Cultura - Teatro

KIEV

24 de Julho de 2017

O ano de 2017 marca o centenário da Revolução comunista na União Soviética. Neste contexto, o espetáculo KIEV propõe uma reflexão incontornável acerca do período stalinista, através da história de uma família que volta à Rússia após a queda do regime e encontra sua antiga casa prestes a ser demolida para transformar-se no estacionamento de um Shopping Center. Diante da piscina apodrecida, repleta de cadáveres de presos políticos, o retorno ao lar condenado traz à tona os fantasmas do totalitarismo. A obra é um drama histórico que, pelo recorte específico que aborda, alcança dimensões trágicas.

Divulgação 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escrita por Sergio Blanco exatos 100 anos após O JARDIM DAS CEREJEIRAS (1904) de Anton Tchekov, o texto nos mostra o que teria acontecido com os descendentes da família burguesa que adquiriu uma das casas construídas pelo personagem “Lopakhine” sobre as cerejeiras cortadas.

Em Tchekov, observamos a derrocada do czarismo, da escravidão e da alienada aristocracia russa, assim como a ascensão da burguesia, em paralelo ao crescimento do movimento político que culminaria na Revolução de 1917.

Em Blanco, vemos que a casa burguesa foi utilizada durante o regime stalinista como centro de tortura de presos políticos; e que agora (com o fim da União Soviética) será demolida para a construção de um estacionamento de Shopping Center, decorado com um falso jardim de cerejeiras, composto por árvores de plástico (eis a escalada do simulacro, da repetição como farsa...). E percebemos também que os ideais da Revolução Russa se corromperam em um regime totalitário, cujas vítimas encontram-se amontoadas na piscina putrefata da casa – que será convenientemente soterrada com a construção do Shopping.

KIEV se propõe a visitar, como um balanço do século XX, os milhões de assassinatos perpetrados pelo czarismo, pelo comunismo e pelo capitalismo – como se, independente dos sistemas políticos, a História da humanidade se desenhasse como uma perpétua acumulação de cadáveres. O terrível é que, aos insuportáveis atos da tortura e do assassinato, vemos suceder algo igualmente bárbaro: a negação e o apagamento do passado por nossa deliberada amnésia contemporânea.

”A sombra totalitária está presente em todos os projetos políticos, sejam de direita, sejam de esquerda – porque está presente em cada um de nós. Ou nos tornamos conscientes de nossa sombra ou ela termina por nos engolir.
Nenhum discurso ou ativismo ideológico nos exime da necessidade de um autoconhecimento profundo sem o qual toda ação política acabará fatalmente por se corromper.

No período pré-revolucionário, uma série de artistas – como o poeta Maiakovski, o encenador Meyerhold, o pintor Malevich, o escultor/arquiteto Tatlin, o dramaturgo Gorki, entre muitos outros, lutaram para que o comunismo se instaurasse; eram – todos eles – declarados revolucionários. Mas quando Stalin assumiu o comando do país, estes artistas foram perseguidos e obliterados em seus trabalhos, presos e torturados, e muitos foram assassinados ou cometeram suicídio.

Uma vez no poder, os ideais comunistas se transfiguraram em violentas normatizações no que se refere ao modo como se devia fazer obras de arte,
e qualquer artista que não cumprisse rigorosamente as determinações do governo soviético era sistematicamente atacado.

Dois exemplos (entre incontáveis outros):

- Gorki foi impedido de viajar para fora da URSS, depois proibido de sair de sua casa, onde morreu (segundo Trotski, envenenado por seus médicos a mando de Stalin) confinado pela mesma Revolução que ajudara a fomentar com suas peças;

- Meyerhold foi proibido de dirigir espetáculos (e sua mulher – e principal atriz de suas obras – foi assassinada com dezenas de facadas por agentes do governo), depois foi preso e torturado, até ser finalmente fuzilado por ordem direta de Stalin.

(Mencionei aqui apenas o modo como os artistas eram tratados durante o regime comunista, mas o sangue de milhões de seres humanos tinge a bandeira da extinta União Soviética...)”

Roberto Alvim

“O objetivo de KIEV será o de revelar aquilo que permanece oculto: tornar visíveis aquelas imagens relegadas à obscuridade. Esse é também o objetivo de minha obra como um todo – minha arte poética consiste na necessidade de reivindicar a revelação do oculto, do inominável, do proibido...”.

Sergio Blanco

 

Sesc Ipiranga (200 lugares)

Rua Bom Pastor, 822

Telefone: (11) 3340.2000 | www.sescsp.org.br/ipiranga

Bilheteria: De terça a sexta das 12h às 21h, sábado das 10h às 21h30 e domingo e feriado das 10h às 18h (ingressos à venda em todas as unidades do Sesc e pelo Portal Sesc SP www.sescsp.org.br). Não tem estacionamento.

Sextas e Sábados às 21h

Domingo e feriados às 18h

*Não haverá sessão dia 01/09*

**Haverá sessão extra no feriado do dia 07/09, quinta, às 18h**

Ingressos:

R$ 30

R$ 15 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante)

R$ 9 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes)

Duração: 60 minutos.

Recomendação: 14 anos

Estreia dia 04 de Agosto de 2017

Curta Temporada: até 10 de Setembro

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