem mais risco de desenvolver cânceres de próstata, reto, pâncreas, bexiga e de pulmão. Pesquisadores de ambos os estudos chegaram à conclusão de que o trabalho noturno afeta a produção de melatonina e isso facilitaria o surgimento de tumores.

Reprodução: Record News
 

Quando falamos no uso clássico da melatonina para regular o sono, sabemos que é bem mais vantajosa quando comparada a medicamentos de tarja preta usados com essa finalidade. Isso devido ao fato do hormônio não possuir efeitos colaterais agressivos, não causar dependência ou tolerância. Todavia atenção, doses incorretas podem atrapalhar ainda mais o seu sono e apenas uma parcela dos distúrbios do sono pode ter benefícios com o seu uso. ,Portanto nunca tomar sem indicação e orientação médica.

Importante frisar que a suplementação de melatonina não está relacionada a feedback negativo ( quando a suplementação causa redução na produção própria do organismo). Ou seja, o seu corpo não irá parar de produzir o hormônio em decorrência da suplementação.

Muitas pessoas acreditam que o uso da melatonina é restrito aos distúrbios do sono, porém isso não é verdade. Dado o enorme avanço nas pesquisas sobre o seu papel fisiológico, o uso na clínica médica tem se expandido enormemente, ainda que, em muitos casos, esteja em fase de experimentação clínica. Assim, a melatonina tem sido usada no tratamento de certos tipos de enxaqueca, em distúrbios depressivos, como um coadjuvante no tratamento antitumoral e/ou antimetastático, como um poderoso agente limitador das lesões pós-isquêmicas cerebrais, em doenças metabólicas e síndrome do ovário policístico, doenças do espectro do autismo, síndrome de déficit de atenção e hiperatividade.

Irei destacar aqui uma das mais importantes funções da melatonina e das menos conhecidas, o de importante papel na regulação do metabolismo energético/peso corporal. Assim, animais ou indivíduos que apresentam ausência ou redução da produção de melatonina desenvolvem resistência insulínica, intolerância à glicose, distúrbios na secreção de insulina, dislipidemia, distúrbios do balanço energético e obesidade.  

É isso mesmo que você acabou de ler: a ausência ou redução na produção de melatonina está amplamente associada ao surgimento da obesidade. Portanto, tratar o sono deve ser passo primordial e indispensável no processo de perda de peso. E atenção aos pais: crianças com televisão no quarto e que mais se expõe à eletrônicos no período noturno, tem chances muito maiores de ficarem obesas.

Entenda que há evidências sólidas mostrando que a melatonina age regulando cada uma das etapas do balanço energético: a ingestão alimentar, a capacidade de armazenamento de gordura e o dispêndio energético. A melatonina regula a ingestão alimentar, reduzindo-a, ainda que ligeiramente; regula a produção e secreção de insulina, glucagon e cortisol, organizando, assim, o fluxo das reservas energéticas que entram e saem do tecido adiposo; e, mais importantemente, aumenta o dispêndio energético, elevando a massa, a atividade do tecido adiposo marrom ( uma gordura do bem que auxilia na perda de peso) e aumentando o escurecimento (browning) do tecido adiposo branco. Pode , portanto, ser visto como mais um fator hormonal antiobesogênico. Aposto que você não sabia dessa!

A melatonina sintética é vendida na maioria dos países como suplemento alimentar e é preciso se atentar aos aditivos presentes em sua fórmula. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) liberou, em 2016, o hormônio na forma de medicamento manipulado e sob prescrição médica. Existem formulações de absorção sublingual, via oral e de liberação prolongada, dependendo do objetivo desejado.

Espero que, após esses esclarecimentos, você valorize mais uma boa noite de sono reparador. Veja que na nova medicina do estilo de vida, os bons hábitos são fundamentais para preservar a saúde e a longevidade. Tenham bons sonhos.

Dr. Bruno Cosme, médico nutrólogo
 
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